O procurador-geral dos Estados Unidos, Merrick B. Garland, designou um conselheiro especial que terá a responsabilidade de supervisionar as investigações criminais sobre a participação do ex-presidente Donald Trump na retenção de informações sensíveis à segurança nacional e na insurreição que levou à invasão do Capitólio, em 6 de janeiro de 2021. O escolhido é Jack Smith, um ex-promotor de carreira do Departamento de Justiça e ex-procurador-chefe da Corte Especial de Haia (Holanda), onde trabalhou na elucidação de crimes durante a guerra do Kosovo, entre fevereiro de 1998 e junho de 1999. O anúncio de Garland ocorre três dias depois de o magnata republicano lançar a pré-candidatura à Casa Branca e, segundo especialistas, pode complicar os planos do retorno ao poder.
Mitchell Epner, ex-procurador federal e advogado na firma Rottenberg Lipman Rich P.C. (em Nova York), afirmou ao Correio que a decisão de Garland de apontar um conselho especial intensifica a exposição criminal do ex-presidente. "Essencialmente, haverá um promotor específico para investigar Trump. Por sua vez, o conselheiro vai liderar todos os inquéritos, incluindo a posse de documentos secretos em sua residência de Mar-a-Lago; abusos fiscais; e o incentivo à invasão ao Capitólio, em 6 de janeiro de 2021", explicou. "Espero que Trump buscará demonizar o conselheiro especial." De acordo com Epner, a nomeação de Jack Smith coloca o caso nas mãos de um promotor discreto, o qual havia processado crimes de guerra em Kosovo.
Por sua vez, Roland Riopelle — ex-procurador federal para o Distrito Sul de Nova York — avalia a nomeação de Jack Smith como um exemplo de "cuidado extremo" de Garland na condução do processo. "Ele está preocupado que, caso indicie Trump, isso seja visto como uma manobra política. Ao apontar um conselheiro especial, está fazendo tudo o que pode para evitar a argumentação de que uma acusação tenha motivação política. Agora, Garland pode alegar que um conselheiro especial neutro tomará essa decisão", disse à reportagem.
Riopelle interpreta o anúncio de Garland como um sinal de que o procurador-geral acredita que o indiciamento de Trump seja uma medida adequada e iminente. "É provável que ocorra antes das eleições de 2024. Se eu estiver certo, ficará muito mais fácil para o Partido Republicano rejeitar o ex-presidente", observou.
Para Allan Lichtman, historiador político da American University (em Washington), Garland quis afastar as investigações de Trump da política partidária. Por isso, segundo ele, o chefe do Departamento de Justiça escolheu um promotor respeitado, com experiência doméstica e internacional, sem conexões com partidos. "A nomeação de Smith é uma notícia ruim para Trump, pois mostra que as investigações estão em andamento e são levadas a sério. A vantagem para o ex-presidente é que o inquérito do conselho especial pode se arrastar por anos. No entanto, tanto Garland quanto Smith indicam que as investigações do conselheiro especial prosseguirão imediatamente, visto que muito do trabalho está completo", afirmou ao Correio. Ele lembrou que o ex-procurador especial Robert Mueller indiciou Trump em menos de seis meses.