Guerra na Ucrânia

Rússia acusa Ucrânia por explosão de míssil na Polônia

O presidente polonês, Andrzej Duda, afirmou à imprensa que é "muito provável" que o míssil partiu da defesa ucraniana

Przewodow, Polónia- A Rússia acusou nesta quarta-feira (16/11) a Ucrânia pela queda de um míssil na Polônia que provocou duas mortes, um incidente que segundo o governo polonês provavelmente foi provocado pelos sistemas de defesas aérea de Kiev em uma tentativa de contra-atacar as ações de Moscou.

O míssil, que caiu na terça-feira em uma instalação de secagem de cereais, deixou a cidade de Przewodow em estado de choque e provocou o temor internacional de uma possível escalada do conflito.

Os embaixadores dos países membros da Otan participaram em uma reunião de emergência em Bruxelas, depois que a Polônia - país membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte - colocou seus militares em alerta máximo e convocou o embaixador da Rússia.

O presidente polonês, Andrzej Duda, afirmou à imprensa que é "muito provável" que o míssil partiu da defesa ucraniana: "Absolutamente nada indica que isto foi um ataque intencional contra a Polônia (...) É muito provável que tenha sido um foguete usado pela defesa antimísseis, o que significa que foi utilizado pelas forças de defesa da Ucrânia".

O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, afirmou que a organização não dispõe de indícios que apontem um ataque deliberado à Polônia.

"Nossas análises preliminares sugerem que o incidente foi provavelmente provocado por um míssil do sistema ucraniano de defesa antiaérea para defender o país de mísseis russos", disse Stoltenberg após a reunião dos embaixadores.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, também afirmou que era "pouco provável" que o míssil tenha partido da Rússia, enquanto o Kremlin declarou que não tem "nada a ver" com o ocorrido.

"Os destroços encontrados na Polônia foram identificados de forma categórica por especialistas russos (...) como elementos de um míssil guiado antiaéreo de sistemas de defesa antiaérea S-300 das Forças Armadas ucranianas", afirmou o ministério da Defesa russo em um comunicado.

"Os ataques de alta precisão foram executados na Ucrânia a uma distância superior a 35 km da fronteira Polônia-Ucrânia", acrescenta a nota.

O ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmitro Kuleba, havia descartado como "teoria da conspiração" a ideia de que poderia ser um míssil ucraniano.

O impacto do míssil aconteceu na localidade de Przewodow durante a tarde de terça-feira e matou dois trabalhadores agrícolas.

"Não dormi a noite toda", disse Anna Magus, 60 anos, professora de uma escola do ensino básico da cidade. "Espero que tenha sido um míssil perdido, porque em caso contrário estamos indefesos", acrescentou.

A polícia isolou o local da explosão.

- G20 pede calma -


Em Bali (Indonésia), onde aconteceu a reunião de cúpula do G20, os líderes ocidentais afirmaram que ninguém deveria fazer análises precipitadas. A China pediu "calma e moderação, enquanto o chefe de Governo da Alemanha, Olaf Scholz, fez um alerta sobre o perigo de "conclusões apressadas".

Em um discurso por videoconferência, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, afirmou que o ataque à Polônia era "uma mensagem da Rússia à reunião de cúpula do G20".

O vice-ministro polonês das Relações Exteriores, Pawel Jablonski, também pediu cautela, mas declarou à rádio RMF que "é muito provável que enfrentemos as consequências das ações da Rússia".

Ele também respondeu às críticas a respeito das defesas da Polônia e alegou que nenhum sistema de defesa antimísseis é 100% eficaz.

A Polônia organizou na terça-feira uma reunião de emergência do Conselho de Segurança Nacional e convocou o embaixador de Moscou para apresentar "explicações detalhadas imediatas".

O governo também aumentou o "status de preparação de algumas unidades de combate e outros serviços".

- Compromisso da Otan -


A Rússia invadiu a Ucrânia em 24 de fevereiro e ocupa partes do território do país vizinho, apesar de uma série de derrotas nos últimos meses.

A Polônia, que compartilha uma fronteira de 530 quilômetros com a Ucrânia, assumiu a liderança regional ao fornecer ajuda militar e humanitária ao vizinho do leste e anunciar sanções contra a Rússia.

O conflito provoca um profundo mal-estar na Polônia, onde a recordação do domínio soviético está muito presente.

A Polônia está protegida pelo compromisso de defesa coletiva da Otan, consagrado no artigo 5 de seu tratado de fundação, mas as respostas da Aliança depende das conclusões da origem do incidente.

A explosão aconteceu depois de um grande ataque de mísseis russos na terça-feira contra cidades de toda Ucrânia, incluindo Lviv, perto da fronteira com a Polônia.

Zelensky disse que os ataques cortaram o fornecimento de energia elétrica das casas de quase 10 milhões de pessoas, mas poucas horas depois anunciou o restabelecimento do serviço para oito milhões. Também provocou a interrupção automática em duas centrais nucleares.

A próxima semana será "difícil" para os moradores da região de Kiev, advertiu o governador Oleksiy Kuleba.

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