Afeganistão

Talibã volta a aplicar versão mais rigorosa da lei islâmica

A aplicação da sharia inclui execuções públicas, apedrejamento, chicotadas e amputação como punição para ladrões

"A vida por aqui é como alguém pisando sobre sua garganta e pedindo a você para respirar. O Talibã rouba as vidas das pessoas para impor sua vingança." Foi dessa maneira que um morador de Cabul, sob a condição de preservar o anonimato, definiu ao Correio o retorno do Afeganistão aos tempos mais sombrios. A milícia fundamentalista islâmica que voltou a governar o país anunciou o retorno da aplicação da versão mais estrita da sharia (lei islâmica).

"Sua Alteza Amir al-Mu'minin, em uma reunião com os juízes, ordena: examinem cuidadosamente os casos de ladrões, sequestradores e rebeldes. Nos casos em que todas as condições da sharia forem cumpridas, vocês são obrigados a implementá-la", escreveu o porta-voz do Talibã, Zabihullah Mujahid, no Twitter.

"Esta é a decisão da sharia, e meu comando é obrigatório", acrescentou, em referência a Hibatullah Akhundzada, líder supremo do grupo. A reportagem tentou contato com Mujahid ontem, por meio do WhatsApp, mas não obteve resposta. Entre os crimes passíveis de punição estão adultério, falsas acusações de delito, consumo de álcool, roubo, apostasia e rebelião. 

A aplicação da sharia inclui execuções públicas, apedrejamento, chicotadas e amputação como punição para ladrões. Em 2 de janeiro passado, ao ser questionado pelo Correio sobre a restauração da pena de morte e das execuções públicas, Suhail Shaheen — então porta-voz do Talibã e hoje chefe do Escritório Político do grupo em Doha (Catar) — disse que o povo afegão tem suas leis islâmicas, que "se baseiam na justiça". 

"Elas serão estabelecidas com base nas aspirações dos afegãos. Temos um sistema judicial dotado de tribunais primários, de uma Suprema Corte e de uma Corte de Cassação. Uma pessoa poderá apelar à Suprema Corte e, se não estiver satisfeita, recorrer à Corte de Cassação. É um sistema bastante justo, baseado na sharia (lei islâmica)", observou, sem responder diretamente a pergunta. 

Inferno

O morador de Cabul, um jornalista, advertiu que o número de suicídios tem aumentado no país. "Acho que para aqueles que são democratas, o Afeganistão será um inferno, e lidar com essa situação é como experimentar a morte lenta." Ele lembra que, durante o primeiro governo do Talibã (1996-2001), o Talibã instilou pânico e medo entre os cidadãos. "Nunca vi execuções públicas, mas escutei o chamado dos talibãs para que as pessoas fossem assistir a uma performance de hudud contra dois garotos." O hudud é um conceito islâmico de punições que, sob a sharia, são obrigatórios e estabelecidos por Alá.

Na segunda metade dos anos 1990, o Talibã usou mão de ferro para punir supostos criminosos e chegou a lotar estádios para execuções públicas coletivas — muitas delas por fuzilamento, enforcamento ou apedrejamento. 

Newsletter

Assine a newsletter do Correio Braziliense. E fique bem informado sobre as principais notícias do dia, no começo da manhã. Clique aqui.

Cobertura do Correio Braziliense

Quer ficar por dentro sobre as principais notícias do Brasil e do mundo? Siga o Correio Braziliense nas redes sociais. Estamos no Twitter, no Facebook, no Instagram, no TikTok e no YouTube. Acompanhe!

 

Saiba Mais