Um ex-engenheiro da Marinha dos EUA e a mulher foram condenados na quarta-feira (09/11) pela Justiça americana por tentar vender segredos militares a um país estrangeiro não especificado — que, de acordo com fontes do jornal americano New York Times, seria o Brasil.
Jonathan Toebbe, de 44 anos, trabalhava no gabinete do chefe de Operações Navais dos EUA e foi pego oferecendo segredos de submarinos de propulsão nuclear.
Ele foi condenado a 19 anos de prisão, enquanto sua esposa, Diana, recebeu uma pena de 21 anos — uma sentença muito mais dura do que o esperado.
Os promotores haviam pedido originalmente uma pena de até 17,5 anos de prisão para Jonathan e de apenas três anos para Diana — o que a juíza Gina Groh considerou insuficiente.
A magistrada entendeu que Diana, de 46 anos, foi quem arquitetou e comandou a operação.
"O dano a esta nação é grave, e estes são tempos assustadores em que vivemos", disse Groh na audiência em que foi lida a sentença do casal, em Martinsburg, em West Virginia.
"Muito provavelmente, a sra. Toebbe era quem estava comandando a operação. Era parte do plano", acrescentou.
A juíza também manifestou indignação em relação ao comportamento de Diana, que foi flagrada enviando um bilhete para o marido enquanto ambos estavam na prisão, pedindo que ele seguisse com o plano para absolvê-la.
"Ela queria que ele mentisse", afirmou.
Quais foram as acusações?
O casal já havia se declarado culpado no início deste ano depois de ser acusado de tentar vender segredos de submarinos nucleares a um país estrangeiro.
As tentativas de espionagem começaram em abril de 2020 quando, de acordo com o Departamento de Justiça americano, Jonathan entrou em contato com um representante de um governo estrangeiro, enviando a ele um pacote pelo correio com amostras dos dados que pretendia vender, além de instruções para estabelecerem uma relação clandestina.
Jonathan começou então a se corresponder por e-mail criptografado com um indivíduo que ele acreditava ser o representante do governo estrangeiro. Mas se tratava, na verdade, de um agente do FBI, a polícia federal americana, disfarçado.
Sem saber que havia caído em uma armadilha, ele passou a confiar no agente. Em uma das mensagens, chegou a escrever sobre a relação de amizade dos dois e fazer planos para o futuro.
"Um dia, quando for seguro, talvez dois velhos amigos vão ter a chance de se esbarrar em um café, dividir uma garrafa de vinho e rir de histórias sobre suas façanhas."
De acordo com os investigadores, Jonathan coletou informações sobre submarinos nucleares durante anos — ele levava os documentos do trabalho para casa aos poucos, página por página, para conseguir passar pelos pontos de vigilância.
"Fui extremamente cuidadoso ao coletar os arquivos que estão em meu poder, de maneira lenta e natural, como parte da rotina do meu trabalho, para que ninguém suspeitasse do meu plano", escreveu Jonathan ao agente do FBI.
Depois de vários meses de "negociação", o casal teria feito um acordo para revelar os segredos nucleares em troca de aproximadamente US$ 100 mil em criptomoedas.
No dia 8 de junho de 2021, o agente disfarçado efetuou um pagamento de US$ 10 mil em criptomoedas como uma prova de "boa fé".
Cerca de duas semanas depois, Jonathan escondeu um cartão de memória — contendo dados sensíveis relacionados a reatores nucleares de submarinos — dentro de um sanduíche de pasta de amendoim, e deixou em um local pré-combinado.
Depois de pegar o cartão, o agente disfarçado efetuou um pagamento de US$ 20 mil em criptomoedas e recebeu uma chave de decodificação para acessar os arquivos.
Em 28 de agosto de 2021, Jonathan fez uma segunda "entrega" de dados — desta vez, escondendo o cartão de memória dentro de um pacote de chiclete — e recebeu como pagamento US$ 70 mil em criptomoedas.
De acordo com as investigações, Diana agia como uma espécie de vigia para o marido, enquanto ele deixava as informações nos locais combinados.
O FBI prendeu Jonathan e a mulher em 9 de outubro de 2021, depois que eles efetuaram uma terceira venda de informações.
Quem são os Toebbe?
Antes de serem presos, Jonathan e Diana Toebbe moravam com os dois filhos em Annapolis, cidade costeira no Estado americano de Maryland, sede da Academia Naval dos EUA.
Diana dava aula de história e inglês em uma escola particular — ela tem doutorado em antropologia pela Universidade Emory, em Atlanta.
Jonathan, por sua vez, é engenheiro e trabalhava no programa de propulsão nuclear da Marinha americana.
Os promotores haviam argumentado que o casal corria o risco de fugir, citando mensagens sobre uma saída rápida dos EUA.
Mas os advogados de Diana disseram que essas mensagens se referiam ao desconforto que ela sentia em relação ao então presidente Donald Trump — e não tinham nada a ver com o plano de vender informações confidenciais a uma nação estrangeira.
- Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/internacional-63590007