O pesadelo democrata não se concretizou. Com a apuração dos votos em andamento, um aliviado Joe Biden acenou para a conciliação com os republicanos e celebrou as eleições de meio de mandato. "Foi um bom dia para a democracia e para os EUA", declarou o presidente em discurso de 10 minutos, no fim da tarde de ontem. "Nossa democracia foi posta à prova nos últimos anos, mas, com seus votos, o povo americano falou e mostrou, mais uma vez, que a democracia é o que somos. (...) A onda gigante vermelha não aconteceu."
Biden revelou que pretende anunciar se tentará ou não a reeleição "no início do próximo ano". "Nossa intenção é concorrer novamente." O ex-presidente Donald Trump, do Partido Republicano, que esperava surfar a onda, fracassou em eleger candidatos e viu-se ameaçado pela ascensão de Ron DeSantis, reeleito na Flórida.
Biden advertiu que o futuro dos EUA é "muito promissor para o país ficar preso em batalhas políticas". Ele prometeu que convidará líderes do Senado e da Câmara para uma reunião na Casa Branca e se disse pronto a trabalhar com os congressistas republicanos. "O povo deixou claro que espera que os republicanos também estejam preparados para trabalharem comigo", afirmou. As eleições de terça-feira colocaram em disputa as 435 cadeiras da Câmara dos Representantes e 35 dos 100 assentos do Senado.
Até o fechamento desta edição, os republicanos se aproximavam da maioria, de 218 cadeiras, na Câmara — as projeções indicavam que eles tinham 204 contra 187 para os democratas, e 44 seguiam em disputa. No Senado, os democratas acumulavam 48 das 50 cadeiras necessárias, enquanto os republicanos haviam conquistado 49. A situação na Casa somente deverá ser definida em 6 de dezembro, quando o estado da Geórgia realizará um segundo turno entre o senador democrata Raphael Warnock e o desafiante republicano Herschel Walker, apoiado por Trump.
Todd Belt, diretor do Programa de Mestrado em Gestão Política da George Washington University (em Washington), admitiu ao Correio que houve uma onda republicana na terça-feira. "No entanto, ela começou na Flórida e terminou ali mesmo. Os democratas tiveram desempenho muito melhor. Parece que os republicanos conseguirão alguns assentos do Senado e mesmo o controle da Câmara dos Representantes. Os democratas obtiveram porcentagens mais altas do que a taxa de aprovação de Joe Biden, de cerca de 42%. Isso significa que eles tiveram uma performance superior na eleição de meio de mandato", avaliou.
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Obstáculo
Para Belt, apesar de as urnas não terem sido palco de uma votação avassaladora dos republicanos, Biden terá pela frente dois anos complicados. "Se os republicanos foream capazes de tomar o controle da Câmara, e parece que conseguirão, eles poderão barrar quase todas as prioridades legislativas de Biden."
"A onda vermelha tornou-se ondulação. Os republicanos esperavam grandes ganhos na Câmara. Eles a levarão, mas com pequena maioria", explicou Charles S. Bullock III, cientista político da Universidade da Geórgia. Ele lembrou que o partido de Trump esperava conquistar um ou dois assentos a mais no Senado. "A apuração indica ser improvável que os republicanos tenham mais do que 51 cadeiras; podem obter 50. O Partido Republicano falhou em fazer o número de governadores que gostaria. Não foi uma boa noite."
De acordo com Bullock, na luta pelo Senado, na Geórgia, Warnock se agarra a uma vantagem estreita. "Até 2020, nenhum democrata venceu em um segundo turno no estado. As mentiras de Trump sobre a confiabilidade das eleições dissuadiram republicanos de votarem. Enquanto aguardamos os resultados do Arizona e de Nevada, o segundo turno na Geórgia poderá definir qual partido controlará o Senado."