Nos últimos quatro anos, os israelenses foram às urnas cinco vezes para escolher o governo. A votação de ontem foi marcada pelo amplo comparecimento às urnas — cerca de 66%, o mais alto índice desde 1999 — e pelo provável retorno de Benjamin Netanyahu, 73 anos, ao poder. Duas das três pesquisas de boca de urna divulgadas pelas emissoras de televisão apontam que o bloco comandado pelo Likud, partido do ex-premiê, e formado pelo Partido Religioso Sionista (ultradireita), pelo Judaismo da Unidade Torá e pelo Shas, obteve 62 cadeiras no Knesset (Parlamento) e conquistou uma estreita maioria legislativa. A outra sondagem mostra a coalizão de Netanyahu com 61 assentos. O Knesset abrange 120 parlamentares.
Netanyahu classificou as pesquisas de boca-de-urna como um "bom começo". Depois de depositar sua cédula eleitoral em Jerusalém, o ex-premiê disse que é "um dever e uma grande honra poder votar". "Espero que terminemos este dia com um grande sorriso", acrescentou. "Bibi", como é conhecido, travava uma disputa direta contra o atual primeiro-ministro Yair Lapid, 58, líder de uma coalizão integrada por partidos de esquerda, centro, direita e árabes. "Votem hoje pelo futuro de nossos filhos, pelo futuro de nosso país. Votem bem", afirmou Lapid ao votar em Tel Aviv.
A "coalizão da mudança" forjada por Lapid e Naftali Bennett retirou Netanyahu do poder em junho de 2021. Um ano depois, perdeu a maioria no Knesset com a saída de deputados de direita, o que provocou a antecipação de eleições.
A provável maioria, ainda que estreita, de Netanyahu se deve ao surpreendente desempenho da ultradireita, representada pelo Partido Religioso Sionista. De acordo com o jornal The Jerusalem Post, a legenda conquistou 14 assentos no Knesset. "Hoje, o Partido Religioso Sionista fez história com a maior vitória de um partido religioso nacional desde que o país foi fundado", comemorou o parlamentar Bezalel Smotrich, um de seus líderes.
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"Muito fraco"
Professor de comunicação política da Universidade Bar-Ilan (em Ramat Gan, Tel Aviv), Eytan Gilboa foi cauteloso e preferiu não cravar a vitória de Netanyahu. No entanto, admitiu ao Correio que o líder do Likud estava mais perto de retomar o posto de primeiro-ministro. "Ele será um premiê muito fraco, pois terá a maioria de um ou dois membros do Knesset e dependerá de um partido de extrema-direita."
Segundo Gilboa, uma coalizão tão pequena não seria estável o bastante para assegurar a governabilidade. "A crise política pela qual Israel está passando, com cinco eleições desde 2018, não acabou. Mesmo que Netanyahu tenha estabelecido uma coalizão muito estreita, ela pode não sobreviver por muito tempo", advertiu. "No entanto, qualquer maioria, por menor que seja, tornará o governo legítimo. A aliança incluirá dois partidos religiosos e um de extrema-direita."
Efraim Inbar, presidente do Instituto para Estratégia e Segurança de Jerusalém, também disse à reportagem que era necessário aguardar a divulgação dos resultados finaisi, prevista para hoje. "Há a possibilidade de que o bloco de Netanyahu não consiga o número mágico de 61 cadeiras no Knesset. Ainda é uma corrida muito apertada", comentou. Para Inbar, caso Netanyahu volte ao poder, precisará enfrentar um desafio imediato. "A questão mais urgente para Israel é o programa nuclear iraniano. Devemos ver a intensificação dos esforços para atacar o Irã", previu.