Os israelenses comparecem às urnas hoje para participar das quintas eleições legislativas em menos de quatro anos, que podem marcar o surpreendente retorno ao poder do ex-primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, acusado de corrupção. Aos 73 anos, mais de 30 deles na vida pública, o chefe de governo mais longevo da história do país tem sido incansável na campanha em que tenta reunir a maioria de 61 dos 120 deputados do Parlamento, ao lado de seus aliados dos partidos ultraortodoxos e de extrema direita.
As pesquisas mais recentes mostram que Netanyahu — Bibi, como é chamado pelos israelenses — pode estar bem perto de alcançar o objetivo e, assim, assumir o cargo de premiê pela sexta vez. No total, ele já governou o país por 15 anos. As sondagens projetam 60 cadeiras para o "bloco de direita" de Netanyahu, contra 56 para o atual primeiro-ministro, o centrista Yair Lapid, e seus aliados.
Amado por uns e odiado por outros, Netanyahu inovou na campanha deste ano e percorreu o país com o "Bibimóvel", um caminhão totalmente envidraçado e protegido inspirado no veículo do papa. Segurança é preocupação permanente no país, que, ontem, realizou eleições apenas com a participação de militares, liberando-os para que estejam hoje nas ruas.
Pela primeira vez desde 2009, Netanyahu não concorre como primeiro-ministro em exercício — ele foi deposto do poder em junho de 2021 por uma coalizão heterogênea. Político experiente, Netanyahu nunca se aposentará por vontade própria, ressalta Aviv Bushinsky, seu ex-porta-voz e grande conhecedor do Likud, seu partido. Apesar da acusação de corrupção em uma série de processos judiciais, negada por ele, Bibi tem o apoio inabalável de seus seguidores mais fiéis.
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Racha
A investida, porém, é de alto risco. Se o Likud não obtiver o desempenho previsto pelas pesquisas — cerca de 33 cadeiras, ou seja, a primeira força no Parlamento —, sua base eleitoral pode rachar, estima Bushinsky. "Não há dúvida de que alguns funcionários do Likud vão pedir que ele se retire", antecipa.
Para garantir o retorno, o ex-premiê tem explorado o que considera fragilidade do adversário. Nos cartazes de campanha, Netanyahu mostra Lapid ao lado de líderes de partidos árabes. "Uma vez é suficiente!", afirma uma das mensagens que classifica o governo atual como "perigoso".
Lapid estabeleceu em 2021 uma "coalizão de mudança", que reunia partidos de direita, esquerda, centro e uma formação árabe, com o objetivo de derrotar Netanyahu, acusado em corrupção em vários processos.
No entanto, um ano mais tarde a coalizão perdeu a maioria no Parlamento com a saída de deputados de direita, o que levou o governo a convocar novas eleições, as quintas em três anos e meio.
Ritmo intenso
A campanha, que começou de maneira lenta, acelerou nos últimos dias com partidos religiosos que exibem cartazes nas ruas de Jerusalém e formações árabes que distribuem panfletos nas cidades da Galileia e pedem o apoio da esquerda israelense.
"Sem a nossa presença, a direita formará um governo majoritário. Para impedi-los, precisamos de vocês. Seu voto pode fazer a diferença", disse à agência France Presse Ahmed Tibi, um dos líderes da lista árabe Hadash-Taal, em hebraico, na noite de domingo.
Há dois anos, os partidos árabes israelenses conquistaram um recorde de 15 cadeiras com uma campanha conjunta. Mas, agora, estão na disputa com três listas separadas: Raam (islamita moderado), Hadash (laico) e Balad (nacionalista).
Pelo sistema proporcional israelense, uma lista deve obter 3,25% dos votos para entrar no Parlamento, com o mínimo de quatro deputados. Caso não alcance a cláusula de barreira, o partido fica sem representantes na Knesset. Divididos, os partidos árabes podem não atingir o mínimo necessário e favorecer a vitória do partido de Netanyahu e seus aliados.