Pandemia

Protestos se multiplicam na China contra a política 'zero covid'

Em Xangai, uma cidade de mais de 25 milhões de pessoas que sofreu um confinamento de dois meses este ano que causou escassez de alimentos, centenas de pessoas marcharam em silêncio pelo centro da megalópole

Agence France-Presse
postado em 27/11/2022 16:45
 (crédito:  Noel CELIS / AFP)
(crédito: Noel CELIS / AFP)

Centenas de pessoas se manifestaram neste domingo (27) em várias cidades da China, onde cresce a indignação contra a política draconiana de "covid zero" imposta pelas autoridades há quase três anos.

Em Xangai, uma cidade de mais de 25 milhões de pessoas que sofreu um confinamento de dois meses este ano que causou escassez de alimentos, centenas de pessoas marcharam em silêncio pelo centro da megalópole.

Uma testemunha explicou à AFP que os manifestantes mostraram folhas de papel em branco - um gesto que se tornou um símbolo de protesto contra a censura na China - e flores brancas.

A polícia chegou logo depois e os dispersou, disse a testemunha, que pediu anonimato.

Várias testemunhas afirmaram que a polícia da Xangai, que não quis fazer declarações à AFP, deteve várias pessoas.

À noite, um jornalista da AFP constatou que havia fortes medidas de segurança no local. Dezenas de policiais com coletes amarelos isolaram as ruas onde ocorreu o protesto, enquanto outros policiais pediram que as pessoas deixassem a área.

Horas antes, uma multidão se reuniu perto da rua Wulumuqi - o nome em mandarim da cidade de Urumqi - com pessoas gritando "Xi Jinping, renuncie, renuncie!" em uma rara demonstração de rejeição ao presidente chinês, de acordo com um vídeo divulgado nas redes sociais e geolocalizado pela AFP.

Em Urumqi, na região de Xinjiang (oeste), dez pessoas morreram em um incêndio na quinta-feira. O incidente gerou indignação nas redes sociais, uma vez que os confinamentos prejudicaram o resgate das vítimas.

Na parte da noite, entre 300 e 400 pessoas se reuniram nas margens de um rio em Pequim.

Alguns gritaram: "Somos todos Xinjiang! Vamos, povo da China!"

Jornalistas da AFP observaram a multidão cantar o hino nacional, enquanto uma fila de carros da polícia estava do outro lado do canal.

Protestos também foram organizados na cidade de Wuhan, no centro do país, onde foram detectados os primeiros casos de coronavírus.

Lá, segundo vídeos transmitidos ao vivo nas redes sociais e geolocalizados pela AFP, uma multidão de moradores indignados se manifestou.

Em Pequim, centenas de estudantes da prestigiosa Universidade Tsinghua manifestaram-se no campus, de acordo com uma testemunha ocular contatada pela AFP e vídeos postados online.

"Isso não é uma vida normal" 


"Isso não é uma vida normal, estamos fartos. Nossas vidas não eram assim antes", exclamou um palestrante.

Na Universidade de Pequim, perto da Universidade de Tsinghua, também foi realizada uma vigília em memória das vítimas do incêndio de Urumqi.

De acordo com um estudante que participou, os protestos começaram na noite de sábado e entre 100 e 200 pessoas se reuniram.

"Ouvi gritarem: 'não aos testes de covid, sim à liberdade'", explicou à AFP com imagens e vídeos que corroboravam os fatos.

De acordo com outras gravações, houve manifestações em Nanquim (leste), bem como em Xian, Wuhan (centro) e Cantão (sul), mas a AFP não conseguiu autenticar as imagens.

Os protestos acontecem em meio ao cansaço da população devido à estratégia do governo de tolerância zero com a covid.

A China é a última grande economia a manter a estratégia "zero covid", com confinamentos, quarentenas extensas e testes em massa para erradicar as fontes de contágio assim que elas aparecerem.

Neste domingo, a China registou 39.506 infeções locais de covid-19, um número recorde para este país de 1,4 bilhão de habitantes.

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