"Jamal morreu de novo hoje." Com esse tuíte, a jornalista turca Hatice Cengiz, noiva do dissidente saudita assassinado e esquartejado dentro do Consulado da Arábia Saudita em Istambul, em 2 de outubro de 2018, reagiu à decisão dos Estados Unidos de garantir imunidade legal a Mohammed bin Salman, herdeiro do trono de Riad e suposto mandante do crime. O príncipe saudita é alvo de um processo aberto pela própria Cengiz, nos EUA, pelo assassinato de Khashoggi, também colunista do jornal The Washington Post.
Em um documento apresentado ontem, o governo americano informou ao tribunal civil de Washington que "o acusado Mohammed bin Salman, primeiro-ministro do Reino da Arábia Saudita, é o atual chefe de governo e, portanto, goza de imunidade diante dessas ações". Porta-voz de Segurança Nacional da Casa Branca, John Kirby afimou que o presidente Joe Biden "tem sido muito, muito claro (...) sobre o assassinato brutal e bárbaro de Khashoggi". De acordo com ele, o líder democrata "trabalhou para responsabilizar o regime (saudita)".
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Diretora da Dawn — organização de defesa dos direitos humanos fundada por Khashoggi —, Sarah Leah Whitson criticou a proteção da Casa Branca a Bin Salman. "A decisão do governo Biden de sugerir imunidade em nosso processo foi eletiva e desnecessária, a qual servirá apenas para minar a mais importante ação de responsabilização pelo assassinato hediondo de Khashoggi", disse ao Correio.
De acordo com Whitson, existem leis de jurisdição universal em um número de países onde uma ação judicial pode ser movida contra Bin Salman. "No entanto, elas podem enfrentar os mesmos desafios de imunidade soberana. Temos uma queixa pendente contra ele na França, atualmente em posse do promotor", comentou.
Para Ali Adubisi, diretor da Organização Europeia pelos Direitos Humanos na Arábia Saudita, é um erro pensar que os Estados Unidos sejam um amigo leal dos direitos humanos. "Quanto ao caso Khashoggi, os EUA desempenharam um papel de advogado e de salvador de Mohammad bin Salman, por meio do papel negativo desempenhado pelo ex-presidente Donald Trump. Isso ficou explícito", disse. "As promessas de Joe Biden de responsabilizar o príncipe não serão esquecidas. A conduta do democrata trouxe vergonha a ele."
Adubisi aposta que a crise energética e a dependência dos EUA pela Arábia Saudita contribuíram para a concessão de imunidade a Bin Salman. "No âmbito das relações exteriores, Riad começou a mover-se para o leste, um comportamento saudita incomum. Washington, então, procurou ser agradável com o príncipe."
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