Reino Unido

Primeiro-ministro do Reino Unido promete consertar os erros de Liz Truss

O primeiro chefe de governo não-branco e o mais jovem em dois séculos começa a formar gabinete, avisa que precisará tomar "decisões difíceis" e admite equívocos da antecessora. Premiê hindu anuncia que vai priorizar a estabilidade econômica

Com as promessas de reunificar o Partido Conservador — fragmentado em várias facções —, reparar os erros cometidos por Liz Truss e devolver a estabilidade econômica a um Reino Unido mergulhado na crise, Rishi Sunak assumiu ontem como o primeiro premiê não-branco e o mais jovem chefe de governo em dois séculos. Mas suas ações iniciais causaram incômodo em parlamentares, especialmente a recondução da ultraconservadora Suella Braverman ao posto de ministra do Interior, menos de uma semana depois de ela apresentar a renúncia do governo Truss.

Depois de comparecer à  primeira audiência com o rei Charles III no Palácio de Buckhingam (veja foto), uma tradição que se repetirá semanalmente, o primeiro hindu a comandar o governo começou a dar forma ao seu gabinete. Além de Braverman, Sunak manteve nos cargos os ministros Jeremy Hunt (Finanças), James Cleverly (Relações Exteriores) e Ben Wallace (Defesa). Dominic Raab, ex-chefe da diplomacia britânica, foi apontado ministro da Justiça e vice-premiê. Rival no processo de sucessão de Truss, Penny Mordaunt foi mantida como ministra das Relações Parlamentares. Pouco antes, Truss fez um breve pronunciamento de despedida: "Desejo a Rishi Sunak todo o sucesso pelo bem de nosso país."

Em seu discurso inaugural (leia Trechos), em frente à 10 Downing Street, Sunak admitiu equívocos de Truss. "Ela não errou em querer melhorar o crescimento deste país, é um objetivo nobre. (...) Mas alguns erros foram cometidos", declarou. "Fui eleito líder do meu partido, e como seu primeiro-ministro, em parte, para consertá-los. Esse trabalho começa imediatamente. Colocarei a estabilidade econômica e a confiança no centro da agenda deste governo." Ele avisou, no entanto, que será forçado a tomar "decisões difíceis". 

No primeiro dia de governo, o ex-executivo bilionário e neto de indianos cumpriu agenda de política externa. Sunak conversou por telefone com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden. Em nota, a Downing Street informou que o norte-americano afirmou que "o Reino Unido continua sendo o aliado mais próximo dos EUA e o primeiro-ministro confirmou a grande força da relação entre os dois países". Ambos também debateram a guerra na Ucrânia e a Irlanda do Norte. À noite, Sunak também falou com o líder ucraniano, Volodymyr Zelensky. "Tanto ele quanto o povo ucraniano podem contar com a contínua solidariedade e o apoio do Reino Unido. Estaremos sempre ao lado da Ucrânia", reforçou.

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Abertura

Professor do Instituto Europeu da London School of Economics (LSE), Iain Begg sublinhou ao Correio que Sunak reconheceu os erros do governo anterior. "O novo premiê mostrou-se aberto em relação às difíceis escolhas que precisará fazer e os custos pelos quais alguns britânicos — talvez muitos — terão que arcar no país. Ele reafirmou o compromisso com o manifesto em favor do chamado 'nivelamento', de 2019; isto é, prometeu lidar  com as disparidades regionais."

De acordo com Begg, Sunak buscou ser pragmático ao nomear o gabinete. "Ele apontou ministros de diferentes alas do Partido Conservador, ao contrário de Truss, que escolheu principalmente correligionários. Isso aumenta a probabilidade de ele evitar disputas internas e de governar com eficiência", disse.

Questionado sobre os apelos da oposição por eleições gerais, o especialista lembrou que, por ter maioria absoluta no Parlamento, apenas o Partido Conservador pode optar por um pleito. "No entanto, diz o ditado que 'perus não votam pelo Natal'. Não me causa surpresa que o Partido Trabalhista afirme desejar uma eleição, pois eles certamente venceriam, e bem. Mas os trabalhistas podem ficar tranquilamente felizes por deixarem aos conservadores a dor de lidar com os problemas atuais."

Eu acho...

"O combate à crise econômica, no governo de Rishi Sunak, será lento. O Reino Unido tem que pagar mais para os proutores de commodities, especialmente pelo petróleo e pelo gás. Medidas em andamento deveriam, gradualmente, reduzir a taxa de inflação. Teremos que encontrar um difícil equilíbrio entre lidar com a inflação e evitar a queda do PIB."

Iain Begg, professor do Instituto Europeu da London School of Economics

Trechos do primeiro discurso

"Acabei de ir ao Palácio de Buckingham e aceitei o convite de Sua Majestade o Rei para formar um governo em seu nome. É justo explicar por que estou aqui como seu novo primeiro-ministro."

"Neste momento, nosso país está enfrentando uma profunda crise econômica. As consequências da covid ainda perduram. A guerra de Putin na Ucrânia desestabilizou os mercados de energia e as cadeias de suprimento em todo o mundo."

"Quero render homenagem à minha antecessora Liz Truss. Ela não errou em querer melhorar o crescimento deste país, é um objetivo nobre. Eu admirei sua inquietação em criar mudanças. Mas alguns erros foram cometidos."

"Fui eleito líder do meu partido, e como seu primeiro-ministro, em parte, para consertá-los. Esse trabalho começa imediatamente. Colocarei a estabilidade econômica e a confiança no centro da agenda deste governo."

"Eu unirei nosso país, não com palavras, mas com ações. Trabalharei dia após dia por você. Este governo terá integridade, profissionalismo e responsabilidade em todos os níveis."

A cerimônia do "beija-mão" com o rei Charles III

Por volta das 11h (7h em Brasília), Rishi Sunak chegou ao Palácio de Buckingham para a protocolar cerimônia do "beija-mão", a primeira audiência com o rei. O novo premiê foi recebido por Sir Clive Alderton, principal secretário particular de Charles III e da rainha consorte, Camila Parker-Bowles, e pelo escudeiro real, tenente-coronel Jonny Tompson. Apesar do nome, não existe o ato de beijar as mãos do rei. A cerimônia consiste na instalação formal do primeiro-ministro. O monarca o oficializa no cargo e o encarrega de formar o gabinete. Segundo a tradição, o novo premiê se dirige até o palácio a bordo do próprio carro e deixa o local em automóvel oficial do governo.