Steve Bannon — o guru de Donald Trump e da extrema direita nos Estados Unidos e um dos responsáveis por levar o magnata republicano à Casa Branca — foi condenado ontem a quatro meses de prisão por desafiar uma intimação para depor no comitê de investigação da Câmara dos Representantes sobre a invasão ao Capitólio, em 6 de janeiro de 2021. O juiz federal Carl Nichols também determinou a Bannon o pagamento de multa de US$ 6,5 mil (cerca de R$ 33,5 mil). O comitê intimou Trump a prestar depoimento depois de 14 de novembro. Também ontem, o jornal The Washington Post divulgou que documentos secretos apreendidos pelo FBI (polícia federal dos EUA) em Mar-a-Lago, a residência do ex-presidente na Flórida, continham material "altamente sensível" sobre China e Irã.
"Hoje foi dia do meu julgamento perante o juiz", declarou Bannon à imprensa, ao sair do prédio da Corte Federal, em Washington. "Em 8 de novembro será julgado o regime ilegítimo de Biden. E sabemos em que direção isso vai. O governo Biden termina na noite de 8 de novembro", assegurou, ao mencionar as eleições legislativas de meio de mandato nos Estados Unidos, que podem levar os republicanos a conquistarem a maioria no Senado e na Câmara.
No começo da audiência, o juiz disse que Bannon não mostrou "nenhum remorso por suas ações" e que "ainda precisa demonstrar que tem a intenção de cumprir com a intimação". Durante sua chegada, o ex-assessor de Trump foi recebido aos gritos de "fascista" e "traidor".
Em entrevista ao Correio, Benjamin R. Teitelbaum — professor da Universidade de Colorado Boulder e autor de War for eternity: Inside Bannon's Far-Right Circle of Global Power Brokers ("Guerra pela eternidade: Por dentro do círculo dos figurões globais da extrema direita de Bannon", pela tradução livre) — disse que a Justiça tentou transmitir uma mensagem aos ultraconservadores de que eles não estão acima da lei e que serão processados por ações ilegais. "No entanto, a sentença imposta a Steve Bannon aumenta o ressentimento da extrema direita em relação ao Estado e alimenta suas crenças de que ela tem sido alvo de instituições injustas."
De acordo com Teitelbaum, Bannon ainda opera como fomentador de uma rede de contatos, dentro da extrema direita, e como personalidade midiática. "Os membros do comitê de investigação da Câmara suspeitavam que Bannon desempenhou papel crucial no ataque ao Capitólio, pois seu podcast serviu como um megafone para todas as vozes mais extremas do movimento pró-Trump", observou. "Desde aquele 6 de janeiro de 2021, o podcast de Bannon manteve-se como ponto focal para essas vozes. Tanto que suspeito que sua prisão possa ter impacto negativo sobre a consolidação, a mobilização e as perspectivas dessa ala do conservadorismo norte-americano."
Saiba Mais
Vítima
James Naylor Green, historiador político da Universidade Brown (em Rhonde Island), afirmou à reportagem que Bannon tenta se passar por vítima, a fim de criticar o governo do democrata Joe Biden. "Tanto que ele citou as eleições de novembro, após a audiência. Como é possível que a Câmara se torne de maioria republicana, Bannon usou isso para justificar sua posição."
Para Green, o guru de Trump busca manter-se, dentro da direita, como uma voz radical e intransigente contra o governo de Biden. "Ele ganha muito dinheiro com isso, pois tem um podcast e, no passado, arrecadou doações por motivos falsos. Bannon continuará a desafiar o comitê de investigação da Câmara movido por interesses particulares, mas também pelo desejo de reforçar a ultradireita nos Estados Unidos e no exterior", comentou.