A Rússia reforçou a segurança na única ponte que liga seu território à península da Crimeia, depois de uma grande explosão ter destruído partes da infraestrutura no sábado (8/10).
O presidente russo, Vladimir Putin, ordenou que o serviço de inteligência do país (FSB) supervisione a ponte — de importância simbólica porque foi construída após a anexação da Crimeia, em 2014, como uma forma de reforçar o elo entre a Rússia e a península ocupada, e inaugurada quatro anos depois com grande alarde por Moscou.
A explosão na ponte matou três pessoas, segundo investigadores russos.
Autoridades dizem que as obras de reparo nas partes danificadas começarão imediatamente.
O vice-premiê da Rússia ordenou que os trechos destruídos sejam removidos, enquanto mergulhadores vão começar a avaliar os danos na parte submersa da ponte ainda neste domingo (9/10), informam as agências de notícia estatais.
Exaltada pela imprensa russa como a "obra do século", por ser a ponte mais comprida da Europa (com 19 km de extensão), a ponte é uma conexão vital para a Rússia despachar equipamentos militares, munição e tropas para o combate no sul da Ucrânia.
Novas imagens de satélite divulgadas no sábado ainda mostravam focos de chamas e fumaça em trechos da ponte.
Como a ponte tem um papel estratégico na guerra, autoridades ucranianas a viam como alvo legítimo - já que a reconquista da Crimeia é um dos objetivos de Kiev.
Sem reivindicar diretamente a explosão, o governo ucraniano celebrou o episódio. O presidente Volodymyr Zelensky mencionou indiretamente o ocorrido em um pronunciamento na noite de sábado: "Hoje não foi um dia ruim, ensolarado na maioria do nosso território. Infelizmente ficou nublado na Crimeia, mas o clima estava quente", ele afirmou.
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Autoridades russas foram rápidas em reabrir as partes da ponte que permaneciam intactas, afirmando que o tráfego rodoviário e ferroviário havia sido parcialmente restabelecido.
É uma artéria vital para o suprimento de Moscou na frente de batalha - e também para o próprio território anexado da Crimeia. O governador pró-Moscou da península, Sergei Aksyonov, disse que há anseio por vingança, mas afirmou também que a Crimeia tem combustível e comida suficientes para os próximos meses.
"A situação é gerenciável - é incômoda, mas não fatal", ele falou.
O parlamentar David Arakhamia, líder do partido de Zelensky, disse que "as construções ilegais russas estão começando a desmoronar e pegar fogo. O motivo é simples: se você constrói algo explosivo, cedo ou tarde vai explodir".
E o parlamentar ucraniano Oleksiy Goncharenko disse à BBC que, independentemente de quem seja responsável pelo ataque, "foi uma grande vitória ucraniana e uma perda dura para a Rússia".
"A ponte não foi destruída, só danificada. Mas a imagem de Putin está destruída, isso é o mais importante", declarou.
A ponte da Crimeia é de enorme significado político, simbólico e estratégico. Até recentemente, Moscou defendia que a ponte estava bem protegida de ameaças aéreas, terrestres ou aquáticas.
O comitê anti-terrorismo da Rússia diz que os danos na estrutura foram causados pela explosão de um caminhão, que por sua vez incendiou sete vagões ferroviários. A casa de um homem na região de Krasnodar, no sul da Rússia, está sob investigação em conexão com o caso, segundo o comitê.
Embora a Ucrânia não tenha dito que a explosão foi obra de suas tropas, a Crimeia já foi alvo de embates recentes. No mês passado, Kiev reivindicou responsabilidade por uma série de ataques aéreos na Crimeia - incluindo um ataque à base militar de Saky.
A explosão da ponte foi motivo de comemoração nas redes sociais ucranianas. Um banco ucraniano anunciou, inclusive, a emissão de um cartão de débito ilustrado com a ponte colapsada.
Nas últimas semanas, as tropas de Kiev reconquistaram partes do território ocupado pela Rússia ao longo da guerra.
Horas após a explosão da ponte, a Rússia nomeou um novo comandante militar para as tropas que estão combatendo na Ucrânia. Sergei Surovikin é um comandante veterano, que comandou tropas russas na Síria e foi acusado de ter liderado a destruição da cidade (na epoca controlada pela oposição síria) de Aleppo.
Vale reforçar, porém, que a Rússia ainda controla uma parte significativa do território ucraniano, incluindo a usina nuclear de Zaporizhzhia - a maior da Europa -, que tem dependido de geradores emergenciais para manter seu reator resfriado, segundo a agência nuclear da ONU.
E na cidade de Zaporizhzhia, no sudeste ucraniano, bombardeios russos atingiram edifícios residenciais e mataram ao menos 12 pessoas, segundo o governador regional Oleksandr Starukh.
No Telegram, ele informou que pode haver mais vítimas sob os escombros. Mais cedo, autoridades haviam calculado em 17 o número de vítimas fatais na cidade.
Este texto foi publicado originalmente em https://www.bbc.com/portuguese/internacional-63191943