Irã

Após 16 dias de protestos, presidente do Irã diz que 'conspiração fracassou'

A organização não-governamental Iran Human Rights (IHR) anunciou, ontem, que a repressão aos protestos das últimas duas semanas deixou pelo menos 92 mortos no Irã

No 16º dia de protestos pela morte de Mahsa Amin — a jovem iraniana de 22 anos morta depois de ser presa pela polícia da moral —, o presidente do Irã, Ebrahim Raissi, acusou os "inimigos" da nação de "conspirarem" para isolá-la e assegurou que as tentativas "fracassaram". "Quando a República Islâmica estava superando os problemas econômicos para tornar-se mais ativa na região e no mundo, os inimigos entraram no jogo com a intenção de isolar o país, mas fracassaram nesta conspiração", afirmou, de acordo com um comunicado da presidência. Teerã atribui a responsabilidade das manifestações a forças externas que pretendem desestabilizar o regime, em particular a seu grande rival Estados Unidos.

A organização não-governamental Iran Human Rights (IHR) anunciou, ontem, que a repressão aos protestos das últimas duas semanas deixou pelo menos 92 mortos no Irã. A entidade também registrou 41 mortes em confrontos na sexta-feira, em Zahedan, sudeste do Irã, em região fronteiriça com Afeganistão e Paquistão, com base em fontes locais. No entanto, não ficou claro até que ponto esses incidentes estavam relacionados com Amini. "A comunidade internacional tem o direito de investigar e de impedir que outros crimes sejam cometidos pela República Islâmica do Irã", declarou Mahmud Amiry-Moghaddam, diretor da IHR, que tem sede na Noruega. A ONG tenta calcular o número de vítimas, apesar dos cortes de internet e dos bloqueios de aplicativos como WhatsApp, Instagram e outros serviços no Irã.

Amini, uma curda iraniana de 22 anos, morreu em 16 de setembro, depois de ser detida pela polícia da moral, supostamente por não utilizar o hijab (véu islâmico) da maneira como exige o rígido código de vestimenta das mulheres na República Islâmica. Desde a morte da jovem, manifestações de solidariedade às mulheres iranianas — algumas delas queimam os véus em sinal de protesto — foram organizadas ao redor do mundo. No sábado, as passeatas ocorreram em mais de 150 cidades. Ontem, houve protestos em Istambul, na Turquia; em Beirute, no Líbano; e em Paris. 

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Distúrbios

O país também registra distúrbios na região sudeste, onde cinco membros da Guarda Revolucionária morreram durante confrontos na sexta-feria em Zahedan, capital da província de Sistão-Baluchistão. Essa província afetada pela pobreza tem sido cenário frequente de confrontos com rebeldes da minoria do Baluchistão, com grupos extremistas muçulmanos sunitas e com grupos de narcotraficantes.

Um pregador muçulmano sunita, Molavi Abdol Hamid, afirmou que a comunidade estava "irritada" após o suposto estupro de uma adolescente de 15 anos por um comandante da polícia na província, em uma mensagem publicada no site do clérigo na semana passada. A IHR acusou as forças de segurança iranianas por uma "repressão violenta" de um protesto na sexta-feira em Zahedan, após a divulgação das acusações.  "Os assassinatos de manifestantes no Irã, em particular em Zahedan, constituem um crime contra a humanidade", afirmou Amiry-Moghaddam.