O chefe da junta de Burkina Faso, Paul-Henri Sandaogo Damiba, aceitou renunciar neste domingo (2/10), dois dias depois que oficiais militares anunciaram sua retirada do poder, provocando distúrbios neste país da África Ocidental.
O próprio Damiba "ofereceu sua renúncia para evitar confrontos com graves consequências humanas e materiais", disseram líderes religiosos e comunitários em comunicado.
Sua retirada ocorreu após a mediação, realizada por líderes religiosos e comunitários, entre o chefe da junta e o novo líder autoproclamado, Ibrahim Traore.
Entre as condições para a renúncia de Damiba estava a obtenção de garantias de segurança e que aqueles que assumem o poder respeitem a promessa de retornar a um governo civil dentro de dois anos, feita perante a Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO).
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Os líderes religiosos e comunitários, muito influentes em Burkina Faso, disseram que Traore aceitou as condições e "convida a população à calma, contenção e oração".
A turbulência começou na sexta-feira, quando oficiais militares de baixo escalão anunciaram que derrubaram Damiba no segundo golpe de Estado no país este ano.
Damiba, que liderou um golpe em janeiro, havia declarado na noite de sábado que não tinha intenção de renunciar ao poder e pediu às autoridades que "caíssem em si".
A tensão foi alta nas últimas horas no país, onde as forças de segurança dispararam gás lacrimogêneo no domingo para dispersar os manifestantes do lado de fora da embaixada francesa na capital.
Uma declaração no domingo dos militares pró-Traore indica que ele permanecerá no cargo "até a posse do presidente de Burkina Faso nomeado pelas forças vivas da nação", em uma data não especificada.
Os oficiais por trás do golpe acusaram Damiba de ter se escondido em uma base militar da antiga potência colonial, França, para planejar uma "contraofensiva", acusações que ele e a França negam.
Neste domingo, dezenas de apoiadores de Traore se reuniram na embaixada francesa da capital, Uagadugu.
As forças de segurança dispararam gás lacrimogêneo de dentro do complexo para dispersar os manifestantes depois que estes incendiaram barreiras do lado de fora e atiraram pedras contra a estrutura, com alguns tentando escalar a cerca, segundo um repórter da AFP no local.
O Ministério das Relações Exteriores francês condenou "energicamente a violência contra nossa embaixada" por "manifestantes hostis manipulados por uma campanha de desinformação contra nós".