Um homem identificado pela polícia como David DePape, 42 anos, invadiu a residência da presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, a democrata Nancy Pelosi, e usou um martelo para atacar o marido dela, Paul Pelosi, em São Francisco (Califórnia). "Onde está Nancy? Onde está Nancy?", repetia o agressor, depois de entrar na mansão ao quebrar um vidro na lateral do imóvel. DePape tentou amarrar Paul, 82, até que a esposa chegasse em casa.
A polícia foi chamada às 2h27 de ontem (22h27 de quinta-feira, em Brasília) e presenciou o ataque. Segundo a emissora MSNBC, Paul foi submetido a uma cirurgia no cérebro. DePape está preso e responderá por tentativa de homicídio, agressão com arma letal, abuso de idoso e outros crimes. Até o fechamento desta edição, não havia detalhes sobre o estado de saúde de Paul.
Em nota, Drew Hammil, porta-voz de Nancy Pelosi, explicou que Paul foi "violentamente atacado" e que as autoridades investigam as motivações do ataque. Uma fonte informou à TV CNN que Nancy conseguiu falar com o marido pouco antes da cirurgia. Ela estava em Washington e embarcou ontem à tarde para São Francisco, acompanhada de familiares. A mesma emissora divulgou que Paul Pelosi telefonou para a polícia no início da invasão à residência e manteve a linha aberta, permitindo ao atendente escutar o som do ambiente. O marido de Nancy usou códigos para emitir sinais de que havia algo errado.
A Casa Branca informou que "o presidente (Joe Biden) ora por Paul Pelosi e por toda a família da presidente Pelosi". "Nesta manhã, ele telefonou para a presidente Pelosi para expressar seu apoio depois desse ataque horrível. Ele também está muito feliz pelo fato de uma completa recuperação ser esperada. O presidente continua a condenar toda a violência, e pede que o desejo de privacidade da família seja respeitado", diz o comunicado.
"Doug e eu estamos chocados pelo ataque. (...) Toda a família Pelosi está em nossos corações e desejamos a ele uma rápida recuperação", reagiu a vice-presidente dos EUA, Kamala Harris. O governador da Califórnia, Gavin Newsom, afirmou que "este ataque hediondo é mais um exemplo das consequências perigosas da retórica divisiva e odiosa que coloca vidas em risco e mina nossa própria democracia e nossas instituições democráticas".
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Alvo
Em entrevista ao Correio, Ruth Ben-Ghiat, professora de história da Universidade de Nova York, destacou que o criminoso buscava ferir Nancy e lembrou que a presidente da Câmara foi o principal alvo dos insurgentes durante a invasão ao Capitólio, em 6 de janeiro de 2021. "Ele queria provavelmente ferir ou matar Pelosi. Os republicanos retratam a oposição como inimigo mortal, aumentando a probabilidade de violência política. No ano passado, os ataques contra membros do Congresso aumentaram em 107%. Infelizmente, episódios assim continuarão."
De acordo com o jornal The Washington Post, em 6 de janeiro de 2021, a multidão de simpatizantes do então presidente Donald Trump irrompeu o prédio do Congresso aos gritos de "Nancy, Nancy" e "Tudo o que queremos é Pelosi". Os vândalos exigiram a interrupção do processo de confirmação da vitória de Joe Biden nas eleições de 2020.
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"Em 2021, os ataques e as ameaças contra membros do Congresso aumentaram em 107%. A tentativa de golpe de 6 de janeiro de 2021 quembrou muitos tabus. O então vice Mike Pence foi alvo de violência por parte do presidente Donald Trump; congressistas de ambos partidos tiveram de correr para salvar suas vidas dos insurgentes, que queriam sequestrá-los ou assassiná-los. Tudo isso criou um clima propício à violência política, especialmente porque o Partido Republicano e a Fox News continuaram a retratar políticos, como Nancy Pelosi, como indivíduos corruptos e sem lei que roubaram a eleição de Trump."
Ruth Ben-Ghiat, professora de história da Universidade de Nova York
Apelo a Biden por eleição no Brasil
Em carta divulgada ontem, cerca de 30 congressistas democratas norte-americanos pediram ao presidente Joe Biden que reconheça imediatamente os resultados da eleição no Brasil, por medo de que Jair Bolsonaro questione-os em caso de derrota. "Os Estados Unidos e a comunidade internacional devem estar preparados para reconhecer imediatamente os resultados anunciados pela autoridade eleitoral brasileira no domingo (amanhã)", defendem na carta, levada ao conhecimento da imprensa pelo senador Patrick Leahy.
Também ontem, Ned Price, porta-voz do Departamento de Estado, declarou que os EUA confiam que o segundo turno será conduzido "com o mesmo profissionalismo e o mesmo espírito pacífico e de dever cívico" que em 2 de outubro.
"Apesar do claro compromisso da sociedade brasileira com a democracia, há fortes temores de que, se Bolsonaro perder, questionará os resultados do segundo turno, quando a diferença entre Bolsonaro e Lula pode ser muito mais apertada", afirmaram os legisladores, na carta. "Se Bolsonaro rejeitar os resultados das eleições, devemos estar preparados para defender, inequivocamente, a democracia no Brasil."
Eles insistem em que "é sumariamente importante que os EUA denunciem qualquer tentativa de incitar a violência política no e depois do dia da eleição", porque a pedra angular das relações entre os dois países deve ser "um compromisso compartilhado com a democracia e os direitos humanos".
Trump
O ex-presidente Donald Trump convocou, mais uma vez, o voto em Bolsonaro e classificou o seu adversário Luiz Inácio Lula da Silva, a quem apelida de "Lulu", como "lunático". A mensagem foi enviada por meio de sua plataforma Truth Social. "No domingo, vote no presidente Jair Bolsonaro — ele nunca vai te decepcionar!", diz ele sobre o presidente, que descreve como "um grande e respeitado líder, que também é um grande cara com um grande coração".
"Seu oponente, 'Lulu', é um lunático da esquerda radical que destruirá rapidamente seu país e todo tremendo progresso que foi feito sob o presidente Bolsonaro, incluindo tornar o Brasil um país respeitado novamente", acrescentou Trump.