Itália

Premiê da Itália, Meloni nega "simpatia" pelo fascismo

Giorgia Meloni tratou de acalmar temores dos vizinhos aliados de que o país poderia abandonar a União Europeia (UE)

Rodrigo Craveiro
postado em 26/10/2022 06:00
 (crédito: Andreas Solaro/AFP)
(crédito: Andreas Solaro/AFP)

Com 235 votos a favor, 154 contra e cinco abstenções, o novo governo comandado por Giorgia Meloni obteve o voto de confiança da Câmara dos Deputados e, hoje, se submete ao Senado. Em discurso de 70 minutos na Câmara, a primeira mulher a exercer o cargo de premiê na história da Itália tentou se distanciar ao máximo do fascismo — apesar da admiração por Benito Mussolini na juventude. "Apesar do que foi argumentado instrumentalmente, nunca senti simpatia ou proximidade com regimes  antidemocráticos. Com nenhum regime, inclusive o fascismo", declarou. 

A primeira-ministra também tratou de acalmar temores dos vizinhos aliados de que o país poderia abandonar a União Europeia (UE). "A Itália é parte plena da Europa e do mundo ocidental. (...) Não vamos frear ou sabotar a UE, e sim torná-la mais eficaz para responder às crises", acrescentou. Ela assegurou que a Itália se manterá como um "sócio confiável para a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte)" e continuará com "o apoio à Ucrânia e sua oposição à agressão russa". 

Maurizio Cotta, cientista político da Università Degli Studi Di Siena, explicou à reportagem que a nação voltou a ter um governo de coalizão, dessa vez dominada pelo ultraconservador Irmãos da Itália, de Meloni. "Mais importante do que isso é o fato de que Meloni detém forte controle e domínio do partido. Ela é uma das cofundadoras da legenda e chega ao poder depois de uma campanha eleitoral bem-sucedida. Os dois outros partidos da coalizão, a Força Itália (de Silvio Berlusconi) e A Liga (de Matteo Salvini), não estão satisfeitos pela posição de menor dominância e, por isso, podem causar problemas", observou. 

Cotta advertiu que a direita não possui forte tradição de governo na Itália. "Meloni e seu Irmãos da Itália são alçados ao poder no momento de desafios externos, como a guerra na Ucrânia, e transformações na UE que deixam pouco espaço para as ideias conservadoras", afirmou. No entanto, ele considera Meloni como uma política inteligente e resistente e acredita que ela precisará cooperar com a União Europeia. "Não espero ver algo como Viktor Orbán (primeiro-ministro da Hungria) neste governo. Apesar de não descartar que escutaremos frases estúpidas sobre como Benito Mussolini era bom", ironizou.

"O que realmente importa é que este será o primeiro governo liderado pela direita (não simplesmente pela centro-direita) na história da Itália republicana", disse à reportagem Marco Tarchi, professor de ciência política da Universidade de Florença e autor de livros sobre fascismo e pós-fascismo.

"Meloni também rompe com um tabu que durava desde 1945, quando a direita foi marginalizada no sistema político italiano, por ter sido acusada de favorecer o advento do fascismo e de ter colaborado com o regime de Mussolini", acrescentou. Segundo Tarchi, desde 1995, quando o neofascista Movimento Social Italiano se transformou em Aliança Nacional, a nostalgia pelo fascismo nunca mais foi reivindicada pela direita.

Por sua vez, Luigi Di Gregorio, professor de comunicação política da Università della Tuscia, afirmou ao Correio que a própria Meloni admitiu que admirava Mussolini 26 anos atrás, quando tinha apenas 19. "A direita pós-fascista fez um longo trabalho de reposicionamento ideológico. O problema do retorno do fascismo não existe. A ideia de Meloni é criar uma facção alinhada ao Partido Republicano, dos Estados Unidos, ou ao Partido Conservador britânico", comentou. Di Gregorio avaliou que a premiê defende uma ideia de democracia anglo-saxônica, que tende a ser bipartidária, com conservadores de um lado e progressistas do outro. "Não há perigo de torção autoritária ou nostalgia fascista."

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Dose de reforço contra covid e alerta à Rússia

 (crédito: Saul Loeb/AFP)
crédito: Saul Loeb/AFP

No dia em que foi vacinado com uma dose de reforço contra a covid-19, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, enviou uma forte advertência ao governo do presidente russo, Vladimir Putin. Ao ser questionado por jornalistas sobre se Moscou estaria preparando um ataque com uma "bomba suja", Biden disse: "A Rússia estaria cometendo um erro terrivelmente grave se usasse uma arma nuclear tática". Os russos disseram que os ucranianos poderiam usar uma suposta "bomba suja" em seu próprio território.  Uma "bomba suja" é uma bomba convencional misturada com materiais radiativos, biológicos e químicos que se disseminam em uma explosão.

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