Reino Unido

Primeiro-ministro do Reino Unido promete consertar os erros de Liz Truss

O primeiro chefe de governo não-branco e o mais jovem em dois séculos começa a formar gabinete, avisa que precisará tomar "decisões difíceis" e admite equívocos da antecessora. Premiê hindu anuncia que vai priorizar a estabilidade econômica

Rodrigo Craveiro
postado em 26/10/2022 06:00
Diante de um
Diante de um "batalhão" de fotógrafos e repórteres, Rishi Sunak faz o seu primeiro pronunciamento como premiê, em frente a 10 Downing Street - (crédito: Justin Tallis/AFP)

Com as promessas de reunificar o Partido Conservador — fragmentado em várias facções —, reparar os erros cometidos por Liz Truss e devolver a estabilidade econômica a um Reino Unido mergulhado na crise, Rishi Sunak assumiu ontem como o primeiro premiê não-branco e o mais jovem chefe de governo em dois séculos. Mas suas ações iniciais causaram incômodo em parlamentares, especialmente a recondução da ultraconservadora Suella Braverman ao posto de ministra do Interior, menos de uma semana depois de ela apresentar a renúncia do governo Truss.

Depois de comparecer à  primeira audiência com o rei Charles III no Palácio de Buckhingam (veja foto), uma tradição que se repetirá semanalmente, o primeiro hindu a comandar o governo começou a dar forma ao seu gabinete. Além de Braverman, Sunak manteve nos cargos os ministros Jeremy Hunt (Finanças), James Cleverly (Relações Exteriores) e Ben Wallace (Defesa). Dominic Raab, ex-chefe da diplomacia britânica, foi apontado ministro da Justiça e vice-premiê. Rival no processo de sucessão de Truss, Penny Mordaunt foi mantida como ministra das Relações Parlamentares. Pouco antes, Truss fez um breve pronunciamento de despedida: "Desejo a Rishi Sunak todo o sucesso pelo bem de nosso país."

Em seu discurso inaugural (leia Trechos), em frente à 10 Downing Street, Sunak admitiu equívocos de Truss. "Ela não errou em querer melhorar o crescimento deste país, é um objetivo nobre. (...) Mas alguns erros foram cometidos", declarou. "Fui eleito líder do meu partido, e como seu primeiro-ministro, em parte, para consertá-los. Esse trabalho começa imediatamente. Colocarei a estabilidade econômica e a confiança no centro da agenda deste governo." Ele avisou, no entanto, que será forçado a tomar "decisões difíceis". 

No primeiro dia de governo, o ex-executivo bilionário e neto de indianos cumpriu agenda de política externa. Sunak conversou por telefone com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden. Em nota, a Downing Street informou que o norte-americano afirmou que "o Reino Unido continua sendo o aliado mais próximo dos EUA e o primeiro-ministro confirmou a grande força da relação entre os dois países". Ambos também debateram a guerra na Ucrânia e a Irlanda do Norte. À noite, Sunak também falou com o líder ucraniano, Volodymyr Zelensky. "Tanto ele quanto o povo ucraniano podem contar com a contínua solidariedade e o apoio do Reino Unido. Estaremos sempre ao lado da Ucrânia", reforçou.

Abertura

Professor do Instituto Europeu da London School of Economics (LSE), Iain Begg sublinhou ao Correio que Sunak reconheceu os erros do governo anterior. "O novo premiê mostrou-se aberto em relação às difíceis escolhas que precisará fazer e os custos pelos quais alguns britânicos — talvez muitos — terão que arcar no país. Ele reafirmou o compromisso com o manifesto em favor do chamado 'nivelamento', de 2019; isto é, prometeu lidar  com as disparidades regionais."

De acordo com Begg, Sunak buscou ser pragmático ao nomear o gabinete. "Ele apontou ministros de diferentes alas do Partido Conservador, ao contrário de Truss, que escolheu principalmente correligionários. Isso aumenta a probabilidade de ele evitar disputas internas e de governar com eficiência", disse.

Questionado sobre os apelos da oposição por eleições gerais, o especialista lembrou que, por ter maioria absoluta no Parlamento, apenas o Partido Conservador pode optar por um pleito. "No entanto, diz o ditado que 'perus não votam pelo Natal'. Não me causa surpresa que o Partido Trabalhista afirme desejar uma eleição, pois eles certamente venceriam, e bem. Mas os trabalhistas podem ficar tranquilamente felizes por deixarem aos conservadores a dor de lidar com os problemas atuais."

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