Ucrânia

Após bombardeio da Rússia, 1.162 cidades da Ucrânia ficam sem energia elétrica

Rússia bombardeia 30% das centrais elétricas do país e deixa centenas de milhares de pessoas na escuridão, a pouco mais de 40 dias do começo do inverno. Comandante das forças de Moscou na ex-república soviética classifica a situação no front como "tensa"

Rodrigo Craveiro
postado em 19/10/2022 06:00
 (crédito: Yuriy Dyachyshyn/AFP)
(crédito: Yuriy Dyachyshyn/AFP)

Moradora de Brovary, a 20km de Kiev, a estudante de história Kateryna Shtepa, 17 anos, desabafou à reportagem: "Os russos querem nos congelar, mas não conseguirão". Para não sofrer os efeitos do blecaute, que acomete 1.162 cidades e vilarejos da Ucrânia, depois que as forças da Rússia bombardearam centrais elétricas do país, Kateryna aderiu ao racionamento. "Tento acender a luz somente quando estritamente necessário. Costumo fazer minhas tarefas com a ajuda de uma pequena lâmpada. A água costuma ser fervida em um fogão a gás. À noite, os postes de nossa rua ficam desligados, e nós recorremos à luz de velas", relatou.

Partes de Kiev ficaram sem energia elétrica e sem água, depois que novos bombardeios atingiram a capital, ontem. "Entre 7 e 18 de outubro, como resultado dos ataques às instalações de energia, cerca de 4 mil localidades de 11 regiões foram isoladas. Atualmente, segundo o Ministério da Energia, 1.162 continuam sem eletricidade", anunciou Oleksandr Khorunzhyi, porta-voz do Ministério de Serviços de Emergência do Estado.

Na cidade de Kramatorsk, na região de Donetsk (leste), o prefeito Oleksandr Honcharenko admitiu ao Correio que, de tempos em tempos, falta eletricidade. "Temos que viver com 30% do suprimento de energia. Os russos destroem a nossa infraestrutura, na esperança de nos congelar, antes da chegada do inverno, em 1º de dezembro. Em desvantagem no front, eles usam táticas de terror contra a população."

Em publicação no Twitter, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, informou que, "desde 10 de outubro, 30% das centrais elétricas foram destruídas, causando grandes interrupções em todo o país". "A situação é atualmente crítica em todo o país, porque nossas regiões dependem umas das outras", afirmou o chefe de gabinete da presidência, Kirilo Timochenko. "Todos os ucranianos devem estar prontos, primeiro, para economizar eletricidade, e, depois, para contínuos apagões, caso os ataques persistam", acrescentou.

Retirada

Pela primeira vez, Sergei Surovikin, comandante das forças da Rússia na Ucrânia, reconheceu dificuldades de suas tropas. "A situação na zona da operação militar especial pode ser descrita como tensa. O inimigo não desiste de suas tentativas de atacar as posições das forças russas", declarou, em entrevista transmitida pela televisão. Os soldados ucranianos se aproximaram da cidade de Kherson, no sul do país, onde os invasores preparam a retirada dos civis. "Mais ações em relação a Kherson dependerão do desenvolvimento da situação militar e tática, o que não é fácil, e decisões difíceis não podem ser descartadas."

Professor da Universidade Nacional de Kiev-Mohyla, Olexiy Haran explicou à reportagem que a situação é mais grave na região do Donbass (leste), com blecaute completo e falta de água. "Os bombardeios a centrais elétricas são uma evidência de que os russos sofrem sérias derrotas no front. A forma como Putin responde é atacando a infraestrutura civil. Nesse sentido, a Rússia viola as Convenções de Genebra e comete crimes de guerra", afirmou. "Os russos tentam intimidar os ucranianos, mas creio que vão sofrer uma contraofensiva. Os Estados Unidos começaram a suprir armamentos antiaéreos para Kiev. A estratégia de Moscou é compensar as perdas militares alvejando a população civil."

"Inação"

O governo de Zelensky denunciou a "inação" do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) para ajudar seus soldados capturados pela Rússia. "Infelizmente, em cada troca, constatamos que a inação do CICV levou nossos prisioneiros de guerra e reféns civis a serem torturados diariamente por fome e eletrocussão", criticou o encarregado ucraniano de direitos humanos, Dmytro Lubinets.

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Teerã nega uso de drones e propõe diálogo com Kiev

 (crédito: Yasuyoshi Chiba/AFP)
crédito: Yasuyoshi Chiba/AFP

O Irã mostrou-se disposto a conversar com a Ucrânia para esclarecer as declarações "infundadas" segundo as quais Teerã fornece à Rússia armas e drones para sua ofensiva contra a Ucrânia. Kiev e aliados acusam Moscou de utilizar aeronaves não tripuladas de fabricação iraniana em seus ataques. O Kremlin, por sua vez, disse não ter conhecimento de que seus militares estariam utilizando essas armas na Ucrânia. Por meio de uma nota, Nasser Kanani — porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Irã — afirmou que essas acusações "não têm fundamento" e "se baseiam em informações falsas". Kanani acrescentou que o Irã "está disposto a negociar e a discutir com a Ucrânia para esclarecer essas acusações". Na segunda-feira, mais de 30 drones "suicidas" atingiram alvos em Kiev e em seis cidades ucranianas. Prédios residenciais na capital foram destruídos (foto), e pelo menos oito pessoas morreram. 

 

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