Uruguai

Uruguai: perfil do pequeno e próspero vizinho brasileiro

O país é conhecido por ter sistemas de educação e de previdência avançados e leis socialmente liberais

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BBC Geral
postado em 17/10/2022 15:40 / atualizado em 17/10/2022 15:40
Montevidéu, capital do Uruguai, reflete o padrão de vida acima da média regional obtido pelo país sul-americano.

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Montevidéu, capital do Uruguai, reflete o padrão de vida acima da média regional obtido pelo país sul-americano. crédito: GETTY IMAGES -

O Uruguai é historicamente um país mais afluente e com melhor qualidade de vida que outras nações da América do Sul. O pequeno vizinho brasileiro, que faz fronteira com o Rio Grande do Sul, é conhecido por ter sistemas de educação e de previdência avançados e leis socialmente liberais.

Foi a primeira nação da América Latina a estabelecer um Estado de bem-estar social, mantido por meio de índices de tributação relativamente altos sobre a indústria. A tradição democrática uruguaia fez com que o país passasse a ser chamado de "Suíça da América do Sul". O setor agrícola é muito significativo, e o Uruguai é um grande exportador de carne.

Instabilidades política e econômica, porém, dominaram o Uruguai no começo dos anos 1970, inclusive com ataques de guerrilha urbana de esquerda. O governo da época suspendeu a Constituição e lançou um período autoritário de regime militar, que durou até 1985.

Montevidéo
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Montevidéu, capital do Uruguai, reflete o padrão de vida acima da média regional obtido pelo país sul-americano

Desde a restauração da democracia, sucessivos governos uruguaios liberalizaram a economia. Um dos setores que mais se beneficiaram foi o de turismo, movimentado pela atração gerada por pequenas cidades coloniais, resorts de praias e um clima ameno. O país vive um cenário político de estabilidade, especialmente em comparação com outras nações latino-americanas, com alternância de poder entre blocos de direita e esquerda.

Bicampeão mundial de futebol, o Uruguai conseguiu por meio do esporte uma projeção internacional muito maior do que o tamanho de sua população - de 3,5 milhões - poderia sugerir. No século 21, o país destacou-se ao aprovar, num espaço curto de tempo, a legalização do aborto e da maconha, tanto seu consumo como sua produção.

FATOS

LÍDER

Presidente: Luis Lacalle Pou

Luis Lacalle Pou
Reuters
A eleição de Luis Lacalle Pou encerrou um período de 15 anos em que a esquerda esteve no poder no Uruguai

Um dos mais jovens presidentes do Uruguai, Luis Lacalle Pou assumiu o comando do país em março de 2020, aos 46 anos de idade. Membro do Partido Nacional, uma legenda conservadora, ele derrotou em segundo turno Daniel Martinez, da esquerdista Frente Ampla, no pleito disputado em novembro de 2019. Ao longo da campanha, o principal tema que preocupava os eleitores era o aumento da criminalidade no país.

Foi a segunda tentativa de Lacalle Pou de chegar à Presidência, tendo sido derrotado quatro anos antes por Tabaré Vazquez. Seu pai, Luis Alberto Lacalle, também foi presidente do Uruguai entre 1990 e 1995.

Lacalle Pou interrompeu um ciclo de 15 anos em que o bloco de esquerda governou o Uruguai - com os presidentes Vázquez e José Mujica. Em sua posse, o novo presidente defendeu o Mercosul, mas também afirmou ser a favor de acordos bilaterais entre membros do bloco regional.

MÍDIA

Jornais e revistas no Uruguai
AFP
Os uruguaios têm acesso a uma grande oferta de veículos de imprensa

Os uruguaios têm acesso a uma ampla oferta de diferentes pontos de vista por meio dos veículos privados de mídia do país. A rádio e a televisão públicas são operadas pelo serviço oficial de radiodifusão, SODRE. Alguns jornais são de propriedade de - ou ligados a - partidos políticos.

A liberdade de expressão é garantida pela Constituição e, segundo a entidade Freedom House, é geralmente respeitada. Segundo a organização Repórteres Sem Fronteiras, uma lei de 2014 foi elogiada por encorajar a pluralidade na mídia e por estabelecer um regulador independente para o setor.

Segundo o InternetWorldStats.com, em dezembro de 2018, cerca de 3 milhões de uruguaios - 88% da população - acessavam a internet. O Facebook é a principal rede social usada no país.

RELAÇÕES COM O BRASIL

Brasil e Uruguai compartilham não apenas uma realidade e uma história próximas, mas já foram parte do mesmo reino e formaram o mesmo país. Um ano antes da declaração de independência do Brasil, o território uruguaio foi formalmente anexado por Portugal e passou a pertencer ao Reino Unido de Brasil, Portugal e Algarves, como Província Cisplatina. Com isso, assim que Dom Pedro 1º deu seu grito ao lado do Ipiranga, a Cisplatina passou a fazer parte do Brasil.

Não durou muito. A guerra entre Brasil e Argentina pela Cisplatina, iniciada em 1825, resultou na independência do território, que não ficou com nenhum dos lados do conflito. Nasceu assim o Uruguai, que tem laços culturais próximos à região sul do Brasil, especialmente o Estado do Rio Grande do Sul.

Assim como o Brasil, Paraguai e Argentina, o Uruguai é membro fundador do Mercosul, bloco lançado com a assinatura de um tratado em 1991. A nova entidade aumentou a interação política e o comércio entre as nações do Cone Sul, aproximando ainda mais Brasília e Montevidéu. Segundo o Ministério das Relações Exteriores brasileiro, o comércio entre os dois vizinhos aumentou de US$ 2,6 bilhões para US$ 4,2 bilhões por ano de 2008 a 2018.

A fronteira entre os dois países estende-se por 1.069 quilômetros. Entre as cidades de Jaguarão, no lado brasileiro, e Rio Branco, no lado uruguaio, foi erguida uma ponte no final da década de 1920. A Ponte Internacional Barão de Mauá, sobre o rio Jaguarão, foi reconhecida como patrimônio cultural do Mercosul.

Os governos brasileiro e uruguaio mantêm boas relações, situação vista ao longo da história independentemente da linha de governo existente em cada país. Em 2020, o presidente Jair Bolsonaro participou da posse do colega uruguaio, Luis Lacalle Pou.

LINHA DO TEMPO

Importantes datas na história do Uruguai:

1516 - O navegador espanhol Juan Diaz de Solis é morto por indígenas enquanto explorava o Rio da Prata. Sua morte desestimulou a colonização europeia da área por mais de cem anos.

1726 - Os espanhóis fundam Montevidéu e tomam dos portugueses o território correspondente ao atual Uruguai. Muitos dos indígenas da região são mortos.

1776 - Território à margem direita do Rio da Prata torna-se parte da Vice-realeza de La Plata, cuja capital é em Buenos Aires.

1816 - Forças portuguesas invadem o território do futuro Uruguai e, em 1821, o anexam ao Reino Unido de Brasil, Portugal e Algarves, como Província Cisplatina.

1822 - Com a declaração de independência do Brasil, a Província Cisplatina torna-se parte do território brasileiro.

1825 - Guerra entre Argentina e Brasil pela Província Cisplatina.

1828 - Fim do conflito. Em acordo, Argentina e Brasil retiram suas respectivas reinvindicações de posse da Cisplatina, que se torna independente como República Oriental do Uruguai.

1838-65 - Guerra civil entre Brancos - os futuros conservadores - e Colorados - os futuros liberais.

1865-70 - Guerra do Paraguai - também conhecida como Guerra da Tríplice Aliança. O Uruguai se une a Argentina e Brasil contra o Paraguai, que é derrotado.

1903-15 - Em seus dois mandatos consecutivos como presidente, o reformista José Batlle y Ordonez, do Partido Colorado, dá às mulheres o direito a voto, estabelece o Estado de bem-estar social e elimina a pena de morte.

1939-45 - Segunda Guerra Mundial. O Uruguai fica neutro durante grande parte do conflito, mas se une aos Aliados mais tarde.

Anos 1960 - Surgimento do grupo armado de esquerda Tupamaros, que organiza ataques de guerrilha. As Forças Armadas lançam uma violenta resposta.

1973 - Golpe de Estado introduz regime militar, caracterizado por extrema repressão. No período, o Uruguai é chamado por muitos de "a câmara de tortura da América Latina" e acumula o maior número de prisioneiros políticos per capita do mundo.

1984 - Protestos violentos contra a repressão e a deterioração da economia.

1985 - O Exército e líderes políticos concordam com o retorno a um governo constitucional e a libertação de presos políticos. Legislação concede anistia a membros das Forças Armadas acusados de violações de direitos humanos durante os anos da ditadura. Julio Maria Sanguinetti torna-se presidente.

1989 - Referendo endossa a anistia a acusados de abusos de direito humanos.

2002 - Uruguai rompe relações diplomáticas com Cuba. A decisão ocorre após Havana acusar o país de estar operando a mando dos Estados Unidos quando patrocinou uma resolução da ONU pedindo que Cuba implementasse reformas para proteger direitos humanos.

2004 - Candidato esquerdista Tabaré Vázquez vence as eleições presidenciais, provocando uma dramática mudança na política uruguaia.

2005 - Tabará Vázquez assume a Presidência e logo reata as relações com Cuba, assina um acordo de energia com a Venezuela e anuncia um pacote de assistência para combater a pobreza.

2007 - Ex-presidente e ditador Juan Maria Bordaberry e seu ex-ministro do Exterior são presos em conexão com o assassinato de quatro opositores políticos em 1976.

2009 - A Suprema Corte decide que a legislação protegendo oficiais do regime militar de processos judiciais por abusos contra direitos humanos é inconstitucional. O ex-governante militar Gregorio Alvarez é condenado a 25 anos de prisão por assassinato e violação de direitos humanos. O ex-rebelde de esquerda e ex-preso político José Mujica, da Frente Ampla, vence a eleição presidencial.

2010 - Mujica assume a Presidência. O ex-presidente Bordaberry é condenado a 30 anos de prisão por assassinato e violação da Constituição no golpe miliar de 1973. Devido a sua idade avançada, ele cumpre a sentença em casa e morre no ano seguinte.

José Mujica
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O ex-prisioneiro político de esquerda José Mujica tornou-se presidente do Uruguai em 2010

2011 - O Congresso uruguaio aprova a revogação da lei de anistia que protegia oficiais militares de processos por crimes cometidos durante o regime militar de 1975 a 1983.

2012 - O Uruguai torna-se o primeiro país latino-americano depois de Cuba a legalizar o aborto para todas as mulheres - até 12 semanas de gravidez.

2013 - O Uruguai torna-se o primeiro país a legalizar o cultivo, a venda e o consumo de maconha para uso recreativo, como medida para combater o poder dos traficantes de drogas. A agência para drogas da ONU diz que a medida viola a legislação internacional.

2018 - O país é o primeiro do mundo a produzir e vender maconha legalmente para uso recreativo.

2019 - Vitória do conservador Luis Lacalle Pou encerra período de 15 anos da esquerda no poder no Uruguai.

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