Torcedores de futebol "morreram nos braços" de jogadores durante um tumulto no estádio Kanjuruhan, na Indonésia, disse o técnico do time da casa.
Javier Roca disse que a tragédia na partida em Java, na qual pelo menos 125 pessoas perderam a vida, o deixou "mentalmente abalado". O número de crianças mortas na confusão subiu para 32.
As autoridades dizem que a vítima mais jovem do desastre de sábado tinha apenas três anos.
Cerca de 18 policiais estão sendo investigados depois que a polícia disparou gás lacrimogêneo contra torcedores que invadiram o campo quando a partida terminou.
O chefe de polícia da cidade de Malang, onde o jogo foi disputado, foi demitido. Pelo menos outros nove oficiais foram suspensos.
Mais de 320 outras pessoas ficaram feridas quando torcedores foram pisoteados e sufocados enquanto fugiam do gás. O vice-ministro de Assuntos Infantis e Femininos da Indonésia disse que as crianças tinham entre três e 17 anos.
Uma testemunha ocular disse à BBC que a polícia disparou várias cápsulas de gás "contínua e rapidamente" depois que a situação com as torcidas ficou "tensa". Os torcedores da equipe da casa, Arema FC, entraram em campo quando o jogo terminou com uma derrota por 3-2 para o rival Persebaya Surabaya.
Vídeos nas redes sociais mostram torcedores escalando cercas para escapar. Vídeos também pareciam mostrar corpos sem vida no chão.
Uma testemunha, Chandra, disse à BBC que um "mar de fumaça" nas arquibancadas causou pânico instantâneo entre os espectadores. "Crianças choravam, mulheres desmaiavam, gritos eram ouvidos em todos os lugares, todos saíam em bando", disse ele.
Outro torcedor, Eko, disse que não conseguiu sair pelas portas da arquibancada devido ao número de pessoas tentando fugir.
"Voltei para o alto das arquibancadas com os amigos. Depois usei um lenço para me proteger da fumaça. Depois pulei no campo e desci pela porta lateral", disse.
Ester Andayanengtyas disse à BBC que sua filha Debora, de 17 anos, sofreu ferimentos graves, incluindo uma fratura no pescoço e trauma cerebral.
"Pedi a ela para não assistir ao jogo naquele dia. Ela não voltou para casa, de manhã seus amigos estavam procurando por ela", disse Andayanengtyas. "Nós a procuramos no pronto-socorro, mas ela não estava lá. O hospital nos disse para procurar no necrotério. A confusão aconteceu porque minha filha não havia levado documento de identidade."
Outras testemunhas relataram ter ouvido pais gritando "onde está meu filho?" em meio ao caos, e um homem disse à BBC que viu pais desmaiando enquanto protegiam seus filhos.
"Uma mãe desmaiou ao abraçar seu filho, ao lado dela o menino desmaiou", disse ele. "Então alguns torcedores pegaram a mãe e o menino para sair do estádio. Eles foram levados inconscientes - talvez por causa do gás lacrimogêneo."
'Passou dos limites'
Muhamad Dipo Maulana, de 21 anos, que estava na partida, disse à BBC Indonésia que, após o término do jogo, alguns torcedores do Arema entraram em campo para protestar contra os jogadores da equipe da casa, mas foram imediatamente interceptados pela polícia e "espancados".
Mais espectadores entraram em campo em protesto, disse o torcedor.
"A polícia atuou com cães, escudos e soldados", disse Dipo à BBC. Ele disse ter ouvido mais de 20 disparos de gás lacrimogêneo contra espectadores no estádio.
O porta-voz da polícia, Dedi Prasetyo, disse a repórteres que os policiais sob investigação "eram responsáveis ??por segurar" as armas e disse que estavam sendo interrogados por uma equipe de assuntos internos.
Ele acrescentou que vários outros oficiais, incluindo a equipe de segurança de campo, e alguns oficiais da liga de futebol indonésia, também estão sob investigação.
A comissão de direitos humanos da Indonésia disse que conduzirá sua própria investigação sobre o desastre, e o presidente Joko Widodo ordenou que todos os jogos da liga principal da Indonésia sejam interrompidos até que a investigação oficial seja realizada.
A Anistia Internacional disse que a resposta da polícia foi "uso de força excessiva por parte do Estado" para controlar uma multidão desarmada, e manifestantes na capital Jacarta na noite de domingo carregavam cartazes que diziam "chega de violência policial".
A polícia da Indonésia já havia sofrido críticas pelo uso frequente de gás lacrimogêneo em estádios lotados.
Enquanto isso, Roca, treinador do Arema FC, disse à emissora espanhola Cadena Ser que achava que "a polícia passou dos limites" nos esforços para controlar a multidão.
O anúncio da investigação ocorre depois que a Fifa, órgão máximo do futebol mundial, chamou o desastre de "um dia sombrio para todos os envolvidos no futebol e uma tragédia incompreensível".
Os próprios regulamentos da Fifa dizem que nenhum "gás de controle de multidão" deve ser transportado ou usado por comissários ou policiais nos jogos e o órgão solicitou um relatório sobre o incidente à federação de futebol da Indonésia.
O ministro da Segurança, Mahfud MD, escreveu no Instagram que o estádio estava superlotado, com mais de 42.000 ingressos vendidos para uma capacidade de 38.000 pessoas.
"Tornou-se anárquico. Eles começaram a atacar policiais, danificaram carros", disse Nico Afinta, chefe de polícia em Java Oriental, acrescentando que dois policiais estavam entre os mortos.
"Gostaríamos de enfatizar que nem todos foram anárquicos. Apenas cerca de 3.000 que entraram em campo", disse ele.
Os torcedores em fuga "saíram para um ponto na saída. Depois houve uma aglomeração e pessoas ficaram sem ar, sufocaram", acrescentou o oficial.
- Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/internacional-63125853
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