Para Shahrzad Changalvaee, artista e professora universitária de 38 anos, uma revolução está em andamento em seu país natal. "Não queremos que esse regime seja menos duro, desejamos que ele caia", afirmou ao Correio a iraniana que, em 2013, trocou Teerã por Nova York. Ela lembra que sua geração passou 25 anos tentando fazer "reformas", por meio do voto e dos protestos. "O regime se baseia na discriminação, na opressão e na segregação. É impossível progresso dentro dessa estrutura corrupta. Queremos leis seculares, baseadas na igualdade", contou, no mesmo dia em que manifestações se espalhavam pelo Irã e ganhavam a adesão de iranianas em 159 cidades ao redor do mundo.
Em mais um grito por Mahsa Amini — a jovem de 22 anos que morreu após ser presa pela polícia moral do Irã por não usar adequadamente o hijab (véu islâmico) —, a ativista e pós-doutoranda iraniana Forouzan Farahani, 31, rapou o cabelo, durante protesto diante da sede do jornal The New York Times, na última terça-feira. "Nós, iranianas, temos de cobrir nosso cabelo e corpo quando começamos a ir à escola. Esse é o único jeito que a República Islâmica faz para controlar nosso corpo e nossa autonomia. Cortei o cabelo em solidariedade às mulheres no Irã. Quis mostrar que não podem mais controlar nosso corpo", desabafou ao Correio. "Enquanto rapava o cabelo, pensava na opressão. Eu me lembrei que uma mulher foi morta por não cobrir o corpo e o cabelo. Fiquei triste e nervosa."
No Irã, estudantes se reuniram, ontem, na Praça Enghelab (Revolução), próximo à Universidade de Teerã, para cobrar a libertação de colegas detidos na véspera. Também houve protestos em Mashhad, a segunda cidade mais populosa do país, e em Karaj. Mulheres removeram os hijabs e gritavam palavras de ordem.
Farahani explicou que os iranianos não somente se manifestam contra o uso compulsório do hijab, mas contra uma oligarquia religiosa. "As mulheres enfrentam mais a opressão. Por isso, queimam o véu e cortam o cabelo. Elas não pedem mudança, pedem uma revolução."
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