Ucrânia

Tropas da Ucrânia expulsam russos de cidade anexada

Soldados ucranianos renconquistam Lyman, na região de Donetsk, um dia depois de Putin anunciar a incorporação ao território da Rússia. Líder checheno pede ao Kremlin uso de arma nuclear. Kiev acusa invasores de matarem 24 civis a tiros

Rodrigo Craveiro
postado em 02/10/2022 05:00
 (crédito: Genya Savilov/AFP)
(crédito: Genya Savilov/AFP)

As primeiras notícias davam conta que as forças ucranianas haviam cercado 5 mil soldados russos na cidade de Lyman, em Donetsk — região ao leste do país anexada por Vladimir Putin na véspera. "Hasteamos nossa bandeira nacional e a colocamos em nosso território. Lyman sempre fará parte da Ucrânia", afirmou, em um vídeo, um dos militares de Kiev. Quase no mesmo instante, as forças de Moscou abandonavam a localidade. "Ameaçadas com o cerco, as tropas aliadas se retiraram de Lyman para linhas mais favoráveis", afirmou o ministério da Defesa da Rússia, por meio de um comunicado.

Ante mais uma vitória no front, o líder checheno, Ramzan Kadyrov, aliado do Kremlin, pediu a Putin que lance mão do arsenal atômico. "Na minha opinião, deveríamos tomar medidas mais drásticas, como a declaração da lei marcial na fronteira e o uso de armas nucleares de baixa potência", declarou, em comunicado enviado por meio do aplicativo Telegram. "Não há necesside de tomar toda decisão com a comunidade ocidental em mente."

Em entrevista ao Correio, Peter Zalmayev — diretor da ONG Eurasia Democracy Initiative (em Kiev) — avaliou a situação como bastante irônica. "Na sexta-feira, Putin tinha anunciado a anexação de 17% do território ucraniano. A parte anexada tem sido disputada pelos ucranianos. Lyman é um importante centro por vários motivos. Ele permite abrir as portas para o resto da região de Luhansk", afirmou.

Zalmayev disse que soube, por meio de fontes em Lyman, que uma grande quantidade de armas e de foguetes foi apreendida pelos ucranianos. "A tomada de Lyman é sinal de que Putin não confia em seus generais, os quais se mostraram incapazes. Soubemos que Putin tem tomado decisões táticas sobre os combates na Ucrânia; daí o resultado."

Fragilidade

Professor de política comparativa da Universidade Nacional de Kiev-Mohyla, Olexiy Haran considera curioso o fato de a Rússia não possuir o controle total de Donetsk e, mesmo assim, ter anexado o território, além de Luhansk (também no leste) e de Zaporizhzhia e Kherson (ambas no sudeste). "Centros administrativos de Donetsk, como Kramatorsk, Sloviansk, Kostiantynivka e Druzhkivka, estão sob domínio da Ucrânia. Agora, os ucranianos liberaram Lyman. Todas as ideias sobre um referendo falso e sobre as anexações são símbolos da fragilidade russa", admitiu à reportagem.

Haran não esconde a preocupação com o anúncio da prisão de Ihor Murashov, diretor da usina nuclear de Zaporizhzhia, pelas forças russas. "Não se sabe onde ele estaria agora. É mais um comportamento inacreditável da Rússia em relação a objetivos nucleares. Isso cria um grande perigo para a Europa e para o mundo. Zaporizhzhia é a maior central atômica do continente."

Especialista em armas de destruição em massa do Instituto para Pesquisas de Desarmamento das Nações Unidas (Unidir, pela sigla em inglês), Pavel Podvig lembrou ao Correio que o líder checheno Ramzan Kadyrov não foi a primeira pessoa a propor o uso de armas nucleares. "Analistas e jornalistas russos chegaram a pedir ataques desse tipo. É preciso ter em mente que armas nucleares têm impacto com baixo valor militar. A ideia de que seriam uma varinha mágica, que resolveria problemas, é errada. Esse arsenal não é útil no campo de batalha", explicou ao Correio, por telefone, de Genebra.

No front, a Ucrânia acusou as forças russas de matarem a tiros 24 civis, entre eles 13 crianças e uma gestante, durante emboscada em um comboio perto de Kupiansk, cidade reconquistada pela Ucrânia. "Os russos atiraram contra civis à queima-roupa", denunciou o governador regional de Kharkiv, Oleg Synegubov.

Brasil

O Brasil se absteve em votação no Conselho de Segurança da ONU de resolução condenando a anexação pela Rússia. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva usou o Twitter para comentar o fato: "A única posição que interessa ao Brasil na questão da Ucrânia e Rússia é a paz".

 


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  • (FILES) In this file photo taken on December 8, 2018 Head of the Chechen republic Ramzan Kadyrov attends the plenary session at the United Russia Party's 18th convention in Moscow. The US State Department placed Chechen Republic leader Ramzan Kadyrov on its blacklist of human rights violators on July 20, 2020 for alleged torture, extrajudicial killings and other violations it said go back more than a decade. / AFP / Kirill KUDRYAVTSEV
    (FILES) In this file photo taken on December 8, 2018 Head of the Chechen republic Ramzan Kadyrov attends the plenary session at the United Russia Party's 18th convention in Moscow. The US State Department placed Chechen Republic leader Ramzan Kadyrov on its blacklist of human rights violators on July 20, 2020 for alleged torture, extrajudicial killings and other violations it said go back more than a decade. / AFP / Kirill KUDRYAVTSEV Foto: KIRILL KUDRYAVTSEV
  • Soldados exibem bandeira ucraniana, na cidade de Lyman: reconquista
    Soldados exibem bandeira ucraniana, na cidade de Lyman: reconquista Foto: Illia Ponomarenko/Twitter

Eu acho...

 (crédito: Arquivo pessoal )
crédito: Arquivo pessoal

EU ACHO...

"Na sexta-feira, o Conselho de Segurança da ONU votou uma resolução condenando as chamadas anexações e exigindo à Rússia que deixasse o território ucraniano. A Rússia vetou o texto. O interessante é que China e Brasil, infelizmente, declararam a abstenção. Eu me lembro que o Brasil votou em favor de uma resolução, em março, denunciando a agressão russa. Esperamos que o Brasil continue a apoiar a integridade territorial da Ucrânia."

Olexiy Haran,professor de política comparativa da Universidade Nacional de Kiev-Mohyla

 

"É importante enviar um sinal de condenação ao uso de armas nuclearese ter a certeza de que a comunidade internacional esteja unida nessa posição. O Brasil tem um papel nisso. Em junho, os países que fazem parte do Tratado de Proibição de Armas Nucleares emitiram um comunicado no qual condenam qualquer tipo de ameaça nuclear. O Brasil assinou o acordo e o ratificou, mas não se tornou parte formal da declaração. Será muito importante para países como Brasil, Índia e China deixarem sua declaração muito clara de que qualquer ameaça de uso de arma nuclear é inaceitável."

Pavel Podvig, especialista em armas de destruição em massa do Instituto para Pesquisas de Desarmamento das Nações Unidas (Unidir, pela sigla em inglês)

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