Reforma previdenciária

Suíços aprovam reforma previdenciária que eleva idade de aposentadoria das mulheres

O resultado da votação "é doloroso para a esquerda e para os sindicatos, mas sobretudo para as pessoas afetadas", disse Samuel Bendahan, conselheiro nacional do PS

Os suíços aprovaram, por uma pequena margem, o controverso plano de reforma previdenciária do governo, que aumenta a idade de aposentadoria para as mulheres. Apenas 50,57% dos suíços aceitaram a reforma.

Depois de duas tentativas anteriores, em 2004 e 2017, Berna conseguiu assim votos suficientes para "estabilizar" o sistema previdenciário, em risco pelo aumento da expectativa de vida e pela enorme geração baby boomer chegando à idade de aposentadoria.

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A parte mais polêmica da reforma estipula que as mulheres trabalhem até os 65 anos para receber aposentadoria integral, em vez de permitir que saiam um ano antes dos homens, como acontece atualmente.

As medidas, que incluem também o aumento do IVA (Imposto sobre o Valor Agregado), foram aprovadas no ano passado pelo Parlamento, mas partidos de esquerda e sindicatos criticaram que a reforma seria feita "às custas das mulheres". É por isso que levaram a questão a um referendo sob o sistema suíço de democracia direta.

Disparidade salarial 

Os defensores da reforma argumentaram ser razoável estabelecer a mesma idade de aposentadoria para homens e mulheres, mas a medida gerou rejeição, principalmente entre as mulheres.

Os opositores, porém, apontaram que as mulheres enfrentam discriminação e disparidade salarial na Suíça, resultando em pensões mais baixas do que as dos homens. E salientaram que é injusto aumentar a idade da reforma sem antes resolver estas questões.

Em 2020, as mulheres na Suíça receberam, em média, pensões quase 35% mais baixas do que os homens, de acordo com o Ministério da Economia.

O resultado da votação “é doloroso para a esquerda e para os sindicatos, mas sobretudo para as pessoas afetadas”, disse Samuel Bendahan, conselheiro nacional do PS, na televisão pública RTS.

Pecuária intensiva

Por outro lado, a iniciativa de banir a pecuária intensiva, erradicando as explorações industriais neste país ainda predominantemente rural, embora a agricultura tenha um peso relativamente pequeno na riqueza nacional, foi rejeitada, com 63% de votos contra.

As organizações de defesa dos animais que pressionaram a medida queriam dar proteção constitucional a animais de criação, como vacas, galinhas e porcos.

"Acreditamos que a criação de animais é uma das questões que definem nosso tempo", disse em seu site o grupo de bem-estar animal Sentience, que lançou a iniciativa.

A proposta, apoiada por partidos de esquerda e organizações ambientalistas como o Greenpeace, buscava impor requisitos mínimos para o cuidado dos animais, seu acesso ao exterior e práticas de abate.

Os regulamentos também se aplicariam à importação de produtos de origem animal. O governo e o Parlamento rejeitaram a iniciativa, insistindo que a Suíça já possui uma das leis de bem-estar animal mais rígidas do mundo.

Pela lei atual, as fazendas não podem ter mais de 1.500 porcos de engorda, 27.000 frangos de abate ou 300 bezerros, o que as impediria de ter fazendas industriais como as de outros países.

Berna havia alertado que o aperto dessas regras causaria um forte aumento nos preços e a cláusula de importação afetaria as relações com seus parceiros comerciais.

Tais argumentos parecem ter convencido um número crescente de suíços. Os suíços também votaram sobre questões regionais, incluindo uma do cantão de Berna para reduzir a idade de voto de 18 para 16 anos.

Muitas pessoas votam cedo nas consultas populares que a Suíça realiza regularmente, e as urnas ficam abertas por algumas horas no dia da votação.

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