A faixa de terra que compõe a passagem de Tsanfleuron ficou escondida desde a era romana, há 2.000 anos, até que o inverno seco e o tórrido verão europeu liquidaram o gelo que a cobria. A passagem se encontra na união desta geleira com a de Scex Rouge, de cerca 2.800 metros de altitude, entre o cantão de Vaud e de Valais, no sudoeste da Suíça. É também local da estação de esqui Glacier 3000.
Há vários dias, é possível ver a faixa de terra totalmente descoberta, apesar de que "em 2021, uma medição revelou uma espessura de gelo de cerca de 15 metros nessa área", afirmou um comunicado da Glacier 3000.
Para Mauro Fischer, especialista da Universidade de Berna, "a perda de espessura das geleiras da região dos Diablerets será, em média, três vezes superior este ano em comparação com os últimos 10 anos".
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Metade a menos
Mas o fenômeno do degelo - atualmente, acelerado - não ocorre apenas nesta parte da Suíça. As geleiras perderam cerca de 50% de seu volume desde 1931, segundo um estudo publicado em agosto pela revista científica La Cryosphère por pesquisadores que, pela primeira vez, conseguiram reconstituir o recuo das geleiras no século XX.
O derretimento do gelo nos Alpes -que os especialistas atribuem à mudança climática - está sendo observado com atenção desde o início dos anos 2000, mas até agora, pouco se sabia sobre sua evolução nas décadas anteriores.
Para o estudo, foram utilizadas imagens de arquivo (21.700 fotografias tiradas entre 1916 e 1947) que cobrem 86% da superfície glacial suíça e estereofotogrametria, uma técnica que determina a natureza, forma e posição de um objeto utilizando imagens.
Segundo estes especialistas da Escola Politécnica de Zurique (EPFZ) e do Instituto Federal para Pesquisas em Florestas, Neve e Paisagens (WSL), "comparando com dados dos anos 2000, (...) se reduziram à metade entre 1931 e 2016".
No entanto, os pesquisadores concluíram que as geleiras não reduziram de forma contínua no último século: houve inclusive épocas de aumento de sua massa nos anos 1920 e 1980.
Atualmente, o gelo derrete cada vez mais rápido: em apenas seis anos (entre 2016 e 2022), perderam 12% de seu volume, segundo a rede de monitoramento de geleiras suíças GLAMOS.
Matthias Huss, diretor da GLAMOS, destaca a gravidade de situação este ano. "Outros anos, como em 2011, 2015, 2018 e mesmo em 2019 já vimos um degelo muito forte. (Mas) o ano 2022 é realmente diferente e bate todos os recordes", declarou a agência ATS-Keystone.
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