O rei Charles III discursou nesta segunda-feira (12/9) pela primeira vez no Parlamento britânico e afirmou que sente "o peso da História" após a morte de sua mãe, a rainha Elizabeth II. Os súditos poderão prestar condolências nos próximos dias diante do caixão da monarca, começando por uma vigília na Escócia.
"Diante de vocês, não posso deixar de sentir o peso da História que nos cerca e que nos lembra das tradições parlamentares vitais a que os membros das duas Câmaras se dedicam com tanto compromisso", afirmou o monarca, de 73 anos, em seu primeiro discurso para a Câmara dos Comuns e a Câmara dos Lordes, reunidas em Westminster.
Elizabeth II faleceu na quinta-feira (8) aos 96 anos no Castelo de Balmoral, residência de verão da família real na Escócia.
Desde então, o país se prepara para a despedida da rainha em um funeral de Estado que acontecerá em 19 de setembro na Abadia de Westminster.
Até a data, britânicos e estrangeiros terão vários dias para prestar a última homenagem.
A primeira capela funerária abrirá as portas em Edimburgo às 16H00 GMT (13H00 de Brasília) desta segunda-feira, após uma cerimônia religiosa na catedral de Saint Giles.
No domingo, milhares de pessoas receberam com aplausos e emoção a chegada do caixão à capital escocesa.
"Esteve constantemente em nossas vidas, nas cédulas de dinheiro, nos selos, em todas as partes", comentou à AFP Lucy Hampshire.
Para Rob Parsons, de 28 anos, "ver o caixão é uma forma de aceitar que é o fim de uma era".
"Após a mais triste das viagens (...) chegou a hora do longo adeus", afirma o jornal Daily Mail.
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Sem jatos privados ou helicópteros
A 'Royal Company of Archers', que protege os monarcas na Escócia, vigiou o caixão por toda a noite na sala do trono do Palácio de Holyroodhouse.
No início da tarde (hora local), o caixão sairá em procissão rumo a Saint Giles, seguido a pé por Charles III e Camilla, a rainha consorte, e o restante da família real de carro.
Seguindo a tradição, o rei e seus irmãos devem participar em uma vigília. O caixão da rainha permanecerá na catedral até a tarde de terça-feira para um último adeus dos escoceses.
Depois, um avião transportará o corpo até Londres, para vários dias de homenagens da população e o funeral de Estado. O sepultamento também acontecerá em 19 de setembro em Windsor.
As autoridades calculam que até 750.000 pessoas podem tentar participar na despedida da monarca na Abadia de Westminster, onde estão previstas filas de até oito quilômetros.
"É provável que a fila seja muito longa. Terão que esperar muitas horas, às vezes de noite e com poucas oportunidades de sentar", advertiu o governo.
O funeral da soberana que conheceu 15 primeiros-ministros - de Winston Churchill, nascido em 1874, até a atual chefe de Governo, Liz Truss, nascida em 1975 - terá as presenças de vários líderes mundiais.
O presidente americano Joe Biden confirmou sua presença em um evento que também deve contar com a participação do presidente brasileiro Jair Bolsonaro, além de representantes das monarquias do mundo, incluindo possivelmente o rei da Espanha Felipe VI e o imperador Naruhito do Japão.
As autoridades britânicas pediram aos convidados estrangeiros que utilizem, "quando possível", voos comerciais e não jatos privados para viajar a Londres, onde serão utilizados ônibus no lugar de helicópteros e carros particulares para seus deslocamentos, de acordo com documentos do ministério das Relações Exteriores aos quais o site Politico teve acesso.
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A União em "perigo"
Charles III assume cada vez mais as funções de chefe de Estado e líder da família real.
Seu filho mais novo, Harry, de 37 anos, prometeu nesta segunda-feira "honrar" o pai em seu novo papel, suavizando uma relação tensa com Charles e o irmão mais velho, William, desde que ele e a esposa Meghan abandonaram a monarquia em 2020 e se mudaram para a Califórnia.
O novo monarca também inicia nesta segunda-feira uma delicada viagem pelas nações que integram o Reino Unido.
Em sua primeira etapa, a Escócia, a morte de Elizabeth II provoca a retomada do debate sobre a independência, tema que a primeira-ministra Nicola Sturgeon deseja submeter a um referendo em 2023.
"O rei Charles ama a Escócia tanto como a rainha, mas simplesmente não tem sua autoridade", alertou no jornal Daily Mail o jornalista Andrew Neil.
"A união provavelmente corre mais perigo agora que ela não está mais aqui", destacou.
Na terça-feira, ele visitará a Irlanda do Norte, onde o partido Sinn Fein, que defende a reunificação com a vizinha República da Irlanda, não participou na cerimônia de proclamação do novo rei.