Autoridades paquistanesas estão lutando para impedir que as margens do maior lago do país se rompam depois que as últimas tentativas de baixar os níveis de água falharam. O lago Manchar, na província de Sindh, está perigosamente cheio após as chuvas recordes da temporada de monções inundarem um terço do território do Paquistão. Três flancos abertos nas margens do lago - para proteger áreas a jusante - causaram o deslocamento de mais de 100 mil pessoas.
Mas o lago ainda pode transbordar e as equipes de resgate estão correndo para retirar mais pessoas que permanecem em risco de afogamento. As inundações afetaram cerca de 33 milhões de pessoas e mataram pelo menos 1.314, incluindo 458 crianças, segundo a Agência Nacional de Gerenciamento de Desastres do Paquistão.
As estimativas apontam que as inundações causaram pelo menos US$ 10 bilhões (R$ 52,3 bilhões) em danos. A província de Sindh produz metade dos alimentos do país, exacerbando os temores de que muitos enfrentarão uma séria escassez de alimentos em um país que já atravessa uma grave crise econômica.
No domingo, as autoridades fizeram uma intervenção no lago Manchar que causou a inundação de duas cidades rurais. A intenção do poder público é impedir que ele rompa ainda mais suas margens e inunde regiões mais densamente povoadas.
O movimento afetou cerca de 400 aldeias - um total de 135 mil pessoas. A decisão de inundar deliberadamente algumas áreas é controversa. O lago se estende por dois distritos, Dadu e Jamshoro, e ambos abrigam centenas de milhares de pessoas e cerca de 80% da região está submersa.
Os moradores afetados pelo rompimento controlado foram avisados para deixar a região. Mas fontes locais dizem que nem todos foram retirados a tempo - alguns não quiseram deixar suas casas ou abandonar o gado.
Os militares foram chamados para ajudar na remoção, mas são principalmente os moradores locais que estão se ajudando e convencendo uns aos outros a sair.
Alguns que deixaram suas casas nos últimos dias antes do rompimento do Manchar foram levados para uma instalação administrada pelo governo nas proximidades. O local está sendo usado como abrigo, mas as condições deixam muito a desejar.
Muitas pessoas desabrigadas estão vivendo à beira da estrada, sem comida ou água potável.
"Não temos nada aqui. Tentamos encontrar comida para nossos filhos o dia todo, algumas noites dormimos sem comida", disse uma mulher à BBC.
"Estamos com medo de que o telhado desabe sobre nós - está danificado", disse outro aldeão. "Nossos filhos estão ficando doentes e dormimos no chão - não há camas para muitos de nós."
Autoridades disseram que pouco mais de 250 mil pessoas estão em abrigos, uma fração dos 33 milhões de paquistaneses afetados. Os esforços de socorro não conseguem acompanhar a demanda - há simplesmente muita necessidade e poucos recursos.
A infraestrutura danificada também está dificultando as operações de ajuda e resgate. Algumas estradas de conexão na província de Sindh desabaram, estão inundadas ou ficam bloqueadas por dias com filas de tráfego intenso.
O Paquistão está enfrentando um de seus piores desastres naturais em anos, já que chuvas torrenciais recordes e derretimento de geleiras nas montanhas do norte do país causaram enchentes devastadoras e submergiram quase um terço de seu território.
Enquanto isso, o fundo da ONU que cuida da infância, o Unicef, disse que mais crianças correm o risco de morrer no Paquistão devido à escassez de água potável.
O desastre também destacou a grande disparidade entre os países que são os maiores contribuintes para as mudanças climáticas e os países que sofrem o peso de seu impacto.
O Paquistão produz menos de 1% das emissões globais de gases de efeito estufa, mas sua geografia o torna extremamente vulnerável às mudanças climáticas.
Texto com colaboração de Zubaidah AbdulJalil
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