Ucrânia

Anexações de territórios na Ucrânia escalam a guerra da Rússia

O presidente norte-americano, Joe Biden, enfatizou que os EUA não acatarão os resultados dos referendos "orquestrados pela Rússia" na Ucrânia

Rodrigo Craveiro
postado em 30/09/2022 06:00
 (crédito: Alexander Nemenov/AFP)
(crédito: Alexander Nemenov/AFP)

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, assinará, às 15h de hoje (9h em Brasília), o tratado de anexação das regiões ucranianas ocupadas de Zaporizhzhia e Kherson (sul) e de Donetsk e Luhansk (leste). A informação foi confirmada pelo Kremlin, segundo o qual o líder russo fará um discurso no Parlamento, na próxima terça-feira. Além de uma escalada sem precedentes na guerra, que chegou hoje ao 218º dia, a anexação aumenta o perigo de um ataque nuclear. O próprio Putin tem ameaçado utilizar armas atômicas táticas caso os territórios incorporados à Rússia sofram uma agressão por parte da Ucrânia. No fim da noite de ontem, o líder do Kremlin reconheceu a independência das regiões de Zaporizhzhia e de Kherson.

O presidente norte-americano, Joe Biden, enfatizou que os EUA não acatarão os resultados dos referendos "orquestrados pela Rússia" na Ucrânia. Ele descreveu as consultas como "uma violação flagrante" dos princípios internacionais. "Quero ser muito claro sobre isso. Os Estados Unidos nunca, nunca, nunca vão reconhecer as reivindicações da Rússia sobre o território soberano da Ucrânia", afirmou.

"Ninguém pode descartar o uso de armas nucleares pela Rússia. Ainda que muitos especialistas considerem isso improvável, a possibilidade de isso ocorrer não é zero", disse ao Correio Peter Zalmayev, diretor da ONG Eurasia Democracy Initiative (em Kiev). Ele lembrou que o próprio Putin teria afirmado, certa vez, que quando um rato se sente encurralado não há opção diferente de atacar com extrema violência. "Putin tentará ver se o aumento da mobilização de reservistas surtirá efeito. Um ataque nuclear poderá ser uma última cartada", avaliou.

Convocações

Zalmayev acredita que, logo após as anexações, o Kremlin convocará 80 mil reservistas das quatro regiões incorporadas para lutarem contra a Ucrânia. "Não creio que essas pessoas se reconhecerão como cidadãos russos. Elas votaram sob a mira de uma arma. O comparecimento às urnas foi em torno de 10% da população. Sob qualquer prisma, não existe legitimidade alguma no processo, que é uma violação do direito internacional e da ordem pós-Segunda Mundial", comentou. "Você não anexa territórios de nações vizinhas mais frágeis apenas porque deseja."

Olexiy Haran, professor de política comparativa da Universidade Nacional de Kiev-Mohyla, concorda com Zalmayev e denuncia uma "violação de territórios, algo inimaginável para o direito internacional". "O referendo falso é desprovido de legalidade. Assistimos a vídeos de soldados acompanhando as pessoas até a seção eleitoral ou invadindo casas. Em Zaporizhzhia, as autoridades ucranianas estimam em 0,5% o total de votantes", disse à reportagem.

Haran interpreta a ameaça nuclear como um "blefe" e "uma tentativa de intimidar" o Ocidente. "Os EUA e aliados devem reagir de forma muito contundente para prevenir esse desdobramento. Um ataque de uma potência nuclear a um Estado não-nuclear seria uma loucura." 

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