O poderoso príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohamed bin Salman, foi nomeado primeiro-ministro, um cargo tradicionalmente exercido pelo rei, anunciou um decreto real nesta terça-feira (27/9).
Mohamed bin Salman "será o primeiro-ministro" do reino petroleiro, indicou o decreto do rei Salman, publicado pela agência oficial Saudi Press Agency.
Líder de fato do país há vários anos, Mohamed bin Salman atuou anteriormente como vice-primeiro-ministro e como ministro da Defesa.
Neste último cargo, será substituído por seu irmão mais novo, Khalid bin Salman, até agora vice-ministro da pasta.
Como parte da remodelação do governo anunciada na terça-feira (27/9), titulares de outros ministérios importantes, como Interior, Relações Exteriores e Energia, permanecem nos cargos, de acordo com o decreto real.
O príncipe herdeiro, que completou 37 anos no mês passado, é o primeiro na linha de sucessão ao trono, ocupado por seu pai Salman, de 86 anos.
O rei Salman foi hospitalizado duas vezes este ano, a última vez em maio, quando passou uma semana no hospital para uma bateria de exames, incluindo uma colonoscopia, segundo a imprensa oficial.
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Interlocutor inevitável
O príncipe Mohamed, às vezes chamado pela sigla MBS, se tornou ministro da Defesa em 2015, um passo-chave na consolidação de seu poder.
No cargo, supervisionou as atividades militares da Arábia Saudita no Iêmen, desde que o reino lidera uma coalizão internacional que apoia e reconhece o governo em sua luta contra os rebeldes houthis, aliados do Irã.
Também virou um rosto visível da agenda de reformas conhecida como Visão 2030. Entre as mudanças estão garantir às mulheres o direito de dirigir, abrir salas de cinema, receber turistas estrangeiros, reduzir a força das imposições religiosas, receber estrelas pop e do esporte.
Após a morte de seu pai, deve se tornar o mais jovem, de longe, na dinastia saudita a ascender ao trono.
O novo premiê dessa potência regional petroleira é um interlocutor inevitável a nível internacional.
Antes da invasão da Ucrânia pela Rússia, em fevereiro, o reino saudita e o príncipe herdeiro em particular buscavam superar o isolamento diplomático imposto pela maioria dos países ocidentais desde o assassinato de Jamal Khashoggi, um crítico do poder saudita.
Logo após assumir o poder, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, suspendeu o sigilo de um relatório que indicava que MBS havia “validado” o assassinato, o que as autoridades sauditas sempre desmentiram.
Mas depois da invasão russa e do aumento dos preços da energia, Biden, o ex-primeiro-ministro britânico Boris Johnson e outros líderes ocidentais recorreram ao reino para tentar convencê-lo a produzir mais petróleo.
“Validar sua autoridade”
O anúncio saudita ocorre após a mediação de MBS na liberação pela Rússia e o transporte em 21 de setembro à Arábia Saudita de 10 prisioneiros de guerra, entre eles cinco britânicos e dois americanos.
Nomear o príncipe herdeiro como primeiro-ministro é uma decisão pouco comum, mas não inédita. Foi o que aconteceu com o príncipe herdeiro Fayçal na década de 1950.
Agora, porém, é diferente, pois se trata de “oficializar uma situação de fato”, declarou Ali Shihabi, analista saudita próximo ao governo.
Para Umar Karim, especialista em política saudita da Universidade de Birmingham, MBS “já passou pela fase de luta pelo poder e ganhou. O que ocorre agora é uma forma de validar sua autoridade”.
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