Lisboa — O Itamaraty, que vem sendo atacado dentro do governo por falhas no protocolo em viagens do presidente Jair Bolsonaro ao exterior, está em pé de guerra. Motivo: a constante interferência da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, em promoções e nomeações dentro da instituição com o intuito de favorecer sua auxiliar, a diplomata Marcela Braga.
Em junho deste ano, por determinação da primeira-dama, Marcela furou uma fila de 220 funcionários do Itamaraty e foi promovida ao cargo de conselheira. Agora, ela passou na frente de dezenas de colegas e ocupará o cargo de cônsul-geral em Orlando, nos Estados Unidos, a partir de janeiro de 2023. O consulado foi inaugurado há três meses para atender 120 mil brasileiros que vivem na cidade norte-americana, conhecida por abrigar parques temáticos, como o da Disney.
As regras de promoção e de nomeações do Itamaraty costumam ser rígidas. Preveem, por exemplo, que a ascensão na carreira siga o tempo de antiguidade, de forma a prestigiar aqueles que adquiriram mais conhecimento ao exercerem funções no país e no exterior. Quando há promoções, normalmente, os 70 primeiros da lista costumam ser premiados. Para cargos estratégicos, como o do consulado em Orlando, a seleção, em tese, é ainda mais rígida.
Os colegas de Marcela Braga no Itamaraty dizem que ela é esforçada, mas não tem estofo suficiente para comandar um consulado. Não ainda. Como conselheira, deveria ser a quinta na hierarquia do órgão que é responsável por resolver todas as pendências de cidadãos que vivem na região atendida. Os consulados são, para os brasileiros, mais importantes do que as embaixadas, cuja missão é mais política. No dia a dia, como a perda de um passaporte, quem resolve é o consulado.
“Portanto, nomear uma pessoa sem experiência para um cargo técnico e estratégico não é recomendável”, diz um diplomata brasileiro com longo histórico no Itamaraty. No geral, os consulados sempre tiveram uma imagem ruim, por atenderem mal os brasileiros que precisam de auxílio no exterior. Mais recentemente, houve uma virada administrativa em vários deles, onde a espera por um mero passaporte demorava até 10 meses.
Marcela Braga é a única assessora internacional de Michelle Bolsonaro. As duas ficaram muito próximas desde que a primeira-dama passou a viajar mais para o exterior com o presidente da República. Recentemente, a diplomata ganhou mais pontos com Michelle depois que o modelito que ela usou no funeral da rainha Elizabeth II foi elogiado pela elegância e discrição. “Essa prestação de serviço está longe de ser relevante dentro da carreira do Itamaraty”, complementa uma funcionária do alto escalão do Ministério de Relações Exteriores.
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