Ao menos dez pessoas morreram e quatro são consideradas desaparecidas nas tempestades violentas que caíram na madrugada desta sexta-feira (16/9) no centro da Itália, destruindo casas e ruas, uma tragédia que abriu o debate sobre as medidas a serem tomadas contra a mudança climática.
"Lamentamos dez mortos e quatro desaparecidos, mas infelizmente estes números vão mudar", anunciou o chefe de Governo, Mario Draghi, em coletiva de imprensa da pequena cidade de Ostra, na região de Marche, particularmente devastada.
"Foi assustador porque tudo aconteceu muito rápido. Era como o barulho de uma cachoeira, você podia ouvir o rio transbordando e subindo rapidamente", disse à AFP Laura Marinelli, advogada de 33 anos que mora em um prédio em Ostra e que foi resgatada com a filha de um ano no telhado.
Após sua chegada à região, Draghi declarou estado de emergência e concedeu uma ajuda imediata de 5 milhões para os primeiros socorros.
A uma semana das eleições legislativas, a tromba d'água que devastou várias cidades em poucas horas e que deixou mortos, desaparecidos e feridos, gerou um debate nacional pela ausência de alerta para o fenômeno inesperado.
"Caíram 400 mm de chuva em seis horas em uma área onde costuma cair 1.500 em um ano. Isso definitivamente está ligado à mudança climática e precisamos nos acostumar e nos adaptar. Este é o futuro, uma demonstração do futuro, precisamos construir a nossa resiliência", explicou à AFP Paola Pina D'Astore, da sociedade italiana de geologia ambiental.
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Entre os desaparecidos há um menino de seis anos que estava com sua mãe em um veículo. A mulher foi socorrida pelos bombeiros, mas a força da água levou o menino.
"O centro histórico de Cantiano não existe mais. A praça principal foi tomada pela força da lama que invadiu e destruiu os bares, a farmácia, as lojas, levando todos os móveis, tudo", disse Natalia Grilli, vice-prefeita de Cantiano, na região de Marche.
"O estado de degradação da nossa Casa Comum merece a mesma atenção que outros desafios globais, como as graves crises sanitárias e os conflitos bélicos", escreveu o papa Francisco em um tuíte nesta sexta-feira.
Vários meteorologistas consideram que esses fenômenos se multiplicarão por todo o país nos próximos meses devido ao verão anômalo e à extensa onda de calor, com temperaturas recordes de até 42 graus em meio à maior seca dos últimos 70 anos.
"Morreram pessoas e é por isso que hoje o interesse pela catástrofe climática é maior. O que queremos fazer com nossas vidas enquanto o Estado italiano não faz nada para reduzir emissões e evitar dezenas de milhares de mortes semelhantes nos próximos anos?" lamentou Michele Giuli, ativista do movimento ambientalista Última Geração.
"Isso se chama crise climática, não mau tempo", reagiu no Twitter a filial italiana do "Fridays for Future", movimento juvenil em defesa do clima, enquanto o presidente da Cruz Vermelha italiana, Francesco Rocca, reconheceu que "está preocupado com o aumento de eventos climáticos extremos" em toda a península.
Alguns prefeitos da região lamentaram que ninguém os avisou do perigo, enquanto o especialista Bernardo Gozzini, do Centro Nacional de Pesquisa, afirmou que este foi "um fenômeno impossível de prever".
A uma semana das eleições legislativas de 25 de setembro, muitos líderes políticos manifestaram seu apoio à região, incluindo Matteo Salvini, líder da Liga de extrema-direita, e Enrico Letta, do Partido Democrata (PD, centro-esquerda).
"Como deixar de pensar que a luta contra as mudanças climáticas não é prioridade", questionou Letta nas redes sociais.
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