À despeito da imagem de uma autoridade sem poder real, a Rainha Elizabeth II, falecida nesta quinta-feira (8/9), aos 96 anos, foi a representação máxima de uma das mais influentes nações do mundo durante período conturbado da política interna e externa no Reino Unido. Como chefe de Estado durante 70 anos, a monarca ficou marcada por uma postura diplomática e pela manutenção da Coroa Britânica diante de adversidades. Especialista ouvido pelo Estado de Minas aponta momentos em que a presença da rainha foi decisiva para a história.
Para o doutor em Ciência Política e professor de Relações Internacionais do Ibmec, Christopher Mendonça, para entender o papel histórico de Elizabeth II, é importante estar ciente do papel de influência econômica e cultural do Reino Unido na política internacional, especialmente na primeira metade do século XX. Nesse contexto, é coroada a rainha, em 1952.
“Elizabeth foi coroada em período de grande crise interna, porque seu pai havia morrido, e ela não estava preparada para herdar o trono. Seu pai, George VI também não deveria ter sido rei e assume porque o irmão abdicou. Ela foi muito importante nesse período e havia também atuado na II Guerra Mundial, como enfermeira”. relata.
O professor explica que, mesmo não sendo chefe de governo, o papel do monarca na Inglaterra tem relevância diplomática, já que representa a imagem externa do país.
“A monarquia constitucional tem uma diferenciação entre o chefe de Estado e o chefe de governo. O chefe de governo implementa as políticas públicas de uma forma geral, de saúde, de segurança. E essa capacidade é do primeiro-ministro. No entanto, cabe à rainha, a chefia do Estado. É a representação diplomática. A gente fala muito que a rainha da Inglaterra reina, mas não governa, e é verdade, porém ela é a representação máxima da diplomacia do país”, aponta.
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Pontos-chave na história
Para o professor Christopher Mendonça, três momentos podem ser recordados para entender como a rainha Elizabeth II atuou de forma relevante nos desdobramentos de eventos históricos. O primeiro deles é a Guerra das Malvinas, entre ingleses e argentinos em 1982.
“Nesse momento, em razão das ilhas que ficam próximas da América do Sul, houve um conflito entre Argentina e Inglaterra. A primeira-ministra Margaret Thatcher levou a guerra de forma bastante dura e a rainha Elizabeth foi crucial para que o país mantivesse relações que criaram vias diplomáticas para sair daquela situação”, aponta.
Para Mendonça, Elizabeth II também teve papel importante como mediadora das tensões durante a Guerra Fria. O cientista político aponta que o perfil diplomático da rainha conseguiu conter a escalada dos conflitos entre Estados Unidos e União Soviética durante boa parte da segunda metade do século XX.
“Foi um momento de grande tensão diplomática, e a rainha foi crucial tendo um papel central de equilíbrio dessa situação. Foi relevante para que não houvesse um confronto direto, um dos atores importantes na condução da política de não agressão. Ela conduziu diálogos entre União Soviética e Estados Unidos”, avalia.
Embora seu período como chefe de Estado tenha se iniciado na década de 1950, a rainha Elizabeth teve, na década atual, um dos momentos marcantes em sua trajetória, na avaliação de Mendonça. O professor explica que a popularidade construída pela monarca ajudou na condução da pandemia no Reino Unido.
“A rainha teve papel muito importante na pandemia da COVID-19. Embora ela tivesse de estar afastada de atividades presenciais, por conta da idade, foi muito forte em manter o país tranquilo, em tranquilizar as pessoas durante esse período. Principalmente se levarmos em consideração que o então primeiro-ministro Boris Johnson teve muita dificuldade na condução da pandemia”, disse.
O professor ainda avalia que a atuação da Rainha Elizabeth no processo de emancipação das nações que estavam sob domínio do Império Britânico descola sua imagem das críticas feitas aos abusos e violências da metrópole.
“Embora tenha havido críticas do ponto de vista da postura da Inglaterra, a rainha foi quem conduziu o processo de democratização desses países e conseguiu sua liderança, principalmente através disso. Ela visitou muitos desses países que compõem esse ciclo da Commonwealth, como a Índia e a África do Sul. Ela teve popularidade mesmo nesses países. Alguns deles mesmo depois da dissolução do império britânico mantiveram uma admiração à rainha, tanto que o Canadá foi um dos primeiros a manifestar pesar após sua morte”, conclui.
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