REALEZA

Colunista conta como foram os dois encontros com a Rainha Elizabeth II

"Meus olhos puderam, em duas ocasiões, comprovar a serenidade da soberana britânica Elizabeth II", escreveu a colunista do Correio Liana Sabo

Liana Sabo
postado em 08/09/2022 15:04 / atualizado em 08/09/2022 15:06
 (crédito: Arquivo CB/D.A Press)
(crédito: Arquivo CB/D.A Press)

Esta crônica foi publicada originalmente em 10 de junho de 2022

Sem qualquer pretensão ou falsa modéstia tomo emprestado o título do premiadíssimo filme dirigido por Walter Lang e interpretado por Yul Brynner e Debora Kerr, O Rei e Eu, baseado no musical que estreou na Broadway em 1950, apenas para lembrar que meus olhos puderam, em duas ocasiões, comprovar a serenidade da soberana britânica Elizabeth II.

Ainda criança, eu gostava muito de folhear revistas e desde os sete anos, lia pelo menos os títulos, de qualquer assunto que me chamasse a atenção. Como histórias de reis e rainhas, influenciada por uma amiga adulta, dona das coleções de O Cruzeiro e Manchete. Nelas tomei conhecimento dos preparativos que estavam sendo feitos na Casa de Windsor para a coroação daquela jovem e linda inglesa de cabelos escuros que, desde que seu pai George VI ascendeu ao trono, já sabia que seria a sucessora.

Com 15 anos de reinado, Elizabeth II e o príncipe Phillip realizam a primeira — e única — visita ao Brasil em 1968. Desembarcaram do iate real Britannia em Recife, onde interagiram com Gilberto Freyre e dom Hélder Câmara, rumaram para Salvador e lá, depois de três horas e meia de um rápido giro, que incluiu o Mercado Modelo, zarparam para o Rio de Janeiro. A bordo de um avião da RAF, em 5 de novembro, desceram em Brasília, onde se deu a visita de Estado, a começar pelo Palácio da Alvorada e sedes do Legislativo e Judiciário, depois de se instalarem no Hotel Nacional.

À noite, um memorável banquete no Itamaraty, seguido de recepção para mais de mil pessoas encerrou o primeiro dia da visita real a Brasília. Sempre sorrindo, a rainha de 42 anos encantou com sua aparente simplicidade as pessoas que a cumprimentaram. Foi no dia seguinte, durante a visita à Catedral, onde nós repórteres pudemos ficar mais próximos da rainha, que ainda esteve no Jardim de Infância da 308 Sul e na torre de televisão antes de partir para São Paulo e participar da inauguração do Masp.

  • Nesta foto tirada em 6 de setembro de 2022, a rainha Elizabeth II da Grã-Bretanha espera para se encontrar com o novo líder do Partido Conservador e o primeiro-ministro eleito da Grã-Bretanha no Castelo de Balmoral em Ballater, Escócia. - Os médicos da rainha Elizabeth II, de 96 anos, estão "preocupados" com sua saúde e "recomendaram que ela seja colocada sob supervisão médica" em seu castelo em Balmoral, na Escócia, disse o Palácio de Buckingham em 8 de setembro de 2022. Na avaliação desta manhã, os médicos da rainha estão preocupados com a saúde de Sua Majestade e recomendaram que ela permaneça sob supervisão médica. A rainha continua confortável e em Balmoral", disse o palácio em um breve comunicado. Jane Barlow/PISCINA/AFP
  • A rainha Elizabeth II da Grã-Bretanha e a nova líder do Partido Conservador e a primeira-ministra eleita da Grã-Bretanha Liz Truss se encontram no Castelo de Balmoral em Ballater, Escócia, em 6 de setembro de 2022, onde a rainha convidou Truss para formar um governo. - Truss assumirá formalmente o cargo na terça-feira, depois que seu antecessor Boris Johnson apresentou sua renúncia à rainha Elizabeth II. Jane Barlow/PISCINA/AFP
  • Uma placa com os dizeres "Nenhuma cerimônia de troca da guarda hoje" é exibida no pátio do palácio de Buckingham, no centro de Londres, em 8 de setembro de 2022. - Os medos aumentaram em 8 de setembro de 2022 para a rainha Elizabeth II depois que o Palácio de Buckingham disse que seus médicos estavam " preocupado" com sua saúde e recomendou que ela permanecesse sob supervisão médica. A chefe de Estado de 96 anos - a monarca mais antiga da Grã-Bretanha - tem sido perseguida por problemas de saúde desde outubro passado que a deixaram com dificuldades para andar e ficar de pé. Daniel LEAL/AFP
  • Multidões se reúnem do lado de fora do Palácio de Buckingham, no centro de Londres, em 8 de setembro de 2022. - Os temores aumentaram em 8 de setembro de 2022 pela rainha Elizabeth II depois que o Palácio de Buckingham disse que seus médicos estavam "preocupados" com sua saúde e recomendaram que ela permanecesse sob supervisão médica. A chefe de Estado de 96 anos - a monarca mais antiga da Grã-Bretanha - tem sido perseguida por problemas de saúde desde outubro passado que a deixaram com dificuldades para andar e ficar de pé. Daniel LEAL/AFP
  • Nesta foto de arquivo tirada em 02 de junho de 2022, a rainha britânica Elizabeth II está com o príncipe britânico Charles, príncipe de Gales, para assistir a um sobrevoo especial da varanda do Palácio de Buckingham após o desfile de aniversário da rainha. Daniel LEAL/AFP
  • Nesta foto de arquivo tirada em 5 de junho de 2022, a rainha Elizabeth II da Grã-Bretanha acena para a multidão da varanda do Palácio de Buckingham no final do Platinum Pageant em Londres como parte das celebrações do jubileu de platina da rainha Elizabeth II. - Os médicos da rainha Elizabeth II, de 96 anos, estão "preocupados" com sua saúde e "recomendaram que ela seja colocada sob supervisão médica" em seu castelo em Balmoral, na Escócia, disse o Palácio de Buckingham em 8 de setembro de 2022. Na avaliação desta manhã, os médicos da rainha estão preocupados com a saúde de Sua Majestade e recomendaram que ela permaneça sob supervisão médica. A rainha continua confortável e em Balmoral", disse o palácio em um breve comunicado. Frank Augstein / POOL / AFP
  • Rainha Elizabeth: fatos sobre a soberana no dia em que ela faz 96 anos Reprodução/Instagram
  • Rainha Elizabeth II comemora 70 anos de coroação em cerimônia íntima AFP
  • Rainha Elizabeth II Paul Edwards / POOL / AFP

Oito anos mais tarde, coube ao general Ernesto Geisel retribuir o gesto da Rainha Elizabeth, como o primeiro presidente do Brasil a visitar o Reino Unido, na primavera de 1976. Lá estava ela, aos 50 anos, recebendo ao lado do Duque de Edimburgo, na plataforma da Estação Vitória, a comitiva brasileira que desembarcara no aeroporto de Gatwick numa manhã ensolarada de maio e seguira de trem até Londres.

Deu tempo para a imprensa registrar os cumprimentos e se deslocar até o Palácio de Buckingham antes da chegada do cortejo que optou por carruagens como meio de transporte. A primeira e mais rica trazia o presidente e a rainha, que conversaram sem intérprete. Na sexta carruagem, vinham os presidentes do Senado, o piauiense Petrônio Portella, e da Câmara, o cearense Flávio Marcílio, que à ultima hora substituiu o líder do governo, José Bonifácio de Andrada. Zézinho, como era chamado o político mineiro, adoeceu de última hora e, até hoje, seu nome consta dos registros da Agência Nacional como se tivesse ido a Londres.

Nada foi mais hilário do que ver os dois nordestinos vestidos de fraque e cartola apeando da carruagem nos jardins de Buckingham, ponto final do desfile. Eles próprios mal se continham em risos diante dos fotógrafos. Naquela época de regime de exceção, eram os políticos as únicas fontes da imprensa.

Enquanto a comitiva percorreu muitos salões para chegar ao local previsto, os jornalistas atravessaram os porões do palácio numa extensa caminhada sombria que acabou no acesso ao primeiro piso do salão nobre. Mais uma vez, estive diante da rainha da Inglaterra, que segundo revela a biografia teria dito, ainda jovem, que queria ser como "a rainha da alegria". Aos 97 anos, tenho certeza de que Deus ouviu o seu pedido.

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