MEMÓRIA

Relembre a primeira e única visita que a família real britânica fez a Brasília

Em 1968, Brasília recebeu a rainha Elizabeth e o príncipe Philip. A colunista Liana Sabo relembra os principais momentos da passagem da realeza

Liana Sabo
postado em 08/09/2022 14:56 / atualizado em 08/09/2022 20:00
 (crédito: Arquivo Pessoal)
(crédito: Arquivo Pessoal)

Matéria originalmente publicada em 10 de abril de 2021, mas as datas do texto estão atualizadas

"Era uma noite de lua cheia, céu estrelado e temperatura elevada, ideal para os vestidos longos, ultradecotados, que foram a tônica preferida pelas elegantes da cidade”, escrevi há 53 anos e 10 meses, me reportando à recepção oferecida nos salões do Palácio dos Arcos (Itamaraty), na qual o príncipe Philip brilhou tanto quanto a Sua Majestade a rainha da Inglaterra Elizabeth II, na primeira e única visita ao Brasil, em novembro de 1968.

Do alto de seus 47 anos, o duque de Edimburgo causou frisson por onde passou, desde a visita ao Jardim da Infância da 308 Sul (modelo no ensino da nova capital), onde até as professoras se alvoroçaram junto de populares, que gritavam “Seu Filipe” até a Catedral. Em toda parte pediam autógrafos (era moda, antes da selfie), que ele, com um aceno, recusava.

Andando, sempre a dois passos, atrás da rainha, como exige o protocolo, o príncipe-consorte não teve qualquer compromisso individual. Nos dois dias que durou a passagem por Brasília, Philip foi visto em todas as ocasiões. Em seu rosto de límpidos olhos azuis, destacava-se o bronzeado obtido durante o périplo marítimo na costa brasileira.

  • Nesta foto tirada em 6 de setembro de 2022, a rainha Elizabeth II da Grã-Bretanha espera para se encontrar com o novo líder do Partido Conservador e o primeiro-ministro eleito da Grã-Bretanha no Castelo de Balmoral em Ballater, Escócia. - Os médicos da rainha Elizabeth II, de 96 anos, estão "preocupados" com sua saúde e "recomendaram que ela seja colocada sob supervisão médica" em seu castelo em Balmoral, na Escócia, disse o Palácio de Buckingham em 8 de setembro de 2022. Na avaliação desta manhã, os médicos da rainha estão preocupados com a saúde de Sua Majestade e recomendaram que ela permaneça sob supervisão médica. A rainha continua confortável e em Balmoral", disse o palácio em um breve comunicado. Jane Barlow/PISCINA/AFP
  • A rainha Elizabeth II da Grã-Bretanha e a nova líder do Partido Conservador e a primeira-ministra eleita da Grã-Bretanha Liz Truss se encontram no Castelo de Balmoral em Ballater, Escócia, em 6 de setembro de 2022, onde a rainha convidou Truss para formar um governo. - Truss assumirá formalmente o cargo na terça-feira, depois que seu antecessor Boris Johnson apresentou sua renúncia à rainha Elizabeth II. Jane Barlow/PISCINA/AFP
  • Uma placa com os dizeres "Nenhuma cerimônia de troca da guarda hoje" é exibida no pátio do palácio de Buckingham, no centro de Londres, em 8 de setembro de 2022. - Os medos aumentaram em 8 de setembro de 2022 para a rainha Elizabeth II depois que o Palácio de Buckingham disse que seus médicos estavam " preocupado" com sua saúde e recomendou que ela permanecesse sob supervisão médica. A chefe de Estado de 96 anos - a monarca mais antiga da Grã-Bretanha - tem sido perseguida por problemas de saúde desde outubro passado que a deixaram com dificuldades para andar e ficar de pé. Daniel LEAL/AFP
  • Multidões se reúnem do lado de fora do Palácio de Buckingham, no centro de Londres, em 8 de setembro de 2022. - Os temores aumentaram em 8 de setembro de 2022 pela rainha Elizabeth II depois que o Palácio de Buckingham disse que seus médicos estavam "preocupados" com sua saúde e recomendaram que ela permanecesse sob supervisão médica. A chefe de Estado de 96 anos - a monarca mais antiga da Grã-Bretanha - tem sido perseguida por problemas de saúde desde outubro passado que a deixaram com dificuldades para andar e ficar de pé. Daniel LEAL/AFP
  • Nesta foto de arquivo tirada em 02 de junho de 2022, a rainha britânica Elizabeth II está com o príncipe britânico Charles, príncipe de Gales, para assistir a um sobrevoo especial da varanda do Palácio de Buckingham após o desfile de aniversário da rainha. Daniel LEAL/AFP
  • Nesta foto de arquivo tirada em 5 de junho de 2022, a rainha Elizabeth II da Grã-Bretanha acena para a multidão da varanda do Palácio de Buckingham no final do Platinum Pageant em Londres como parte das celebrações do jubileu de platina da rainha Elizabeth II. - Os médicos da rainha Elizabeth II, de 96 anos, estão "preocupados" com sua saúde e "recomendaram que ela seja colocada sob supervisão médica" em seu castelo em Balmoral, na Escócia, disse o Palácio de Buckingham em 8 de setembro de 2022. Na avaliação desta manhã, os médicos da rainha estão preocupados com a saúde de Sua Majestade e recomendaram que ela permaneça sob supervisão médica. A rainha continua confortável e em Balmoral", disse o palácio em um breve comunicado. Frank Augstein / POOL / AFP
  • Rainha Elizabeth: fatos sobre a soberana no dia em que ela faz 96 anos Reprodução/Instagram
  • Rainha Elizabeth II comemora 70 anos de coroação em cerimônia íntima AFP
  • Rainha Elizabeth II Paul Edwards / POOL / AFP

O casal iniciou visita ao Brasil pela Bahia, a bordo do iate real Britannia, que aportou em Salvador para uma estada de três horas e meia antes de zarpar rumo ao Rio de Janeiro que, naquela época, se dizia Guanabara. Ainda na capital baiana, além do Palácio da Aclamação, onde ganhou um quadro do pintor Caribé, oferecido pelo governador Luís Vianna Filho, o casal real participou de um culto na Igreja Anglicana, visitou o Mercado Modelo e o Museu de Arte Sacra.

No Rio, onde o Britannia ficou ancorado, a rainha Elizabeth e o príncipe Philip embarcaram num avião da Royal Air Force, modelo Comet, que pousou na Base Aérea de Brasília, em 5 de novembro de 1968. Precisamente às 12h15, horário previsto no programa para a chegada, o comandante surgiu na porta da aeronave e consultou o relógio para se certificar da tradicional pontualidade britânica, mundialmente conhecida.

Começava ali o espocar dos flashes de centenas de fotógrafos. Comigo, guardo com saudades a lembrança dos colegas Alencar Monteiro, nos cliques, e de Donalva Caixeta, na apuração. Foi ela quem escreveu sobre a visita à escola: “Pena que não houvesse um intérprete para dizer à rainha como funcionava a escolinha, o que as crianças tentavam dizer, para fazê-la compreender o grau de simpatia e até mesmo de forte entusiasmo que ela despertou entre o povo brasiliense”.

Aplausos da rua

À noite, houve memorável recepção no Itamaraty, comandada pelo presidente Arthur da Costa e Silva, após um banquete mais restrito no qual o governante militar cometeu a única gafe que virou notícia. Durante o brinde, falou-se à mesa, naturalmente em inglês, que a rainha tinha uma particularidade muito grande com Brasília, pois aniversariava no mesmo dia da inauguração da cidade, 21 de abril. O general entendeu que era naquele dia e não teve dúvida, ergueu a taça e manifestou os parabéns à Elizabeth II, de 42 anos, na época.

Mais de quatro mil pessoas estiveram na recepção de salões lotados, mas nem todas conseguiram ver a rainha e o príncipe, que, acompanhados pelo presidente da República e dona Yolanda Costa e Silva, levaram quase uma hora para dar uma volta no salão e cumprimentarem a sociedade brasileira. Em certos momentos, o chefe do Cerimonial chegou a se irritar “com a aglomeração dos convidados, sobretudo dos fotógrafos”, escreveu Katucha em sua coluna diária no Correio, informando que “mesmo assim, o casal real chegou até a sacada do salão, recebendo uma calorosa salva de palmas da turma do sereno, a maior que já se encontrou até hoje em torno do mais belo Palácio do Brasil”.

Não se confirmaram, portanto, as previsões do colunista carioca Ibrahim Sued, que escreveu, em O Globo, temer pelas gafes que certamente seriam cometidas pela sociedade brasiliense. Nos salões, o que mais chamou a atenção dos convidados, além da simpatia do casal britânico, foram as joias da rainha. Elizabeth II, num gesto de apreço ao Brasil, usava justamente o conjunto de colar e brincos de águas marinhas, ofertado por Assis Chateaubriand, na época em que foi embaixador brasileiro junto à Corte de St. James, em Londres.

Chateaubriand havia morrido sete meses antes, em 4 de abril de 1968, mas os companheiros e comandados dos Diários Associados publicaram, durante a visita, um anúncio dizendo, “que pena, majestade, que ele não esteja mais aqui — para quebrar, desinibidamente, todos os protocolos...”. Chatô não pôde ver a inauguração do museu que leva o seu nome, na Avenida Paulista, justamente durante a única visita de Elizabeth II e do príncipe Philip ao Brasil, em 7 de novembro de 1968, a São Paulo.

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