A três anos do fim do prazo para o cumprimento das contribuições determinadas nacionalmente (NDCs) pelos 195 países signatários do Acordo de Paris, especialistas climáticos avaliaram as chances do cumprimento dos compromissos firmados pelas nações participantes. Os avaliadores afirmam que os Estados Unidos, segundo maior emissor de gases de efeito estufa do planeta, não conseguirão cumprir promessas feitas no tratado global.
Em 2015, data do acordo, os EUA haviam se comprometido a reduzir as emissões em 26% a 28% até 2025. Apesar de ser um valor baixo, os especialistas afirmam que o país corre o risco de não cumprir devido ao baixo investimento em estratégias para a redução, como financiar emissões limpas, o que está sendo feito por outras nações, como na Europa, considerada o país com maior chances de cumprir as promessas de mitigar as ações prejudiciais ao clima.
A análise foi feita por 829 especialistas diplomáticos e científicos que, há décadas, participam de debates sobre políticas climáticas em mais de 150 países, e compilada no estudo Determinando a credibilidade dos compromissos na política climática internacional, publicado nesta quinta-feira (1º/9) na revista Nature Climate Change.
Os especialistas integram, inclusive, os países signatários do acordo, porque, segundo o estudo, eles terão maior conhecimento das habilidades e do cenário político do país, o que impacta no cumprimento das promessas.
“O benefício deste conjunto de dados feito pelos especialistas é que eles têm o melhor conhecimento prático sobre as realidades políticas e administrativas de seu país de origem”, disse David Victor, professor de inovação industrial na Escola de Política e Estratégia Global da UC San Diego.
“É difícil obter informações empíricas sobre as leis e regulamentos nacionais e a política de mudanças climáticas em particular é altamente complexa. Para realmente avaliar o sucesso do Acordo de Paris, você precisa incorporar o julgamento, a intuição e a experiência daqueles com experiência no mundo real negociando essas políticas”, acrescentou.
Para os entrevistados, o desenrolar político foi o que prejudicou o avanço no cumprimento das promessas feitas pelos EUA. Em 2016, ano que passou a valer o acordo, Donald Trump virou presidente do país e, com uma política que ignorava o meio ambiente, pouco fez para tornar real a NDC. Um ano depois, o ex-presidente anunciou a saída dos EUA do acordo. A nação só retornou após a posse de Joe Biden, em fevereiro de 2021.
“De todas as respostas, está claro que os EUA estão claramente em apuros – mesmo com a recente Lei de Redução da Inflação sendo sancionada, o que aconteceu depois que nosso estudo terminou (o estudo foi feito entre setembro de 2020 e janeiro de 2021). Embora a legislação seja um grande passo na direção certa, ela não oferece o mesmo investimento que muitos outros países já comprometeram'”, explicou.
Europa e China são as que têm mais chance de cumprir promessas
Para os avaliadores, a Europa “assume a liderança com os compromissos mais fortes e também os mais credíveis”. Os especialistas afirmam que não apenas o governo estável da região pode permitir uma ação firme com os objetivos, mas também as promessas são consideradas de maior impacto em nível mundial, o que eles chamam de ambição.
A Europa também lidera na questão da credibilidade, quando a composição das metas estão definidas e mostra uma seriedade em tratar o problema. A região é seguida pela China, Austrália, África do Sul e Índia.
“Se espera que a China e outras não-democracias cumpram suas promessas não apenas porque muitas delas têm promessas menos ambiciosas, mas porque também têm sistemas administrativos e políticos que facilitam a implementação de políticas nacionais complexas necessárias para alinhar seus países com compromissos internacionais”, explica o autor sênior do estudo.
Além disso, a China está no caminho certo para atingir seus objetivos devido à desaceleração econômica do país. Os EUA e o Brasil vêm em último lugar na categoria credibilidade e penúltimos, depois da Arábia Saudita, em termos de ambição.
Agora, os pesquisadores afirmam que é preciso ter núcleos e métodos de verificação individual de cada nação para checar se as metas estão em rota de cumprimento ou não
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