REINO UNIDO

Os pubs britânicos 'ameaçados de extinção' por disparada na inflação

O alerta foi feito pelos diretores das seis das maiores cervejarias do país, que pediram "intervenção imediata do governo" nas altas contas de energia


Muitos dos tradicionais pubs do Reino Unido serão obrigados a fechar devido à atual onda de inflação no país, com aumento nos custos de energia de até 300%.

O alerta foi feito pelos diretores das seis das maiores cervejarias do país, que pediram "intervenção imediata do governo" nas altas contas de energia.

Os proprietários de pubs e cervejarias de seis empresas — JW Lees, Carlsberg Marston's, Admiral Taverns, Drake & Morgan, Greene King e St Austell Brewery — fazem parte do conselho da British Beer and Pub Association (BBPA).

Em uma carta aberta ao governo, eles pediram uma intervenção urgente, incluindo um pacote de apoio e a imposição de um teto para o preço da energia para as empresas. Eles dizem que sem apoio do governo a crise de energia provocará danos "reais e irreversíveis" ao setor.

A crise de preços ocorre num momento em que o número de pubs na Inglaterra e no País de Gales está em queda, tendo atingido o nível mais baixo já registrado — 39.970 em junho.

Simon Cleary, que dirige o pub Plough, em Great Chesterford, no condado Essex, disse que suas contas de gás e eletricidade quase triplicaram, indo para 35 mil libras por ano (R$ 207 mil).

Isso significa que o pub agora precisa gerar mais de R$ 10 mil em receitas por semana para cobrir os custos.

"Acho que vai ser muito difícil, a menos que haja intervenção do governo", disse ele à BBC.

BBC
Simon Cleary disse que seu pub precisa gerar receitas extras de R$ 10 mil por semana para pagar a conta de energia

Chris Jowsey, diretor da Admiral Taverns, empresa com 1,6 mil pubs, disse que seus pubs agora pagam mais em contas de energia do que em aluguel dos imóveis.

Ele disse à BBC que um de seus franqueados decidiu abandonar o pub depois de 20 anos devido ao aumento de 450% na conta de luz — um custo que ele não consegue repassar aos clientes.

Jowsey disse que a Admiral está investindo em equipamentos de economia de energia para adegas e tentando controlar o uso de energia de geladeiras. Ele também disse que a empresa está "analisando muito detalhadamente um plano para tentar comprar energia diretamente" no mercado, porém, acrescenta que "mesmo quando fomos ao mercado de energia nos últimos meses, ninguém estava inicialmente disposto a nos fornecer".

"Precisamos desesperadamente da intervenção do governo para ajudar porque, na verdade, o mercado está quebrado."

O Departamento de Negócios, Energia e Indústria disse que "nenhum governo" seria capaz de controlar os "fatores globais que pressionam o preço da energia e outros custos comerciais".

"Mas continuaremos apoiando o setor de entretenimento nos próximos meses", acrescentou um porta-voz. O governo disse que fornece um "alívio de 50% nos impostos de negócios para empresas em todo o Reino Unido, congelando impostos sobre cerveja, cidra, vinho e destilados, e reduzindo o seguro nacional do empregador".

Esperando o novo premiê

O governo disse que nenhuma política será anunciada até que o novo primeiro-ministro seja confirmado em 5 de setembro. Os políticos conservadores Rishi Sunak e Liz Truss disputam uma eleição dentro do Partido Conservador para suceder Boris Johnson, que renunciou ao cargo de primeiro-ministro no mês passado.

"Eu acho incrível que tenhamos que esperar que uma pessoa seja eleita antes de tomarmos algumas decisões e algumas políticas que protegerão não apenas os empregos, não apenas os meios de subsistência das pessoas, mas também suas casas — porque a maioria das pessoas que administram bares neste país moram na sobreloja do próprio pub", disse Jowsey.

Nick Mackenzie, diretor do Greene King — um dos maiores grupos de pubs do Reino Unido, com mais de 3,1 mil estabelecimentos — disse que sua empresa enfrenta "a perspectiva de pubs serem incapazes de pagar suas contas, com empregos sendo perdidos e pubs queridos em todo o país forçados a fechar suas portas".

Ele acrescentou que isso significaria que todo o apoio dado ao setor durante a pandemia "pode ter sido desperdiçado".

Na semana passada, o regulador de energia Ofgem disse que aumentaria o teto de preço das contas domésticas de energia em 80% em outubro.

Mas, ao contrário das residências, as empresas não são cobertas por um teto regulado de preço de energia, o que significa que suas contas subirão ainda mais.

Tim Martin, fundador da rede de pubs Wetherspoon, disse à BBC que sua empresa havia firmado acordos de energia até setembro de 2023.

Além da crise de preços, as cervejarias também temem uma possível escassez de dióxido de carbono (CO2), que é usado na produção de cerveja.

A CF Industries, a maior produtora de CO2 do Reino Unido, anunciou recentemente que interromperia temporariamente a produção em uma de suas fábricas porque o aumento dos preços da energia encareceu demais seus custos.

Andrew Taylor, diretor-gerente do pub Mr Fox, em Croydon, disse que o preço do óleo de cozinha triplicou e os custos dos alimentos estão "começando a subir demais".

Ele disse que seu negócio estava absorvendo muitos dos aumentos de preços, mas alertou que eventualmente teria que repassar os custos aos clientes.

"É incrivelmente preocupante", acrescentou.

Emma McClarkin, executiva-chefe do BBPA, alertou que o aumento das contas de energia pode causar mais danos ao setor do que a pandemia.

De acordo com um relatório, 400 pubs na Inglaterra e no País de Gales fecharam no ano passado e cerca de 200 fecharam no primeiro semestre de 2022, quando a inflação começou a afetar os lucros. Isso reduziu o número total de pubs ao menor nível desde que os registros começaram, em 2005.

- Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/internacional-62727690


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