Tragédia

Um terço do Paquistão submerso após chuvas mais intensas em três décadas

As chuvas começaram em junho e provocaram as inundações mais letais em mais de uma década: plantações vitais para a sobrevivência da população foram devastadas

Sukkur, Paquistão- As tarefas de emergência prosseguem nesta terça-feira (30/8) no Paquistão para tentar ajudar dezenas de milhões de pessoas afetadas pelas chuvas de monção mais intensas em três décadas, que inundaram um terço do país, provocaram as mortes de pelo menos 1.136 pessoas e causaram danos bilionários.

O ministro do Planejamento, Ahsan Iqbal, afirmou à AFP que o país precisa de mais de 10 bilhões de dólares para reconstruir as infraestruturas afetadas.

"Houve grandes danos à infraestrutura, em particular nas áreas de telecomunicações, estradas, agricultura e meios de subsistência", disse.

As chuvas começaram em junho e provocaram as inundações mais letais em mais de uma década: plantações vitais para a sobrevivência da população foram devastadas e mais de um milhão de casas foram totalmente destruídas.

As autoridades e organizações humanitárias tentam acelerar a entrega de ajuda às mais de 33 milhões de pessoas afetadas, uma a cada sete paquistaneses, mas a tarefa é complexa devido aos danos nas rodovias e pontes.

A ONU e o governo paquistanês, que decretou estado de emergência, fizeram oficialmente um apelo por 160 milhões de dólares para financiar a ajuda de emergência.

No sul e oeste do país, as pessoas desabrigadas procuram refúgio nas estradas e ferrovias elevadas para escapar da inundação.

"Não temos espaço nem para cozinhar nossa comida. Precisamos de ajuda", declarou à AFP Rimsha Bibi, uma estudante de Dera Ghazi Khan, no centro do Paquistão.

- Mudança climática -


A temporada de monção, que vai de junho a setembro, é essencial para irrigar as plantações e para reabastecer os recursos hídricos do subcontinente indiano.

Mas também inclui uma grande parcela de destruição e tragédias a cada ano, embora o país não registrasse chuvas tão intensas há três décadas.

O governo paquistanês atribui os fenômenos extremos à mudança climática e afirma que o país sofre as consequências das práticas irresponsáveis com o meio ambiente de outras regiões do mundo.

As chuvas que começaram em junho "não têm precedente em 30 anos", afirmou o primeiro-ministro Shehbaz Sharif ao visitar as áreas mais afetadas do norte.

Um terço do Paquistão está atualmente "debaixo d'água", declarou em entrevista à AFP a ministra de Mudança Climática, Sherry Rehman, que citou uma "crise de proporções inimagináveis".

"Tudo é um grande oceano, não há um lugar seco por onde bombear a água", disse a ministra Rehman, antes de ciar um custo econômico "devastador".

O número de vítimas pode ser ainda maior, porque as autoridades não conseguiram chegar a vilarejos isolados nas zonas montanhosas do norte do país. E no sul, o rio Indo, o mais importante do país, pode transbordar.

De acordo com o serviço meteorológico, o Paquistão registrou o dobro de chuvas do que era esperado.

Nas províncias de Baluchistão e Sindh, as mais afetadas no sul do país, as chuvas foram quatro vezes superiores à média dos 30 anos anteriores.

As inundações acontecem em um momento de grave crise econômica do Paquistão, que nos últimos dias recebeu ajuda humanitária da Turquia e Emirados Árabes Unidos. O país aguarda apoio do Canadá, Austrália e Japão.

Os preços de produtos básicos, incluindo cebola, tomate e grão-de-bico, dispararam pela falta de abastecimento nas províncias inundadas de Sindh e Punjab, os celeiros do país.

O Fundo Monetário Internacional (FMI) anunciou na segunda-feira a reativação de um programa de apoio financeiro vital para o Paquistão e a liberação de um pacote de 1,1 bilhão de dólares.

Por todo o país surgiram campos de deslocados improvisados em escolas, rodovias e bases militares.

No vilarejo de Nowshera, uma escola virou abrigo para 2.500 vítimas, afetadas pelo calor do verão e com pouca água e comida.

"Nunca pensei que um dia teria que viver assim", lamenta Malang Jan, de 60 anos. "Perdemos nosso paraíso e somos forçados a viver uma vida miserável", acrescentou.

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