Personalidades literárias de destaque como Paul Auster e Gay Talese se reuniram em Manhattan nesta sexta-feira (19/8) para uma leitura das obras de Salman Rushdie, em solidariedade com o escritor britânico, ferido gravemente a facadas há uma semana.
Mais de uma dezena de escritores aclamados, incluindo amigos e colegas de Rushdie, se reuniram nas escadarias da Biblioteca Pública de Nova York para o evento, que o romancista foi convidado a assistir do hospital.
Rushdie, de 75 anos, se recupera dos graves ferimentos sofridos na sexta-feira passada, quando um homem o esfaqueou repetidamente no pescoço e no abdômen antes do início de uma conferência na Chautauqua Institution, no norte do estado de Nova York.
No evento desta sexta, Talese, usando seu habitual chapéu de feltro e terno de três peças, leu um trecho do romance "A Casa Golden", enquanto o escritor irlandês Colum McCann leu o ensaio de 1992 de Rushdie para a New Yorker, "Out of Kansas".
McCann disse ao público, que exibia cartazes a favor da liberdade de expressão, que esperava ansioso pela recuperação de Rushdie e sua volta ao mundo literário.
"Ele sempre esteve à altura das circunstâncias", afirmou. "Penso que terá algo profundo a dizer".
Rushdie passou anos sob proteção policial depois que, em 1989, o aiatolá Ruhollah Khomeini, então líder supremo iraniano, emitiu uma 'fatwa' pedindo o assassinato do escritor por considerar blasfematória sua interpretação do Islã e do profeta Maomé em seu livro, "Os Versos Satânicos".
O romancista e jornalista britânico Hari Kunzru leu o início deste comentado livro de 1988 e ressaltou o pensamento de Rushdie.
"Salman escreveu uma vez que o papel do escritor é nomear o inominável, apontar as fraudes, tomar partido, iniciar discussões, dar forma ao mundo e evitar que adormeça", afirmou Kunzru. "É por isso que estamos aqui".
Saiba Mais
"Sustentar o céu"
O suspeito de agredir Rushdie, Hadi Matar, um americano de 24 anos residente em Nova Jersey, foi detido imediatamente após o ataque e entregue à polícia. Na quinta-feira, o jovem se declarou inocente das acusações de tentativa de homicídio e agressão que lhe foram atribuídas por um grande júri.
Depois do atentado, Rushdie, de 75 anos, foi levado de avião para um hospital próximo para uma cirurgia de emergência. Seu estado permanece grave, mas ele deu sinais de melhora e não precisa mais de respiração assistida.
"Nem sequer um punhal na garganta poderia sufocar a voz de Salman Rushdie", disse nesta sexta-feira Suzanne Nossel, diretora do braço americano da PEN, uma organização internacional que defende a liberdade de expressão e que foi anfitriã do evento em Manhattan.
"Salman falou por dezenas de escritores que têm sido perseguidos e atormentados, e não queriam que suas experiências terríveis sujeitassem suas identidades ou afogassem sua imaginação", afirmou Nossel.
O autor indiano Kiran Desai leu um trecho de "Quichotte", romance de Rushdie inspirado no clássico "Dom Quixote".
"Querido Salman e querida família de Salman: na semana passada, muitos de nós nos demos conta de que contávamos contigo para sustentar o céu", disse Desai antes da leitura.
"Espero que você saiba que também pode contar conosco. Estamos aqui para você e estaremos aqui por muito tempo".