O relógio marcava 23h24 (17h24 pelo horário de Brasília), em Khan Yunis, ao sul da Faixa de Gaza. A seis minutos da trégua acordada entre a Jihad Islâmica e Israel, as bombas caíam sobre o enclave onde 2,1 milhões de palestinos vivem em uma área de 365 quilômetros quadrados. "O cessar-fogo vigora a partir de agora. Sobrevivi novamente. Pude sobreviver a cinco agressões, quando a morte esteve tão perto", escreveu, no Twitter, às 23h30, Farah Baker, 24 anos, que ficou conhecida durante a guerra de 2014, quando, aos 16, relatou os bombardeios, pelas redes sociais.
O jornal The Jerusam Post divulgou que a trégua foi violada às 23h38 com o lançamento de foguetes em direção ao sul de Israel. Desde sexta-feira, cerca de mil projéteis foram disparados pelos palestinos. O acordo de trégua foi mediado pelo Egito, que prometeu agir em favor da libertação dos prisioneiros Basem Al-Saadi e Khalil Awawdeh. Durante os três dias de confrontos, 44 palestinos morreram, incluindo 15 crianças. Pelo menos 360 ficaram feridos. Foi a prisão de Saadi, líder da Jihad Islâmica na Cisjordânia ocupada, que deflagrou a nova escada de violência. A Jihad Islâmica divulgou nota em que afirmava se reservar "o direito de responder a qualquer (nova) agressão israelense".
Em Sderot, a 840m da fronteira com a Faixa de Gaza, o israelense Dov Trachtman, 30, confirmou ao Correio que quatro barragens de foguetes tinham sido lançadas contra a cidade do sul de Israel, nos primeiros 30 minutos da trégua. "Infelizmente, com base em experiências passadas, sabemos que organizações terroristas costumam manter os disparos, mesmo após o início do cessar-fogo", afirmou. "Eu estava em casa e tive dez segundoos para correr até um abrigo."
Trachtman disse que a Jihad Islâmica e o Hamas creem que Israel deve ser destruído. "Eles não têm problema em matar civis, mesmo nossas crianças, pelo fato de sermos judeus", comentou. "As duas organizações creem na profecia islâmica de que, no fim dos dias, será necessário varrer todos os judeus."
Morador de Al-Qarara, bairro de Khan Yunis, o professor Muhammad Smiry, 32, disse à reportagem que "muitas crianças foram mortas". "Os ataques pararam. Não se vê ninguém do lado de fora. Não há nada para celebrar. Temos sido massacrados", desabafou. (RC)