A campanha "O verão também é nosso", criada pelo governo espanhol para incentivar as mulheres a terem orgulho do próprio corpo e combater a gordofobia, teve repercussão mundial por promover a ideia de que "todos os corpos são de praia”. Entretanto, veio a público esta semana que as imagens utilizadas na campanha foram modificadas sem permissão das mulheres envolvidas. Uma das modelos, que usa uma prótese, teve uma perna incluída digitalmente na imagem.
A imagem traz a ilustração de cinco mulheres aproveitando a praia. A mulher sentada na areia, de biquini amarelo, que olha para trás é a modelo britânica Nyome Nicholas-Williams, que ficou sabendo de sua imagem na campanha por meio de um seguidor do Instagram. "Fiquei realmente surpresa porque nunca tinha visto isso antes", disse Nyome. "Não é uma foto de banco de imagens, é uma foto que tirei no meu Instagram. É rude e é desrespeitoso", completa.
Prótese retirada
Sian Green-Lord é outra modelo britânica que também teve sua imagem usada sem permissão na campanha "O verão também é nosso". Após Nyome ir a público falar sobre o uso indevido de sua imagem, seguidores de Sian também a reconheceram na campanha. Ela é a mulher deitada em uma toalha na areia, mas com uma diferença: sua perna mecânica foi substituída por uma perna normal na ilustração.
A modelo teve a perna amputada depois de ser atropelada por um táxi durante as férias em Nova York em 2013. Em um story em sua conta do Instagram, Sian desabafou sobre sua indignação. "Não sei nem como explicar a quantidade de raiva que estou sentindo agora. Uma coisa é usar minha imagem sem minha permissão. Mas outra coisa é editar meu corpo", afirma.
Sian também publicou que sua auto-estima está baixa e que a ansiedade está muito alta, relatanto que suas práticas de automotivação não estão tendo efeito no momento. "Minha perna não é nada para se envergonhar! É um produto de força, resiliência e independência", escreveu.
Pedido de desculpas
Após Nyome postar sobre o fato em suas redes sociais, a modelo foi contactada Arte Mapache, responsável pela ilustração da campanha, que justificou o uso da foto sem permissão pois estavam com pouco tempo para criar a arte, mas que iria recompensar o transtorno.
"Dada a - justificada - polêmica sobre os direitos de imagem na ilustração, decidi que a melhor maneira de reparar os danos que podem ter resultado de minhas ações é dividir o dinheiro que recebi pelo trabalho e dar partes iguais para as pessoas no pôster", disse Arte Mapache em seu pedido de desculpas nas redes sociais. Já o governo espanhol ainda não entrou em contato com as modelos.
Outros casos de propagandas que deram errado
Com as mudanças do mundo, o campo da publicidade tenta se adequar e evoluir. O empoderamento feminino é uma das mudanças que pressionam marcas a fazerem campanhas que represente a diversidade das mulheres, quebrar com estereótipos femininos ou com a objetificação da mulher. Entretanto, nem todas as campanhas são bem sucedidas.
A Dove, fabricante de produtos de cuidados com a pele, lançou uma edição limitada de embalagens para celebrar a diversidade dos corpos femininos em 2017. A linha era composta por sete embalagens em formatos que lembravam corpos femininos e suas curvas. Entretanto, a iniciativa foi amplamente criticada nas redes sociais e acusada de, ao invés de valorizar cada corpo, levar as mulheres a se sentirem mal consigo mesmas ao se comparar com as embalagens.
Também em 2017, a marca automotiva Audi veiculou uma propaganda na China que foi acusada de objetificar as mulheres. O vídeo mostra um casamento onde a mãe do noivo invade o altar, inspeciona diversas partes do corpo da noiva e depois dá um sinal positivo para o filho, quando então aparece a frase “uma decisão importante deve ser tomada com cuidado”, comparando a mulher a um carro.
Em 2015, a Protein World empresa de suplementos alimentares britânica, foi criticada por veicular uma campanha publicitária que mostrava uma mulher magra de biquíni e a frase "O seu corpo de praia está pronto?". Apesar dos cartazes terem sido removidos, a empresa divulgou uma nota na qual afirmou que as pessoas que protestaram estariam criticando aqueles que buscam se tornar mais saudáveis, mais fortes e em melhor forma.
A marca Victoria's Secret, famosa pelas lingeries e suas modelos chamadas de “angels”, por grande parte de sua história perpetuou a imagem do corpo feminino perfeito como magro e esbelto. Exemplo disso foi a propaganda de 2014 que mostra dez mulheres magras em roupas íntimas com a frase “o corpo perfeito” em destaque, dando a entender que qualquer corpo que não seja como o das modelos é imperfeito.
Em novembro de 2018, Ed Razek, responsável pelo marketing da marca, disse em entrevista à Vogue americana que Victoria’s Secret não tinha espaço para tamanhos plus size e nem para mulheres trans. A declaração foi muito criticada, e desde então a marca tem tentado promover a diversidade contratando modelos plus size, trans e com síndrome de Down, como é o caso de Remi Bader, Emira D’Spain, e Sofía Jirau, respectivamente.
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