A China anunciou nesta sexta-feira (5/8) que suspendeu a cooperação com os Estados Unidos em várias áreas-chave, incluindo clima e defesa, em retaliação à visita a Taiwan da presidente da Câmara de Representantes dos Estados Unidos, Nancy Pelosi.
A China executa enormes manobras militares ao redor de Taiwan desde quinta-feira, apesar da condenação dos Estados Unidos e de outros aliados ocidentais.
Nesta sexta-feira, o Ministério das Relações Exteriores da China atacou os Estados Unidos novamente, suspendendo as negociações e a cooperação em várias áreas, incluindo aquelas relacionadas ao combate às mudanças climáticas.
Os dois maiores poluidores do mundo se comprometeram no ano passado a trabalhar juntos para acelerar a ação climática, prometendo se reunir regularmente para "enfrentar a crise climática".
Pelosi, que também foi sancionada pela China por sua visita, defendeu a sua viagem a Taiwan e garantiu nesta sexta-feira que os Estados Unidos "não vão permitir" que a China isole a ilha.
Taiwan também condenou a resposta de Pequim à visita e o primeiro-ministro Su Tseng-chang pediu aos aliados que pressionem pela redução da tensão.
"Não esperávamos que o vizinho do mal mostrasse seu poder em nossos portões e colocasse arbitrariamente em perigo as rotas marítimas mais movimentadas do mundo com seus exercícios militares", disse Su à imprensa.
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"Nossa pátria é poderosa"
A China classifica os exercícios bélicos, que continuarão até domingo ao meio-dia (hora da China), como uma resposta "necessária" à visita de Pelosi.
Taiwan afirmou que 68 aviões de combate chineses e 13 navios de guerra cruzaram a chamada "linha mediana" do estreito que separa a ilha da China continental nesta sexta-feira.
A linha média é uma coordenada não oficial, mas geralmente aceita, entre as costas da China continental e as de Taiwan.
Jornalistas da AFP na ilha chinesa de Pingtan viram um caça sobrevoando a área. Os repórteres também observaram um navio militar chinês navegando pelo Estreito de Taiwan.
Os exercícios da China incluíram um "ataque de míssil convencional" na costa leste de Taiwan, segundo o exército chinês.
A emissora estatal CCTV informou que mísseis chineses sobrevoaram Taiwan, o que seria uma grande escalada se confirmado oficialmente.
Na ilha chinesa de Pingtan, turistas locais exaltaram orgulhosamente o poderio militar de seu país contra seu vizinho muito menor.
"Nossa pátria é poderosa. Não temos medo de uma guerra com Taiwan, com os Estados Unidos ou com qualquer país do mundo", disse à AFP Liu, um turista de 40 anos da província de Zhejiang.
"Escalada significativa"
O Partido Comunista Chinês considera Taiwan como parte de seu território e prometeu tomar a ilha um dia, inclusive pela força se necessário. Mas a escala e intensidade das manobras provocaram indignação dos Estados Unidos e outros países.
Essas manobras representam "uma escalada significativa", disse o secretário de Estado americano Antony Blinken, após reuniões com chanceleres de países do leste da Ásia no Camboja. Blinken considera que a visita de Pelosi "não justifica" as manobras iniciadas por Pequim.
O Japão pediu o "fim imediato" das manobras chinesas, após indicar que cinco mísseis teriam caído em sua zona econômica exclusiva (ZEE) e que quatro deles poderiam ter "sobrevoado a ilha de Taiwan".
A Austrália também descreveu as manobras militares como "desproporcionais e desestabilizadoras".
Os exercícios acontecem em algumas das rotas marítimas mais movimentadas do planeta, que transporta eletrônicos fundamentais de fábricas no Sudeste Asiático para os mercados mundiais.
O Escritório Marítimo e Portuário de Taiwan emitiu alertas para os navios que circulam nesta área e várias companhias aéreas internacionais disseram à AFP que desviariam seus voos para evitar o espaço aéreo da ilha.
"Fechar estas rotas marítimas - mesmo que temporariamente - tem consequências não apenas para Taiwan, mas também para os fluxos comerciais ligados ao Japão e à Coreia do Sul", disse Nick Marro, analista sênior de comércio global da Economist Intelligence Unit.
A hipótese de uma invasão de Taiwan, com 23 milhões de habitantes, é improvável. Mas, desde a eleição em 2016 da atual presidente, Tsai Ing-wen, as ameaças aumentaram.
Tsai, que ao contrário do governo anterior pertence a um partido pró-independência, se recusa a reconhecer que a ilha e o continente fazem parte de "uma mesma China".