A primeira-ministra da Finlândia, Sanna Marin, tornou-se conhecida por mais de dois anos por apresentar uma carreira política promissora e admirável, mas a trajetória foi ofuscada nos últimos depois que ela apareceu dançando em uma festa. Eleita aos 34 anos para o cargo, sendo na época a líder eleita mais jovem do mundo, Marin cresceu sem grandes esforços dentro do Partido Social Democrata da Finlândia, de centro-esquerda. Aos 27 anos, ela presidiu a Câmara Municipal de Tempere, a terceira maior cidade do país, e ganhou popularidade pela habilidade em mediar reuniões controversas e frequentemente acaloradas.
"O estilo com que ela gerenciou toda a situação rende bastante admiração", disse Johanna Kantola, professora de estudos de gênero na Universidade de Tampere, ao jornal The New York Times em uma reportagem de 2019. "Ela é muito centrada em políticas e nas questões públicas. Então, ela quer falar sobre políticas, não chamar a atenção para si mesma", acrescentou.
Dois anos depois, em 2015, Marin entrou para o Parlamento finlandês. O cargo de premiê foi assumido em 2019, em meio a um cenário turbulento no qual o então primeiro-ministro Antti Rinne renunciou por causa de críticas ao seu governo, acusado de manipular uma greve de trabalhadores. Até então, Marin ocupava o cargo de Ministra dos Transportes e Comunicações.
A escolha por ela chamou a atenção do mundo, pela pouca idade que tinha e também por liderar uma coalizão em que todos os quatro partidos eram liderados por mulheres - três das quais tinham, como ela, menos de 35 anos. Experiente em mídias sociais, Marin foi vista como uma renovação para o partido ao atrair uma base de eleitores mais jovem muito necessária e priorizar o combate às mudanças climáticas, a igualdade, sobretudo de gênero, e o bem-estar social.
Mais do que isso, ela se mostrou hábil em administrar as complicadas relações intrapartidárias exigidas pela política de coalizão da Finlândia, levando o grupo a concordar com um novo orçamento em abril de 2021 após negociações tensas. Elogios também foram feitos à administração rápida e decisiva durante a pandemia de covid-19 e, mais recentemente, por decidir que a Finlândia entraria na Otan - um alívio para muitos do país que passaram a temer a Rússia após o início da guerra na Ucrânia.
Segundo o jornal britânico The Guardian, Marin é conhecida entre jornalistas por ser bem preparada e rígida, raramente propensa a gafe. Em coletivas de imprensa, ela costuma fornecer informes detalhados sobre as principais áreas de interesse e esperar que todos leiam.
Essa postura, continua o Guardian, tem a ver com a sua origem: proveniente de uma família de baixa renda e com pais separados desde a infância, Sanna Marin passou a morar com a mãe e a trabalhar em uma padaria para complementar a renda. Mais tarde, passou a ser caixa para poder se matricular em uma universidade. Ela foi a primeira da família a ter um diploma superior.
Marin também se diz parte de uma família LGBT por ter crescido junto com a mãe, que, depois da separação, casou-se com uma mulher. "Isso era algo que não podia ser discutido", disse ela em uma entrevista para a revista finlandesa Me Naiset. "É só agora, no século 21, que o debate sobre as famílias do arco-íris começou a ser bastante aberto."
Aparições em público
Desde que se tornou premiê, não é raro ver Sanna Marin em eventos culturais, como festivais de música. A postura já lhe rendeu críticas positivas - quando foi chamada, por exemplo, de "primeira-ministra mais legal do mundo" - e negativas.
Antes do vídeo que viralizou na última semana, Sanna Marin já havia sido criticada por outra aparição pública, feita em dezembro de 2021. Exposta à covid-19, ela apareceu em uma boate de Helsinque ao lado de amigos. Dias depois, se desculpou do ocorrido.
Nesta semana, a premiê fez um teste de drogas (que deu negativo) depois da repercussão do vídeo. Marin inicialmente defendeu o direito de socializar fora do horário de trabalho, afirmando que havia bebido apenas moderadamente e que estava no escritório na manhã seguinte. Entretanto, a crise se agravou depois que fotos de suas amigas posando de topless na residência oficial vazaram.
Nesta quarta-feira, Sanna Marin se defendeu à beira das lágrimas e disse ter direito "à alegria e à vida". "Sou um ser humano. Às vezes também busco alegria, luz e prazer em meio a essas nuvens escuras", declarou, com a voz trêmula, durante um ato organizado por seu partido, o Partido Social Democrata (SPD), em Lahti, no sul da Finlândia.
Consequências políticas
Desde então, o debate público no país é tomado, por um lado, por opositores que a acusam de não ter postura de premiê e, por outro, de apoiadores denunciando misoginia no caso. De fato, não é a primeira vez que a Marin sofre críticas com caráter sexista. Em 2020, ela foi criticada por exibir uma foto em que estava sem sutiã sob um blazer preto.
As eleições gerais na Finlândia estão marcadas para o ano que vem e o partido dela aparece atrás da Coalizão Nacional, de centro-direita, nas pesquisas. Entre críticas e defesas, o que não se sabe ainda é se, a partir de agora, o que será julgado é o seu governo ou a sua conduta privada.
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