Estados Unidos

Congressistas solicitam dossiês confiscados na mansão de Trump

Congressistas solicitam dossiês confiscados na mansão do ex-presidente, em Mar-a-Lago, na Flórida. Advogados leais ao republicano tentaram acessar dados dos sistemas de votação em três estados-chave, em 2020

Rodrigo Craveiro
postado em 16/08/2022 06:00
 (crédito: Spencer Platt/Getty Images/AFP)
(crédito: Spencer Platt/Getty Images/AFP)

A pressão sobre o ex-presidente Donald Turmp se intensificou nos últimos dias, com a apreensão de documentos confidenciais em seu resort privativo de Mar-a-Lago, na Flórida, e com novas denúncias envolvendo a tentativa de manipulação dos resultados das eleições de 2020. O jornal The Washington Post divulgou que advogados aliados do magnata republicano providenciaram para que uma empresa de dados forenses acessasse os dados de sistemas de votação em condados de três estados-chave — Geórgia, Michigan e Nevada. A denúncia coincidiu com o fato de que Rudy Giuliani, ex-prefeito de Nova York e advogado de Trump, foi informado por promotores de que ele é alvo de investigação criminal na Geórgia. Giuliano foi identificado como figura-chave na tentativa de reveter a derrota de Trump para o democrata Joe Biden, no estado. 

Também ontem, o democrata Mark Warner e o republicano Marco Rubio — respectivamente, o líder e o vice-líder do Comitê de Inteligência do Senado — enviaram carta ao Departamento de Justiça e a autoridades do setor de inteligência, por meio da qual pedem acesso aos documentos retirados da residência de Trump. "O Comitê de Inteligência do Senado é encarregado de supervisionar assuntos de contrainteligência, incluindo a posse e o manuseio incorreto de informações confidenciais, que parecem estar no centro da busca em Mar-a-Lago", justificou Rachel Cohen, porta-voz de Warner.

O The Wall Street Journal noticiou que, nas 20 caixas confiscadas pelo FBI (a polícia federal norte-americana), havia pastas com fotografias e uma nota escrita à mão por Trump. Há suspeitas de que parte do material apreendido teria ligação com o arsenal nuclear dos EUA. 

O Comitê Judiciário da Câmara dos Representantes também pediu ao FBI e ao Departamento de Justiça para que preservem os documentos. No domingo, o ex-presidente tinha solicitado a devolução imediata das caixas. "Eu respeitosamente solicito que esses documentos sejam imediatamente devolvidos ao local de onde foram levados. Obrigado!", escreveu Trump na Truth, a rede social criada por ele.

Temperatura

Em entrevista à emissora Fox News, Trump disse que "a temperatura precisa ser reduzida no país". Ao mesmo tempo, tornou a denunciar uma "caça às bruxas" e advertiu que seus apoiadores "não aceitarão outro golpe". "As pessoas estão tão bravas com o que está acontecendo."

Para Mitchell Epner, ex-procurador federal e advogado na firma Rottenberg Lipman Rich P.C. (em Nova York), as suspeitas de que Trump tenha violado a Lei de Espionagem, ao se apossar de documentos oficiais e confidenciais, provavelmente não surtirão um processo contra o republicano. "Como a Lei de Espionagem tornou-se lei muito antes de o sistema de classificação de documentos ser implementado pelo ex-presidente Harry Truman, o status confidencial dos documentos não deverá ser relevante para um processo ou uma condenação sob essa legislação", disse ao Correio. 

No entanto, Epner não descarta uma punição contra Trump. "O fato de que o caso envolve documentos altamente secretos é algo muito importante. Isso significa que a sentença (se ele for processado, jugado e condenado) provalmente seria de 14 a 17 anos e meio de prisão", estimou. "O reconhecimento de padrões me diz que o ex-presidente Trump enfrenta uma ameaça muito credível de prisão, processo criminal e tempo de cadeia significativo."

Epner frisou que ficou claro, desde a noite das eleições de 3 de novembro de 2020, que Trump não aceitaria a derrota nas urnas. "Ele e seus simpatizantes usaram todos os meios à disposição, incluindo a tentativa de descartar centenas de milhares de votos, para tentar virar o resultado da votação a seu favor."

Professor de direito e de ciência política da Universidade de Yale, Bruce Ackerman afirmou ao Correio que é "perfeitamente óbvio que Trump se engajava em um esforço sistemático para reverter o resultado das eleições de 2020". "De fato, em várias ocasiões, Trump publicamente admitiu que essa era a intenção. Em contraste, será necessária uma investigação judicial muito elaborada para determinar se o tratamento dado por ele aos documentos confidenciais, na mansão de Mar-a-Lago, denota violação da Lei de Espionagem", comentou Ackerman. 

De acordo com o The Washington Post, uma equipe de especialistas em computação, sob as ordens de advogados aliados de Trump, copiou dados confidenciais de sistemas eleitorais da Geórgia. Ainda segundo o jornal, que coletou e-mails e outros registros, tudo teria sido feito dentro de um esforço secreto e multiestatal para acessar equipamentos de votação. A empresa contratada cobrava uma taxa de retenção inicial para cada trabalho — em um dos casos, chegou a US$ 26 mil. 

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Eu acho...

2018. Cr?dito: Arquivo Pessoal. Mundo. Mitchell Epner, advogado da firma Rottenberg Lipman Rich P.C. (em Nova York) e ex-procurador assistente para o Distrito de Nova Jersey (procurador federal).
2018. Cr?dito: Arquivo Pessoal. Mundo. Mitchell Epner, advogado da firma Rottenberg Lipman Rich P.C. (em Nova York) e ex-procurador assistente para o Distrito de Nova Jersey (procurador federal). (foto: Arquivo pessoal)

"Parece que o Partido Republicano está se unindo em torno do ex-presidente Donald Trump, com todos os seus possíveis rivais (como o governador da Flórida, Ron DeSantis) atacando o FBI e o Departamento de Justiça por realizar buscas em Mar-a-Lago."

Mitchell Epner, ex-procurador federal e advogado na firma Rottenberg Lipman Rich P.C. (em Nova York)

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação