Putin suspende inspeções americanas

Diplomacia russa alega que sanções ocidentais impostas após invasão à Ucrânia são empecilhos para a realização de averiguações de arsenais nucleares, previstas no Novo START. Moscou e Kiev trocam acusações sobre ataques à usina de Zaporizhzhia

Correio Braziliense
postado em 09/08/2022 00:01
 (crédito: DIMITAR DILKOFF)
(crédito: DIMITAR DILKOFF)

Por meio de um comunicado divulgado por sua chancelaria, a Rússia anunciou, ontem, que vai suspender inspeções americanas a instalações militares previstas no tratado Novo START, acordo estratégico entre Washington e Moscou para limitar os arsenais nucleares. A decisão foi anunciada em um momento de grande apreensão internacional devido à escalada das tensões envolvendo ataques à central nuclear de Zaporizhzhia, no sul da Ucrânia, ocupada por forças russas desde o início da guerra deflagrada contra o país vizinho, no fim de fevereiro.

Em nota, o ministério russo das Relações Exteriores informou que as instalações serão "temporariamente" isentas de averiguações. "A Federação Russa é obrigada a recorrer a essa medida (...) devido a realidades existentes que criam vantagens unilaterais para os Estados Unidos e que privam a Rússia do seu direito de realizar inspeções em território americano", explica o informe da diplomacia russa.

Entre os impedimentos, o governo de Vladimir Putin cita dificuldades de viagem e obstáculos aos vistos devido às sanções ocidentais impostas a Moscou por conta da invasão ao território ucraniano. O comunicado aborda ainda questões ligadas à pandemia da covid-19. Ficam, assim, livres momentaneamente de inspeções bases de lançamento e também instalações aéreas e navais onde estão implantados mísseis nucleares.

Apelo

Na semana passada, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, lançou um apelo a Rússia e China para conversas sobre controle de armas nucleares, afirmando que Moscou tem essa responsabilidade, especialmente, após a invasão da Ucrânia.

Em um comunicado, Biden explicou que seu governo está disposto a "negociar rapidamente" um texto em substituição ao Novo START. "A Rússia deve mostrar que está disposta a retomar os trabalhos sobre o controle de armas nucleares", ressaltou Biden na ocasião. "Mas a negociação requer um parceiro disposto a operar de boa-fé. E a agressão brutal e não provocada da Rússia na Ucrânia destruiu a paz na Europa e constitui um ataque aos princípios fundamentais da ordem internacional", completou.

A Rússia vem aumentando sua capacidade nuclear nos últimos anos, embora seu arsenal hoje seja muito menor do que o dos Estados Unidos e da China. Em várias ocasiões, Putin tem se gabado de novas armas invencíveis desenvolvidas pela Rússia. O chefe do Kremlin tem aproveitado os tradicionais desfiles do Dia da Vitória, que celebram o triunfo da União Soviética sobre a Alemanha nazista na Segunda Guerra Mundial, para exibir seu poderio militar.

Para Biden, Pequim tem o dever, como membro permanente do Conselho de Segurança da ONU, "de participar de conversas que reduzam o risco de um erro de cálculo e abordem a dinâmica militar desestabilizadora". O presidente americano defendeu que as potências nucleares — Rússia e Estados Unidos especialmente — têm a responsabilidade de marcar a pauta e assegurar o cumprimento do Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP).

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Ogivas limitadas


O tratado assinado em 2010 limita os arsenais das grandes potências a um máximo de 1.550 ogivas implantadas para cada. Isso representa uma redução de 30% em relação ao limite estabelecido anteriormente, em 2002. Em fevereiro de 2021, o pacto foi prorrogado por cinco anos, até 2026.

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