Taiwan

China suspende parceria com o governo dos EUA em cinco áreas

Em retaliação à visita da congressista Nancy Pelosi, China suspende parceria com os EUA em cinco áreas, inclusive no combate às mudanças climáticas, e cancela negociações no campo militar. Casa Branca reage e convoca embaixador de Pequim em Washington

Rodrigo Craveiro
postado em 06/08/2022 06:00
 (crédito: Hector Retamal/AFP)
(crédito: Hector Retamal/AFP)

Enquanto o Exército de Libertação Popular (ELP) prosseguia com exercícios militares sem precedentes em seis pontos ao redor de Taiwan, o Ministério das Relações Exteriores da China suspendeu a cooperação com os Estados Unidos em matéria de aquecimento global, repatriação de imigrantes ilegais, assistência jurídica em assuntos criminais, e combate a crimes transnacionais e a antinarcóticos. A decisão do governo de Xi Jinping surpreendeu os EUA, que convocaram o embaixador chinês, Qin Gang, para prestar explicações.

O porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, John Kirby, declarou ao jornal The Washington Post que autoridades da Casa Branca afirmaram a Qin que as recentes ações militares chinesas — que incluíram o disparo de mísseis sobre a principal ilha de Taiwan — foram "irresponsáveis e em desacordo com a meta de longa data dos EUA de manter a paz e a estabilidade" na região. Kirby pediu à China que interrompa as manobras bélicas e diminua os ânimos. "Os chineses podem fazer muito para reduzir as tensões cessando seus exercícios militares provocativos e baixando o tom", disse.

O ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, anunciou que seu país "suspenderá as negociações sino-americanas sobre a mudança climática" e cancelará um encontro entre dirigentes militares, assim como duas reuniões sobre segurança. Por sua vez, John Kerry, enviado especial do presidente John Kerry para o clima, advertiu sobre as consequências das medidas diplomáticas adotadas pela China. "A suspensão da cooperação não pune os Estados Unidos — pune o mundo, particularmente os países em desenvolvimento", afirmou o norte-americano.

Kerry classificou com "decepcionante e equivocado" o anúncio da suspensão "unilateral" do trabalho bilateral sobre o clima. "A crise climática não é um tema bilateral, mas universal. Não se trata de geopolítica ou de ideologia. Nenhuma nação deveria impedir o progresso em questões transnacionais existenciais por causa de diferenças."

Sanções

As retaliações à visita da presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, Nancy Pelosi, a Taiwan foram além. Um porta-voz da chancelaria chinesa afirmou que Pequim adotou sanções contra a congressista e seus familiares, "de acordo com as leis relevantes da República Popular da China". As medidas não foram detalhadas. Segundo o porta-voz, ao desconsiderar as graves preocupações da China, Pelosi insistiu na visita. 

O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, externou preocupação com o acirramento das tensões diplomáticas entre EUA e China. "Para o secretário-geral, não dá para resolver os problemas mais urgentes do mundo sem diálogo e cooperação efetiva entre os dois países", disse o porta-voz Stéphane Dujarric. 

A húngara Zsuzsa Anna Ferenczy — professora da Universidade Nacional Dong Hwa, em Hualien (Taiwan) —, lembrou ao Correio que as relações entre China e Estados Unidos eram dominadas por uma "rivalidade intensa e hostil" mesmo antes da visita de Pelosi. "Pequim está ciente de que, para Washington, garantir um papel de liderança na região do Indo-Pacífico é um objetivo estratégico, algo que Pequim também deseja para si, à sua maneira. A China quer ver o seu 'bairro' livre da influência norte-americana e, em vez disso, projetar o seu próprio. Nessa disputa por influência, Taiwan está no centro da competição", explicou. 

Segundo Zsuzsa, EUA e China percebem um ao outro como potências revisionistas no que diz respeito ao Estreito de Taiwan. "Pequim acusa Washington de apoiar a independência de Taiwan, algo que a Casa Branca rejeita. O governo de Joe Biden também insiste que tem o direito de cooperar com Taiwan", afirmou. Ela aposta que, na ausência de diálogo oficial e com os passos rumo à escalada dados pela China na região, a distância entre chineses e americanos tende a aumentar. "Eu espero uma escalada ainda maior por parte da China, que usará ampla gama de mistura e de táticas. Tudo isso é perigoso e desestabilizador. É difícil dizer o que, nesta fase, permitirá a desescalada e o retorno ao diálogo", concluiu a especialista húngara. 

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Eu acho...

 (crédito: Arquivo pessoal )
crédito: Arquivo pessoal

"Com base na retórica de longa data de Pequim sobre Taiwan como um tema inegociável e assunto estritamente interno, não me surpreende que a China lance mão de todas as táticas coercitivas com mais intensidade, inclusive a pressão econômica e militar. Pequim construiu toda a sua agenda de 'rejuvenescimento nacional' sobre a 'reunificação' com Taiwan, algo considerado absurdo, pois os chineses jamais governaram a ilha. Qualquer país comprometer-se com Taiwan é algo impensável para Pequim." 

Zsuzsa Anna Ferenczy, professora da Universidade Nacional Dong Hwa, em Hualien (Taiwan)

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