Os lucros recordes gerados pelos altos preços do petróleo e do gás como resultado da guerra na Ucrânia são "imorais" - denunciou o secretário-geral da ONU, António Guterres, nesta quarta-feira (3), pedindo "impostos extraordinários" sobre esses lucros.
"É imoral que as empresas de petróleo e gás obtenham lucros recordes com esta crise energética às custas das pessoas e das comunidades mais pobres", além de também terem um "custo enorme para o clima", disse Guterres por ocasião da publicação do relatório "Impacto Global da Guerra da Ucrânia: a crise energética", preparado pelo Grupo de Resposta à Crise Mundial (GCRG, na sigla em inglês).
"Peço às pessoas de todo mundo que enviem uma mensagem clara à indústria de energia fóssil e a seus financiadores: essa ganância grotesca está punindo os mais pobres e vulneráveis enquanto destrói nosso lar", insistiu Guterres.
Somente no primeiro trimestre do ano, esses lucros ascenderam a quase US$ 100 bilhões, lembrou o chefe da ONU, pelo qual exortou "todos os governos a taxarem esses lucros excessivos" e a usarem os fundos para apoiar os mais vulneráveis.
A guerra "sem sentido" na Ucrânia não apenas destruiu "milhões de vidas", ou colocou-as em risco, mas tem um "impacto enorme e multidimensional" no mundo, gerando uma crise alimentar, energética e financeira, particularmente nos países em desenvolvimento que lutam para superar os efeitos devastadores da pandemia da covid-19.
Segundo o Programa Mundial de Alimentos (PMA) da ONU, mais 47 milhões de pessoas, até um total de 345 milhões, sofrerão insegurança alimentar aguda, ou estarão em alto risco de sofrê-la em 82 países até o fim do ano."Devemos fazer tudo ao nosso alcance para acabar (com o conflito) por meio de uma solução negociada", pediu.
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Rebeca Grynspan, diretora da UNCTAD (organização da ONU para o comércio e desenvolvimento), lembrou em coletiva de imprensa que com o aumento da inflação, as importações "ficam mais caras e os preços internos aumentam mesmo que os preços internacionais caiam", e que, na sua opinião, é um "sinal da natureza interconectada da crise".
O relatório do GCRG divulgado hoje faz uma série de recomendações, que, na opinião de Guterres, pretendem alcançar, no campo da energia, o equivalente ao acordo para a exportação de cereais ucranianos, firmado entre Rússia, Ucrânia e Turquia sob a supervisão da ONU.
'Não há resposta para a crise energética'
Os autores pedem aos países desenvolvidos, grandes consumidores de energia, que reduzam a demanda, combatam o desperdício e acelerem a transição para as energias renováveis.
Pedem aos investidores privados e multilaterais que acelerem os investimentos para a transição para a energia verde, o que também permitiria preservar os objetivos do Acordo de Paris de conter o aquecimento climático.
"Assim como acontece com a crise alimentar, não há resposta para a crise energética sem uma resposta para a crise financeira dos países em desenvolvimento", garantem. O risco de que se percam gerações e se desmantelem os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, assim como as ondas de crise da dívida e o mal-estar social, "são muito reais", reforçam.
"Empreender as políticas energéticas corretas não deve ser um luxo ao alcance apenas daqueles que podem pagar", dizem os autores do relatório, alertando que "o mundo enfrenta uma crise que ocorre uma vez a cada geração".
"Os líderes e as instituições mundiais devem reconhecer e atender à urgência do momento", concluem os especialistas.
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