Durante a abertura da 10ª Conferência de Revisão das Partes do Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares, que se encerra em 26 de agosto, o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, advertiu que a humanidade está "a um erro de cálculo da aniquilação nuclear" e assegurou que a ameaça de um desastre atômico alcançou um nível jamais visto desde o fim da Guerra Fria. "As tensões geopolíticas atingem novos máximos. A competição supera a cooperação e a colaboração. A desconfiança substituiu o diálogo e a desunião substituiu o desarmamento. Os Estados buscam uma falsa segurança no armazenamento e no gasto de centenas de bilhões de dólares em armas apocalípticas que não têm lugar no nosso planeta", alertou.
Guterres lembrou que, enquanto os riscos de proliferação aumentam, as proteções para evitar uma escalada bélica sofrem uma redução. Ele citou que crises com conotações nucleares se inflamam no Oriente Médio e na Península Coreana, mas também destacou a invasão da Ucrânia pela Rússia como fator preocupante. "Tivemos uma sorte extraordinária até agora. Mas a sorte não é estratégia nem escudo para impedir que as tensões geopolíticas degenerem em conflito nuclear", declarou o secretário-geral. "Hoje, a humanidade está a um equívoco, a um erro de cálculo da aniquilação nuclear", acrescentou.
Às vésperas do 77º aniversário dos bombardeios atômicos contra Hiroshima e Nagasaki, Guterres admitiu que a combinação de "compromisso, juízo e sorte" evitou "o erro suicida de um conflito nuclear". EUA, França e Reino Unido divulgaram uma declaração conjunta, no primeiro dia da conferência, em Nova York, por meio da qual exortaram a Rússia a "interromper sua retórica nuclear e sua atitude irresponsável e perigosa" e denunciaram "a agressão não provocada e ilegal contra a Ucrânia".
Para Michael O'Hanlon, diretor de pesquisa e política externa do think tank Brookings Institution (em Washington), é preciso haver um equilíbrio entre pedir ação e não assustar as pessoas. "Eu não acho que estejamos a um erro de cálculo rotineiro da aniquilação nuclear. Mas, sim, acho que uma série de erros, acidentes e escaladas, em uma situação tensa, se malgerenciada, pode nos levar à beira de um grande perigo", afirmou ao Correio.
O'Hanlon disse que não espera muito da conferência para a revisão do TNP, ao considerar os atuais desdobramentos geopolíticos. "Quando um Estado nuclear (Rússia) acaba de atacar um Estado não-nuclear, que desistiu de suas armas atômicas três décadas atrás (Ucrânia), o clima não é bom para a causa da não-proliferação. O desafio, agora, é manter a linha e evitar retrocessos", disse.
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Eu acho...
"Não espero muito dessa conferência, considerando tudo o que está acontecendo no mundo. Quando um Estado nuclear (Rússia) acaba de atacar um Estado não-nuclear, que desistiu de suas armas atômicas três décadas atrás (Ucrânia), o clima não é bom para a causa da não-proliferação. O desafio, agora, é manter a linha e evitar retrocessos."
Michael O'Hanlon, diretor de pesquisa e política externa do think tank Brookings Institution (em Washington)
Irã afirna ter capacidade técnica
Mohammad Eslami, vice-presidente do Irã e chefe da Organização de Energia Atômica, garantiu que seu país detém a capacidade para construir uma arma nuclear, apesar de não planejar fazê-lo. "Como o senhor Kharrazi mencionou, o Irã tem a habilidade técnica para criar uma bomba atômica, mas tal programa não está em nossa agenda", declarou, ao citar Kamal Kharrazi, um conselheiro da mesma organização. Teerã tem reiterado que seu programa nuclear tem fins pacíficos, voltado para a produção de energia, mas o argumento não convence potências ocidentais.