IRAQUE

Após tomada de Parlamento, tensão cresce em protestos no Iraque

Milhares de manifestantes pró-Sadr voltam a ocupar o Parlamento, em nova recusa a aceitar o candidato a chefe de governo do Iraque. Políticos e representantes da Organização das Nações Unidas temem que a crise se agrave e ganhe as ruas de Bagdá

Três dias depois de ocuparem brevemente o Parlamento do Iraque, milhares de apoiadores do líder xiita Moqtada Sadr deflagraram, ontem, uma nova ação, sem data para acabar. Há 10 meses sem um novo presidente e primeiro-ministro nomeados, depois das eleições de outubro de 2021, o país está mergulhado em uma crise política. "A escalada em curso é profundamente preocupante", tuitou a Missão de Assistência da Organização das Nações Unidas (ONU) local.

Dentro do prédio, os manifestantes agitavam bandeiras iraquianas e retratos de Sadr, enquanto uma multidão protestava do lado de fora. Em um comunicado, os apoiadores do xiita afirmaram que manterão o ato "até novo aviso". O presidente do Parlamento, Mohamed Al-Halbusi, anunciou a suspensão das sessões legislativas e pediu aos populares que "preservem a propriedade do Estado".

A crise política no Iraque é total, à espera das nomeações, passado quase um ano das legislativas. Al-Sadr lançou uma campanha de pressão máxima contra seus adversários, rejeitando o candidato a chefe de governo. Os apoiadores do xiita se reuniram ontem no centro de Bagdá para denunciar a candidatura de Mohamed Chia al-Sudani a primeiro-ministro, por considerá-lo próximo do ex-ocupante do cargo Nuri al-Maliki, opositor de Al-Sadr.

Confronto

Antecipando o protesto, as forças de segurança fecharam vários acessos importantes da capital que levam à zona verde, onde estão localizadas instituições governamentais e embaixadas. Os agentes usaram gás lacrimogêneo e canhões d'água que não impediram os manifestantes de acessar as instalações do Parlamento. Segundo o Ministério da Saúde, 100 populares e 25 policiais ficaram feridos no confronto.

"Todo o povo está com você, Sayed Moqtada", gritavam os manifestantes, usando o título de descendente do profeta do Islã. "Não queremos corruptos e não queremos tentar o que já vimos" no poder, comentou o manifestante Haydar al-Lami. "De 2003 até agora, são os mesmos, não nos trouxeram nada, só prejuízos."

Na última quarta-feira, milhares de manifestantes invadiram o distrito e ocuparam brevemente o Parlamento para rejeitar a candidatura de Sudani, um ex-ministro de 52 anos e governador provincial. Ele é o candidato do Quadro de Coordenação, uma aliança de facções xiitas pró-iranianas que inclui o partido do ex-primeiro-ministro Nuri al-Maliki e representantes do Hashd al-Shaabi, ex-paramilitares integrados às forças regulares. A agremiação inclui alguns dos adversários de Moqtada Sadr, como Nuri al-Maliki.

Embora Sadr tenha decidido manter a pressão sobre seus oponentes, deixou para eles a tarefa de formar um governo. Em junho, fez seus 73 deputados — que representavam a maior força no Parlamento, com 329 integrantes — pedirem demissão.

"Continuar com a escalada (da crise) política aumenta a tensão nas ruas", lamentou o atual primeiro-ministro, Mustafa al-Kazimi, em comunicado. Na madrugada de ontem, os partidários de Sadr saquearam os escritórios do partido Daawa de Maliki em Bagdá, bem como as instalações da corrente Hikma, a formação política de Ammar al-Hakim, que também faz parte do Quadro de Coordenação.

Em pronunciamento na tevê, o Al-Kazimi, pediu aos blocos políticos que "se sentem para negociar e cheguem a um acordo". Hadi Al-Ameri, que lidera uma facção do influente Hashd Al-Shaabi, de ex-paramilitares pró-Irã, também pediu ao movimento pró-Sadr e ao Quadro de Coordenação para priorizar "a moderação, o diálogo e acordos construtivos para superar as diferenças".

Saiba Mais