Por duas horas e 17 minutos, os presidentes das duas maiores potências do planeta conversaram de forma franca sobre a situação de Taiwan, ilha capitalista e democrática considerada por Pequim como parte do território da China. "Aqueles que brincam com fogo perecerão nele. Espera-se que os Estados Unidos estejam atentos a isso", alertou o presidente chinês, Xi Jinping, ao colega norte-americano, Joe Biden. Xi ressaltou que Pequim "firmemente se opõe à secessão visando a independência de Taiwan e à interferência externa". "Nunca permitiremos qualquer forma de espaço para as forças da 'independência de Taiwan'. Ainda segundo Xi, a posição do governo e do povo chineses sobre Taiwan tem sido consistente. "A salvaguarda resoluta da soberania nacional e da integridade territorial da China é a firme vontade de mais de 1,4 bilhão de chineses", avisou Xi.
Apesar da advertência da China, Biden tratou de contemporizar e garantiu que não houve alteração na política norte-americana em relação a Taiwan. Os dois líderes acordaram organizar o que seria a primeira cúpula presidencial desde a posse de Biden — a conversa telefônica de ontem foi a quinta reunião virtual entre ambos. Sob condição de anonimato, uma funcionária do governo dos EUA informou que, durante a ligação, Biden e Xi "falaram sobre o valor de se encontrar pessoalmente". Segundo ela, as respectivas equipes começarão tratativas para decidirem sobre o momento certo para o encontro.
Em comunicado oficial, a Casa Branca informou que a conversa telefônica com Xi "foi parte dos esforços do governo Biden em manter e aprofundar as linhas de comunicação entre os EUA e a China e em gerenciar, de forma responsável, as diferenças, além de trabalhar as áreas em que os interesses se alinham". "Os dois presidentes debateram uma série de temas importantes para as relações bilaterais e outros assuntos globais e regionais, e encarregaram suas equipes de continuarem acompanhando a conversa de hoje (ontem), em particular para abordar as mudanças climáticas e a segurança sanitária", afirma a nota. "Sobre Taiwan, o presidente Biden sublinhou que a política dos Estados Unidos não mudou e que os EUA fortemente se opõem a esforços unilaterais para mudar o status quo ou minar a paz e a estabilidade no Estreito de Taiwan."
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Exibição de força
Sobrevivente do massacre da Praça da Paz Celestial, em 4 de junho de 1989, e opositor ao governo chinês, Fengsuo Zhou afirmou ao Correio que Xi apenas repete a retórica beligerante. "Trata-se de uma exibição de 'força' normal voltada para o público chinês. Especialmente agora, quando Xi consolida o próprio poder às vésperas da 20ª assembleia do Partido Comunista Chines", explicou. "Xi precisa exibir algumas 'façanhas' externas para justificar sua permanência no governo. A unificação de Taiwan é vista como um símbolo dessa ambição."
Para Fengsuo, a anexação de Taiwan sob a China comunista é um cenário impossível. "Basta olhar o que os chineses fizeram com Hong Kong. O povo taiwanês não seria escravizado. No futuro, creio que isso deveria ser decidido pela própria propulação de Taiwan", disse.
A mais recente fonte de atrito entre Estados Unidos e China envolve uma possível viagem de Nancy Pelosi, presidente da Câmara dos Representantes, a Taiwan. Pequim classifica a ida planejada da congressista norte-americana a Taipé como uma "provocação". O governo de Xi Jinping avisou que Washington terá que assumir "todas as consequências", caso a viagem realmente ocorra.
O general Marl Milley, chefe do Estado-Maior Conjunto dos Estados Unidos, admitiu a jornalistas que, se Pelosi solicitar "apoio militar", ele "fará o que for necessário" para garantir que a viagem ocorra com segurança.