Um pronunciamento recente do primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, provocou a ira de sobreviventes do Holocausto nazista e da comunidade internacional. Envergonhada pelo que chamou de "virada iliberal" do chefe de governo húngaro e por um "discurso nazista puro digno de Joseph Goebbells (ministro da Propaganda de Adolf Hitlter, entre 1933 e 1945)", Zsuzsa Hegedus, conselheira de Orbán por duas décadas, apresentou sua carta de demissão. O discurso de Orbán foi feito durante viagem à Romênia. "É por isso que sempre lutamos: estamos dispostos a nos misturar, mas não queremos nos tornar pessoas mestiças", declarou.
Ao abordar a decisão da União Europeia de reduzir a demanda de gás em 15% entre agosto de 2022 e março de 2023, a fim de diminuir a dependência da Rússia, Orbán afirmou: "Não vejo como isso será aplicado — embora, pelo que entendo, o passado nos mostra o know-how alemão sobre isso". Foi uma clara referência às câmaras de gás utilizadas pelos nazistas para dizimar milhões de judeus em Auschwitz e em outros campos de extermínio.
"O diabo do racismo, do ódio e do desejo de matar declara, abertamente, a teoria do hitlerismo, oito décadas depois de isso destruir tantos países, tantas cidades e milhões de pessoas. Tudo isso depois das câmaras de gás? Depois de Auschwitz?", desabafou ao Correio a polonesa judia Halina Birenbaum, 92 anos, que sobreviveu ao Gueto de Varsóvia e a Auschwitz. "Eu tinha entre 10 e 15 anos no Gueto de Varsóvia, nos campos de Majdanek, Auschwitz, Ravensbruck e Neustadt Gleve. Perdi minha família inteira lá, perdi tudo o que eu tinha. Agora, 80 anos depois, escuto o mesmo discurso? Eu me sinto horrível com isso. Estou ofendida e com medo", disse ela.
"Em Auschwitz, durante vários meses de 1944, vi trens com milhares de judeus húngaros levados até as câmaras de gás. Vi o fogo saindo de seus corpos. Até hoje sinto o cheiro de sua carne queimando! É mais do que terrível proferir palavras racistas no mundo e, especialmente, por parte do primeiro-ministro da Hungria", concluiu Halina.