Em uma fazenda no norte da Itália não muito longe do Mar Adriático, as plantações de Giampaolo Bassi estão enfrentando problemas.
"A água salgada está matando as plantas porque elas não suportam uma concentração tão alta de sal", diz Bassi, de 32 anos.
Ele puxa uma das plantas de aparência mais frágil: não há nada onde deveria ter amendoins pendurados na raiz.
Giampaolo já teve problemas com sal na água antes, mas a situação nunca ficou tão ruim como agora.
A região passa pela pior seca em 70 anos, resultado da falta de chuvas e de neve desde o período do inverno, além do aumento das temperaturas.
O rio Pó e seus afluentes são uma tábua de salvação para muitas comunidades agrícolas do norte da Itália.
Seu percurso tem 652 km, dos Alpes do sudoeste até o Mar Adriático. Mas as imagens anuais de satélite mostram que os trechos secos estão em expansão.
Um fluxo mais fraco, dizem os especialistas, está levando a água salgada do mar a penetrar mais para o interior do rio.
"Normalmente, a gente vê que a água do mar entra na foz do rio por alguns quilômetros", diz Paolo Ciavola, professor de Dinâmica Costeira da Universidade de Ferrara.
"Mas, no momento, os dados oficiais da Autoridade da Bacia do Pó mostram um ingresso de água salgada de até 30 km da foz."
O rio de água doce normalmente empurra seu fluxo para o mar, mas, diz o professor, "neste momento o rio está perdendo a briga, e a água salgada está mais forte."
"Essa água é usada para irrigação e, portanto, os agricultores podem sofrer enormes danos econômicos com isso".
Perto da pequena cidade de Sermide, na província de Mântua, os moradores se reúnem em um café do clube de barcos para beber e fumar.
Mas os pequenos barcos estão encalhados porque uma grande faixa do rio se tornou um banco de areia.
Neste ponto, o rio Pó se divide para ambos os lados de uma pequena ilha. É possível caminhar por ela, e esmagar a terra rachada. Olhando da varanda, os moradores dizem que o cenário não é normal.
Morador da região, o barista Sergio Bettoni diz que é a primeira vez que os barquinhos ficam completamente abandonados.
Sua esposa, Maria Grazia Lupi, diz que a vista a deixa desolada.
"Espero que o tempo mude e aos poucos o rio volte ao normal. É um desastre para todos, para as empresas daqui também."
Com a seca dos últimos meses, os destroços de um barco nazista afundado na Segunda Guerra Mundial e um veículo militar alemão apareceram na água.
As tropas nazistas foram empurradas para o norte do rio em 1945, quando os Aliados avançaram.
Sérgio aponta para os destroços de madeira da embarcação aparecendo na superfície. Segundo ele, o material ficou submerso desde a época da guerra.
Esta seca está expondo a história oculta do Pó.
Na zona rural na Lombardia e Emilio-Romagna, são visíveis as bombas pulverizando os campos. Em alguns pontos, o cenário verde é exuberante. Da mesma forma, o rio, aos olhos de um leigo, parece saudável em alguns lugares.
Mas estas são duas das cinco regiões onde o estado de emergência por causa da seca foi recentemente decretado pelo governo.
Cerca de 75 km a leste da cidade de Ferrara, vive o agricultor Giuliano Rolfini, de 67 anos.
Quando questionado sobre a seca, ele diz que está contando os dias desde a última chuva. "Moro aqui desde que nasci. Este é o pior ano de todos. O futuro é totalmente incerto."
Essa seca, juntamente com uma avalanche provocada pelo colapso de uma geleira nas montanhas Dolomitas, novamente acendeu o alerta sobre os efeitos das mudanças climáticas na Itália.
Giampaolo teme perder até um quarto do rendimento da família neste ano em sua plantação de amendoim.
Ele também cultiva outros produtos, e diz que por ora não teve grandes prejuízos, mas se preocupa com o futuro.
"Nosso medo é o aumento progressivo da presença de sal na água do rio, porque isso faz com que o solo fique árido. Está afetando cada vez mais nossa terra, está mais difícil de cultivar e a fazenda, menos produtiva", diz.
A chuva ajudaria a diluir os níveis de sal do rio, mas as previsões não são animadoras.
O professor Ciavola alerta que esse tipo de situação será comum no futuro com o acirramento das mudanças climáticas. A Itália e outros países terão de se adaptar, diz.
"Talvez seja preciso mudar o tipo de cultivo ou otimizar o uso da água de uma maneira melhor. Portanto, não é apenas uma estratégia de adaptação de curto prazo, mas de longo prazo."
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